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Solidão, mineração e inundação: como é a vida na província que detém 70% do poder computacional da rede do Bitcoin

O Criptomoedas Fácil tem mostrado como é a vida de muitos bilionários que fizeram sua fortuna graças ao Bitcoin e às criptomoedas. Entretanto, até pouco tempo, a história “rural” do Bitcoin era pouco conhecida pelo grande público. Como vivem os “fazendeiros” de Bitcoin, aqueles que, com suas ASIC, processam as transações na blockchain e permitem que a criptomoeda possa circular em todo o mundo, movimentando bilhões diariamente?

Recentemente, uma reportagem feita pelo jornal chinês Yiben Blockchain ( 一 本 区块 链 ) revelou alguns detalhes sobre a vida destes mineradores isolados. O artigo conta a história de Li Yang, proprietário de uma fazenda de mineração de Bitcoin relativamente pequena em uma área povoada por centenas de operações de mineração de criptomoedas de tamanho similar na província de Sichuan, na China, local que, segundo a publicação, abriga mais de 5 milhões de plataformas de mineração.

Especula-se que a China abrigue algo em torno de 70% da taxa de hash da rede de Bitcoin, sendo que, dessa capacidade,  até 70% é baseada na região montanhosa de Sichuan que, além de mineradores, é lar de uma enorme estátua de Buda, encravada na rochas das montanhas que servem de lar para os equipamentos da Bitmain.

Yang conta que na região residem cerca de 25 mil pessoas que adotam um modo de vida solitário e isolado, cercado por diferentes sons: os ruídos incessantes das mineradores de Bitcoin e o canto dos muitos pássaros que também habitam a região isolada, cortada por vinte instalações hidrelétricas construídas devido ao potencial da bacia do rio Lacang. Lá não só o dinheiro é virtual, como também a companhia, uma vez que, segundo Yang, sua maior companhia são as conversas no WeChat e os jogos no computador ou smartphones.

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“Você sabe do que eu tenho mais medo? É falta de energia e solidão”, revela.

Em Sichuan, em tempos de cheia, a eletricidade custa apenas 0,08 yuan / kWh (ou menos de R$0,045), um valor incomparavelmente menor que o praticado pelo Brasil e cerca de três vezes menor que a média nacional chinesa. Este custo levou ao desenvolvimento da indústria de mineração na região. Entretanto, em Sichuan, está concentrada a “agricultura famíliar” do Bitcoin, ou seja, pequenos investidores que possuem pequenas fazendas de mineração.

Há pouco tempo, como mostrou o Criptomoedas Fácil, uma forte temporada de chuvas dizimou a região e destruiu dezenas de milhares de plataformas de mineração. Embora os números não sejam oficiais, Yang estima que 20 mil hadwares ASIC foram destruídos totalizando um prejuízo em torno de US$15 milhões.

De acordo com o artigo, mesmo antes das inundações, este modelo de mineração estava em sua última etapa, ameaçado pela entrada de grande empresas na indústria da mineração, e o desastre forneceu incentivos extras para a “desocupação” das montanhas quando um grande número de mineradores decidiu mudar suas operações de Sichuan para Xianjiang, movimento descrito como “a maior migração de poder de computação da história”.

Por fim, a mineração de Bitcoin está tornando-se uma atividade cada vez mais centralizada e dominada por corporações. Embora seja cedo demais para declarar o fim do exército de 25 mil mineiradores de Sichuan, parece que o futuro da mineração do Bitcoin não tem espaço para mineiradores como Yang, que talvez possa deixar a solidão das montanhas e buscar outras oportunidades para além dos hashs.

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Cassio Gusson

Cássio Gusson é jornalista há mais de 20 anos com mais de 10 anos de experiência no mercado de criptomoedas. É formado em jornalismo pela FACCAMP e com pós-graduação em Globalização e Cultura. Ao longo de sua carreira entrevistou grandes personalidades como Adam Back, Bill Clinton, Henrique Meirelles, entre outros. Além de participar de importantes fóruns multilaterais como G20 e FMI. Cássio migrou do poder público para o setor de blockchain e criptomoedas por acreditar no potencial transformador desta tecnologia para moldar o novo futuro da economia digital.

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