BIP 119: conheça atualização mais polêmica do Bitcoin desde o SegWit

A implementação do Segregated Witness (SegWit), uma das mais importantes atualizações na rede do Bitcoin, completará cinco anos em agosto. Visto como fundamental para ampliar a escalabilidade da rede, o SegWit foi fruto de um enorme debate.

De fato, a discussão ao redor da então nova tecnologia quase destruiu a rede do BTC. Mesmo assim, o consenso venceu e o BIP 141 – que trazia o SegWit – foi implementado com sucesso.

Mas quase cinco anos depois, uma nova atualização volta a causar polêmicas e divisões na comunidade. Desta vez trata-se do BIP 119, que pode fornecer novos casos de uso para o BTC, entre eles o suporte a contratos inteligentes na blockchain.

Quais são as polêmicas por trás da nova atualização e o que pensam os apoiadores e contrários ao BIP 119? E quais os riscos que ele pode trazer para o funcionamento da rede do BTC?

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BIPs e melhorias

Em primeiro lugar, cabe uma explicação de como funcionam as atualizações no BTC. Quem deseja lançar alguma melhoria no código não pode simplesmente fazer isso do nada. Antes, é preciso enviar uma Proposta de Melhoria do Bitcoin – ou BIP, na sigla em inglês. Cada BIP possui um código próprio, como o já citado BIP 141 (SegWit).

Qualquer membro da comunidade pode enviar uma BIP através do GitHub do Bitcoin Core, mas as propostas devem ser analisadas pelos desenvolvedores. De forma resumida, as BIPs seguem para votações entre os nós e mineradores e, se for aprovada, é implementada na blockchain.

O SegWit seguiu este mesmo caminho até sua aprovação, e o BIP 119 está no começo dessa jornada. A proposta foi sugerida pelo desenvolvedor Jeremy Rubin em 2020, mas começou a ganhar visibilidade a partir do final de 2021.

Isso porque em novembro daquele ano, o BTC recebeu mais uma atualização, intitulada Taproot, que trouxe novas atualizações. Uma dessas melhorias foi o aprimoramento da capacidade do BTC em suportar contratos inteligentes – e é aqui onde entra o BIP 119.

Contratos melhores

Desde sua criação, o BTC tem sido criticado por causa de um suposto “excesso de simplicidade” em seu funcionamento. De acordo com esta corrente, o BTC é revolucionário por ter sido o primeiro caso de uso de uma criptomoeda funcional, mas está perdendo espaço para outros concorrentes.

Esta perda de espaço é causada pelas limitações do BTC, que em essência faz apenas uma função: mover valor. Em contrapartida, a rede seria extremamente limitada no desenvolvimento de outras funcionalidades, como a criação e execução de contratos inteligentes.

Atualmente, a função de impor esses “contratos inteligentes” no Bitcoin existe – foi implantada após a atualização “taproot”. Só que ela é limitada ao nível básico de transações e não serve para operações mais complexas.

Dinheiro programado

Para expandir as funcionalidades do BTC, Rubin introduziu o BIP 119. A atualização traz como principal novidade o conceito de Covenant. De forma geral, a atualização permitiria que os programadores controlem como os BTC podem ser gastos no futuro. Ou seja, fará do BTC um dinheiro mais fácil de ser programável.

Por exemplo, o Covenant permitira colocar em lista branca ou lista negra determinados endereços, restringindo onde o BTC pode ser gasto. Dessa forma, os endereços em questão não poderiam enviar ou receber BTC mesmo para a pessoa que tem a chave dessas carteiras.

Como o Covenant torna a criptomoeda programável, essa funcionalidade teria espaço amplo de manobra. Um usuário poderia utilizá-la não apenas para transação seguinte, mas transações futuras.

Portanto, a atualização poderia fazer alguns endereços serem sancionados e impedidos de enviar ou receber fundos. O BIP 119 também poderia associar carteiras a usuários, o que acabaria com parte do anonimato que hoje existe no BTC.

A forma como a atualização pode ser implementada também gerou dúvidas e críticas na comunidade. Foi sugerida a implementação via teste rápido (Speedy Trial), na qual se 90% dos blocos durante um período de ajuste de dificuldade sinalizassem a aprovação, o BIP 119 seria implementado. Contudo, o período de ajuste de dificuldade é de apenas 2016 (aproximadamente duas semanas).

Para se ter uma ideia, a decisão a respeito do SegWit levou várias semanas. A maioria dos críticos questionou a pressa e disse que isso poderia trazer um risco para a rede. A forma de ativação também coloca a decisão diretamente nas mãos dos mineradores, ignorando totalmente os nós.

Críticas a nova atualização

Assim que o BIP 119 ficou conhecido, vários nomes famosos criticaram a atualização de várias maneiras. Uns apontaram problemas no BIP em si, ao passo que outros questionaram a forma como ele seria implementado.

Para Andreas Antonopoulos, o resultado é taxativo: se implementado no modelo atual, o BIP 119 pode “matar o Bitcoin”. Antonopoulos teme que a atualização transforme a rede em “um grande PayPal, só que mais ineficiente”, e disse que o BIP 119 pode criar duas classes da criptomoeda.

“Isso significa que o Bitcoin não é mais fungível. Você criou duas categorias de Bitcoin, um que pode ser enviado a qualquer pessoa, outro que pode ser enviado apenas para uma lista específica de endereços.”

Para Marco Jardim, diretor de tecnologia blockchain da Investtools, o risco de danos à blockchain principal deve ser considerado. Jardim defende que a atualização deveria ser implementada em camadas de testes, secundárias, para só depois funcionar na blockchain principal.

“Esse upgrade quebraria algumas regras de construção de endereço, obrigando todos os desenvolvedores da rede a criarem um código extra, uma espécie de remendo, para interpretar as novas regras, o que a longo prazo não se sustentaria”, disse.

Todavia, o executivo destacou que Rubin está aberto às críticas e se dispôs a debater a BIP 119 de maneira mais aberta. O desenvolvedor chegou a sugerir um debate com Antonopoulos para discutir as eventuais mudanças trazidas pela BIP 119.

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Luciano Rocha

Luciano Rocha é redator, escritor e editor-chefe de newsletter com 7 anos de experiência no setor de criptomoedas. Tem formação em produção de conteúdo pela Rock Content. Desde 2017, Luciano já escreveu mais de 5.000 artigos, tutoriais e newsletter publicações como o CriptoFácil e o Money Crunch.

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