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Real desvalorizado, Bitcoin em alta e a importância de uma moeda estável

E o dólar segue em disparada no começo de 2020. A moeda norte-americana, cuja cotação não ficou abaixo dos R$4,00 neste ano, chegou a ficar muito próxima dos R$4,40 nesta quinta-feira, 13 de fevereiro, quando chegou a R$4,38. Apenas a intervenção do Banco Central (Bacen) com a venda de US$1 bilhão em contratos swap, permitiu que o preço caísse e terminasse o dia em R$4,33.

A valorização do dólar já chegou a expressivos 7,8%, fazendo do real a quarta moeda emergente que mais perdeu poder de compra em 12 meses. Apesar disso, o Ministro da Economia Paulo Guedes parece demonstrar uma quase leniência com a situação de nossa moeda.

Na quinta-feira, ao mencionar períodos em que o real esteve mais valorizado, Guedes disse: “todo mundo indo para a Disneylândia, empregada doméstica indo para Disneylândia, uma festa danada”. O ministro também argumentou que um real desvalorizado é bom para a economia, pois estimularia as pessoas a viajarem mais pelo Brasil, aquecendo a economia local.

“O câmbio não está nervoso, (o câmbio) mudou. Não tem negócio de câmbio a R$1,80. Todo mundo indo para a Disneylândia, empregada doméstica indo para Disneylândia, uma festa danada. Pera aí. Vai passear ali em Foz do Iguaçu, vai passear ali no Nordeste, está cheio de praia bonita. Vai para Cachoeiro do Itapemirim, vai conhecer onde o Roberto Carlos nasceu, vai passear no Brasil, vai conhecer o Brasil. Está cheio de coisa bonita para ver”, afirmou Guedes.

Repercussão negativa e mensagens dúbias

As falas do ministro geraram uma repercussão negativa generalizada. Além do tom elitista ter irritado as pessoas mais pobres, a despreocupação com a alta do dólar alertou os investidores: se o czar da economia não está preocupado, então isso significa que o dólar vai continuar sua escalada.

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Não foi à toa que, no pregão da quinta-feira, o dólar abriu em alta de 0,7% e foi a R$4,3830, nova máxima durante o pregão. Apenas a venda de US$1 bilhão de dólares em contratos swap impediu que o preço se mantivesse nesse patamar. O que gerou uma mensagem contraditória: de um lado, o ministro da economia não se preocupa com dólar alto e disse que “o câmbio não está nervoso”; do outro, o banco central atua para impedir a disparada do câmbio.

No entanto, o episódio da disparada do dólar nos traz outra preocupação: a saída de investidores estrangeiros do Brasil.

Debandada geral

Os recentes cortes na taxa básica de juros brasileira, a Selic, levaram muitos investidores estrangeiros a retirarem seus dólares do país. Em janeiro, mais de R$15 bilhões deram adeus à bolsa brasileira – já é a maior retirada para um mês de janeiro de toda a base de dados do Valor Data, com início em 2006.

Essa retirada ocorre porque, com a Selic em sua mínima histórica (4,25% ao ano), a diferença entre a taxa de juros brasileira e a dos Estados Unidos passa a ser menor. Com isso, o prêmio de risco para investir no Brasil diminui, levando os investidores a migrarem para o mercado norte-americano, considerado o mais seguro do mundo.

Tal migração também é responsável, em parte, pela forte valorização no preço do dólar, pois com mais dólares saindo do que entrando, a oferta da moeda diminui, elevando o seu preço.

A importância de uma moeda forte

Mas será que Paulo Guedes tem razão? O dólar mais caro realmente é bom para a economia brasileira?

Bem, se você é um grande exportador, um empresário que tem que enfrentar a concorrência estrangeira, ou um freelancer que recebe seu pagamento em dólar, então essa alta pode ser positiva. No primeiro e no terceiro caso, você receberá mais reais por dólares nos produtos que vende ou serviços que presta. Já no segundo caso, o dólar mais caro faz com que as pessoas tenham mais dificuldade em importar bens, o que dá ao empresário brasileiro uma vantagem competitiva frente aos estrangeiros.

No entanto, para a grande maioria da população (e até mesmo para os três casos acima), um real fraco é um péssimo negócio. O dinheiro representa a metade de toda e qualquer transação econômica (a outra metade é o bem ou serviço adquirido com ele) e, além disso, ele é a unidade de conta que permite o cálculo de todos os custo em uma economia.

