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O Bitcoin e o festival Burning Man; Ligados pela mesma filosofia

Liberdade, independência, cooperação, ordem espontânea e ausência de governos em seu controle. Embora tais adjetivos sejam muito utilizados para definir o Bitcoin, eles servem também para um dos festivais mais famosos do mundo: o Burning Man.

E o tradicional encontro realizado no deserto do estado norte-americano de Nevada tem mais em comum com a maior criptomoeda do mundo do que os adjetivos citados acima.

Black Rock City: uma cidade construída sem planejamento

Com mais de três décadas de existência, o Burning Man ocorre anualmente nos Estados Unidos. Para a sua realização, todos os anos é construída a Black Rock City, uma cidade que reúne planejamento e ordem espontânea ao mesmo tempo.

A Black Rock é organizada inteiramente por voluntários e possui uma infra-estrutura especialmente planejada e desenhada, assim como serviços comunitários essenciais como emergência e segurança: apenas o necessário para garantir o funcionamento do Festival e a sobrevivência das pessoas. Embora a forma circular da cidade dê a intenção de um planejamento central, a aura do Burning Man é a celebração da liberdade e do recomeço.

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Além disso, a cooperação entre as pessoas é a marcar do festival. Dinheiro não é utilizado lá – apenas a troca de produtos. A colaboração entre as pessoas contribui para manter o festival em clima de paz durante a semana no qual é realizado. A polícia não atua no lugar e armas não são permitidas. Ainda assim, o clima de paz predomina até o último dia.

Semelhanças com o Bitcoin

Dessa forma, não é surpresa que cada vez mais entusiastas do ecossistema Bitcoin voltem os seus olhos para o Burning Man. Tanto o festival quanto o ethos do Bitcoin giram em torno da abertura para explorar novos modelos de governança com menos regras impostas por uma autoridade central.

Assim como a rede de criptomoedas, o Burning Man premia o comportamento honesto. Os adeptos de criptomoedas se reúnem com elaborados grupos no festival. Alguns deles são Camp Decentral, CampDAO (criado pela EOS) e Node Republic, todos oferecem seminários e palestras sobre blockchain como parte da programação do festival.

O empresário Jeremy Gardner já participou de quatro edições do Burning Man e deu palestras sobre a tecnologia blockchain nesses campos. Ele costuma passar algum tempo lá com o cofundador da Block.One e ex-membro do conselho da Bitcoin Foundation Brock Pierce (que agora está envolvido com o CampDAO).

“É um lugar para conversar sobre os conceitos que estão moldando nossa sociedade”, afirmou Gardner. “Eu desenvolvi um relacionamento mais próximo com as pessoas da comunidade de criptomoedas porque [Burning Man] é uma experiência de ligação tão incrível. Mas não era baseado em negócios; a tecnologia blockchain é, antes de tudo, um movimento social.”

De fato, há tanta sobreposição entre a comunidade de criptoentusiastas e o Burning Man. Gardner brincou que o mercado desacelerava durante o festival e anúncios da empresa dele geralmente eram feitos após o retorno do festival. No entanto, várias pessoas ainda demonstram preocupação com a possibilidade de estarem associados à reputação do Burning Man como um ambiente de drogas e libertinagem.

Crescimento conjunto

Assim como o mercado de criptomoedas, o Burning Man evoluiu dramaticamente na última década.

De acordo com os registros fiscais federais, a organização sem fins lucrativos Burning Man – que gerencia o festival – obteve US$3,7 milhões (após despesas) em 2017, após a aquisição do Fly Ranch por US$6,5 milhões em 2016. Espera-se que cerca de 70 mil pessoas se reúnam em Nevada para o festival este ano, que começou no último domingo, 25 de agosto, e irá até o dia 02 de setembro.

Outro crescimento foi a expansão internacional da “marca” Burning Man. Bear Kittay, ex-embaixador global do Burning Man, que ajudou a organizar o festival anual ao estabelecer uma organização sem fins lucrativos, gerou eventos globais menores e comprou propriedades, disse que o Burning Man ainda é geralmente dominado por pessoas que trabalham na indústria de tecnologia. Kittay é ele próprio investidor de Bitcoin e Ethereum, além de um investidor na startup EOS Block.One.

“É muito natural que Burning Man ajude a inspirar e gerar a próxima geração de líderes nesse sentido [da indústria de tecnologia]”, disse Kittay. “Essa ideia de um processo de consenso descentralizado, que cria uma alternativa aos bancos centrais e ao Estado-nação, é semelhante ao Burning Man. Eu acho que tem um monte de gente da comunidade Ethereum, EOS e de todo o mundo.”

John Clippinger, autor do livro From Bitcoin to Burning Man and beyond, afirmou que podem haver lições que a evolução do festival pode oferecer ao movimento de descentralização das criptomoedas.

“Havia algo no ar, toda a ideia de comunidades autônomas e auto-organizadas”, disse Clippinger, descrevendo os primeiros dias de ambos os fenômenos, acrescentando:

“O desafio de projetar essas comunidades é como mantê-las abertas, eficazes e capazes de escalar, mas também para manter essa diversidade e resistência ao controle de pessoas com interesses especiais.”

Criptomoedas em Bloack Rock

Clippinger disse que em 2015 houve uma discussão entre os organizadores do festival sobre o uso de criptomoedas como parte da experiência do Burning Man. (Dinheiro vivo e outras formas de dinheiro não são permitidas para pagamentos nos acampamentos. No entanto, a principal organização sem fins lucrativos do festival aceitou doações via Bitcoin em 2014).

“Eles tiveram um período para analisar especificamente essa possibilidade, mas havia muita hostilidade em relação à ideia hiper-libertária (sic) do Bitcoin”, disse ele.

Eventualmente, até a ideia de criar um token único do festival foi considerada muito controversa para um festival centrado em uma economia de trocas diretas. Com o falecimento do cofundador do festival Larry Harvey em 2018, Clippinger disse que a comunidade entrou em uma fase de transição que poderia determinar o futuro do Burning Man.

“Eles vão transformá-lo em um negócio ou manter o mesmo espírito?”, se perguntou Clippinger. “Quando começa a se solidificar, é capturado por partes com certos interesses. Acho que ainda está no ponto de exploração.”

Independentemente de aceitar criptomoedas, o fato é que o Burning Man e o Bitcoin compartilham muito dos ideais de liberdade e descentralização. Que esse espírito continue a se manifestar, do deserto até a tecnologia moderna.

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Luciano Rocha

Luciano Rocha é redator, escritor e editor-chefe de newsletter com 7 anos de experiência no setor de criptomoedas. Tem formação em produção de conteúdo pela Rock Content. Desde 2017, Luciano já escreveu mais de 5.000 artigos, tutoriais e newsletter publicações como o CriptoFácil e o Money Crunch.

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