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Você pode confiar no blockchain… mas você confia em si mesmo?

Reflexões decorrentes do episódio envolvendo a corretora canadense de criptomoedas QuadrigaQx

O problema da custódia de criptoativos

Criptoativos foram criados para serem transacionados diretamente, sem intermediários. No jargão popular:

“Com criptomoedas, você é seu próprio banco”.

Quem possui criptomoedas é quem deve custodiá-las e, para isto, recebe uma chave privada para “manter a segurança”. Mas o que significa “manter seguro”?

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Quem protege sua chave de hardware? Onde você a guarda?

É aqui que rapidamente você se dá conta de que “ser seu próprio banco” pode ser mais complexo e muito mais perigoso do que você imaginou.

Você pode confiar no blockchain, mas você pode confiar em si mesmo?

Descentralização e a persistência no uso de serviços centralizados

Dez anos depois do Bitcoin ter sido lançado com a premissa de desintermediação do sistema financeiro, as corretoras de criptomoedas “centralizadas” (também conhecidas por exchanges) ainda mantêm grandes quantidades de criptomoedas em nome dos usuários.

A Coinbase, por exemplo, possui aproximadamente US$5 bilhões em criptocorrência sob sua gestão – 5% de todo o Bitcoin, 8% de todo o ethereum e 25% de todo o Litecoin em circulação.

Ora, tal é um problema, dado que exchanges “centralizadas” acabam se tornando o ponto central de falha que as criptomoedas tentam eliminar.

Realmente é reconfortante contar com a segurança de uma empresa estabelecida, mas …. você realmente pode confiar em um serviço centralizado? E se eles forem hackeados ou proibidos pelas autoridades? (como já ocorreu na China).

Se você acha que suas criptomoedas estão melhores com uma exchange, é melhor pensar duas vezes.

O recente episódio envolvendo a corretora canadense QuadrigaCX, e a morte de seu fundador e CEO, Gerald Cotten, é um belo exemplo de como criptomoedas custodiadas pela corretora podem ficar inacessíveis para sempre e causar prejuízo aos clientes.

Isto porque, conquanto a viúva Jennifer Robertson tenha o laptop do seu falecido marido e fundador da corretora, a carteira digital onde o de cujus Cotten armazenava as criptomoedas é criptografada e, a senha e a frase de recuperação foram com Cotten para o túmulo.

Neste contexto, extrai-se que:

Confiar em terceiros centralizados é contraintuitivo ao espírito de todo o ecossistema das criptomoedas.

Vejamos, então, exemplos de novas soluções criadas “fora da caixa”,  desenvolvidas mundo afora.

Soluções que incorporem uma mudança de parâmetro tornam-se cada vez mais urgentes

As DEXs

A primeira delas é o desenvolvimento de exchanges peer-to-peer (P2P) – corretoras não-custodiantes e descentralizadas (DEXs) em que os usuários estão na posse de suas próprias chaves privadas. Mesmo se uma DEX fosse hackeada, os usuários não perderiam nada.

As exchanges descentralizadas, contudo, ainda não conseguiram ganhar tração até agora. A falta de liquidez, assim como as restrições ao blockchain, estão entre as razões pelas quais os DEXs ainda não decolaram.

Multi-signature private keys

A assinatura múltipla (multisig) é uma forma de tecnologia usada para adicionar segurança às transações de criptografia.

Endereços de assinatura múltipla exigem que outro usuário ou usuários assinem em uma transação antes que ela possa ser transmitida para a cadeia de blocos.

Para entender melhor como uma assinatura múltipla funciona, nada melhor que um exemplo. Imagine que André quer pagar Liam com criptomoedas. Ele envia uma transação para um endereço de assinatura múltipla, que exige pelo menos duas assinaturas de um grupo de pessoas: “André, Liam e Catarina” para resgatar o dinheiro.

Se André e Liam discordam sobre quem deve receber o dinheiro (André quer um reembolso, enquanto Liam acredita que ele cumpriu suas obrigações e exige o pagamento), eles apelam para Catarina. Catarina concede sua assinatura a André ou Liam, para que um deles possa resgatar os fundos.

Se a QuadrigaCX custodiasse as criptomoedas de seus clientes utilizando uma carteira multisig, não correria o risco de perder os criptoativos de seus clientes para sempre. Em uma carteira de assinatura múltipla comum utiliza-se três chaves no total, mas exige-se apenas duas chaves para assinar transações com criptoativos. Sendo assim, a morte do fundador e CEO da QuadrigaCX não impediria o acesso às criptomoedas custodiadas pela corretora, eis que outras duas pessoas da corretora poderiam acessar a carteira multisig.

Arwen – uma rede Lighting Network para negociação de criptomoedas

A startup de Boston Arwen, fundada em 2017,  está desenvolvendo um software que permite aos usuários manter a custódia de moedas enquanto negociam em uma exchange centralizada. Aqui, em vez das transações serem peer-to-peer (ponto-a-ponto, transações diretas entre pessoas), a Arwen construiu um sistema mais parecido com o peer-to-exchange.

Essa solução nasceu da percepção de que era necessário construir um sistema que permitisse aos usuários negociar em corretoras centralizadas sem confiar nelas. Arwen é um protocolo de blockchain na segunda camada (Layer 2) semelhante ao da Lightning Network.

Takeaway

O futuro trará novas soluções onde a confiança pode ser redefinida e programada graças à matemática, à descentralização e à criptografia.

O que a indústria blockchain e de criptoativos precisa é criar um conjunto de soluções que proporcione tranquilidade aos usuários.

Hoje, ao mesmo tempo em que o gerenciamento de chaves privadas apresenta-se como um dos grandes entraves à adoção em massa dos criptoativos, a custódia de criptomoedas surge como uma das maiores oportunidades não resolvidas no espaço blockchain.

Basta ter olhos pra ver, e ouvidos para escutar.

Leia também: Como o blockchain pode mudar o cenário atual do mercado imobiliário

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Tatiana Revoredo

Blockchain Strategist pela University of Oxford, e pelo MIT - Massachusetts Institute of Technology. Liason do European Law Observatory on New Technologies. Atualmente cursa Cybersecurity em Harvard. Convidada pelo Parlamento Europeu para Conferência Intercontinental sobre aplicações Blockchain e regulação de criptomoedas e ICOs. Participou do 1st Annual Crypto Finance Conference, do Fórum Econômico Mundial e Forum Mundial da Internet. Apaixonada por jazz e harley davidson.

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