Quando um país possui uma moeda que se desvaloriza constantemente e em um ritmo acelerado, a instabilidade passa a tomar conta de toda a economia. Uma moeda instável torna muito mais difíceis os cálculos de preços e a previsão de custos de empresas e pessoas. Um exemplo extremo são país com altas taxas de inflação, como Argentina e Venezuela. Neles, a moeda perde valor com tamanha rapidez que se torna impossível fazer qualquer planejamento racional de longo prazo. E mesmo não estando na mesma situação de nossos vizinhos, também sofremos com um real mais fraco.

Exemplo

Em fevereiro de 2017, um dólar custava cerca de R$3,10. Naquela época, um investidor estrangeiro que houvesse trazido US$100,00 para cá converteria para R$310,00.

Hoje, três anos depois, após uma série de bagunças, incluindo as ocorridas durante o governo Temer e as levianas declarações do ministro da economia, o dólar custa aproximadamente R$4,30 (arredondemos os valores para facilitar o cálculo).

Um investidor estrangeiro que deseje retirar dólares do Brasil precisa converter seus reais na moeda norte-americana. Caso os mesmos R$310,00 do investidor do nosso exemplos fossem reconvertidos em dólares na cotação atual, ele teria apenas US$72.

Isso significa que, para o investidor obter algum ganho real com seu investimento — por exemplo, para que ele pudesse voltar pra casa com pelo menos US$101,00 (um ganho de míseros 1%) —, sua taxa de retorno líquido teria de ser de 41% (os R$310,00 teriam que se transformar em R$435,00) em três anos.

Isso equivale a um retorno líquido de 12,15% ao ano apenas para o investidor estrangeiro sair no zero a zero. Fora todos os impostos e riscos de empreender num país como o Brasil, que não entram na conta. Há algum investimento na economia produtiva — desconsidere títulos públicos ou mesmo especulação com ações, que não geram empregos — que gere um retorno líquido de 12,15% ao ano? Poucos. Apenas bancos e poucas empresas com alta rentabilidade conseguem ter esse valor.

E quanto mais a moeda se desvaloriza, maior precisa ser o retorno do investidor para que o investimento no Brasil valha a pena. Por isso, não é de se surpreender que os estrangeiros estejam saindo do país em volume cada vez maior.

O exemplo do Bitcoin

Além de temerária, a política monetária do atual governo gera incertezas. Por exemplo, será que o dólar pode chegar a R$4,50, R$5,00? Mas e se o governo der um cavalo de pau e levar o dólar para baixo dos R$4,00?

Apesar de termos indicadores que ajudam a estimar o futuro, não há qualquer previsibilidade em uma política econômica estatal, especialmente no longo prazo. Não podemos saber a quanto estará o dólar daqui a 2, 3 ou 5 anos, tampouco quanto será a inflação da moeda brasileira.

Tal instabilidade contrasta com o Bitcoin. A criptomoeda surgiu em 2008 com um conjunto de regras sólidas definido por Satoshi Nakamoto em seu whitepaper. Entre essas regras, está a emissão de novos Bitcoins, cuja quantia inicial (50 Bitcoins por bloco) e as quantias subsequentes (cortes pela metade a cada 216 mil blocos, ou quatros anos em média) são extremamente claras. A “inflação” do Bitcoin é plenamente conhecida, seja ela a de 2020 ou a de 2064.

Exatamente por isso, entre outros fatores, que a demanda pelo Bitcoin tem aumentado nos últimos anos. Por conta disso, seu preço recentemente voltou para a casa dos US$10 mil e tudo indica que seguirá em alta neste ano.

O Bitcoin é, provavelmente, a moeda mais forte e com a política monetária mais rígida em todo o mundo. Entretanto, não precisamos confiar em um banco central ou torcer para um “ministro da economia do Bitcoin” controlar sua boca. A criptografia controla o Bitcoin, e não a política. E esta é a sua maior força.

Leia também: Tomas Lee afirma que Bitcoin poderá chegar à US$40.000 em 2020

Aviso: O texto apresentado nesta coluna não reflete necessariamente a opinião do CriptoFácil

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Luciano Rocha

Luciano Rocha é redator, escritor e editor-chefe de newsletter com 7 anos de experiência no setor de criptomoedas. Tem formação em produção de conteúdo pela Rock Content. Desde 2017, Luciano já escreveu mais de 5.000 artigos, tutoriais e newsletter publicações como o CriptoFácil e o Money Crunch.

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