Quais os custos e benefícios gerados pela divisão na rede do Bitcoin?

 

Por Allex Ferreira

Muitos detentores de bitcoin ficaram felizes no último dia 1º de agosto quando receberam “de graça” montantes equivalentes da recém-criada bitcoin cash, como resultado da inédita divisão na rede (hard fork) da moeda digital mais popular do planeta. Outros tantos aguardam ansiosamente pelas próximas bifurcações da rede do bitcoin que podem acontecer ainda este ano na esperança de ganhar mais moedas.

Entretanto, o desenvolvedor de bitcoin Jimmy Song alerta para os custos associados da realização de hard forks. Durante a palestra de abertura da conferência “Breaking Bitcoin”, evento organizado pela comunidade técnica com foco em segurança, que ocorreu nos dias 9 e 10 de setembro em Paris, na França, Song tratou de esclarecer sobre os efeitos positivos e negativos do hard fork do bitcoin.

O dinheiro grátis não foi realmente grátis, disse ele para uma plateia lotada de desenvolvedores e outros profissionais do ecossistema.

Como ponto benéfico, para os usuários, Song destacou o aumento significativo no preço do bitcoin. Antes do hard fork, uma unidade era cotada em torno de US$2700. Ao longo de agosto e também em setembro, o preço combinado do bitcoin e do bitcoin cash chegou a ultrapassar os US$5000.

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Muita gente vendeu as moedas de bitcoin cash e conseguiu aumentar as reservas de bitcoin de 6% a 20%, o que significou muito dinheiro“, afirmou o especialista. Pelo lado dos mineradores, eles passaram a ter mais uma opção para minerar uma moeda e passaram a poder escolher qual rede minerar a depender da lucratividade de cada uma delas, conforme explicamos neste artigo aqui. As corretoras de moedas digitais, por sua vez, viram a demanda de negociação subir bastante, o que fez aumentar a receita delas.

Apesar de alguns aspectos positivos, as externalidades negativas da realização do hard fork não podem ser ignoradas. As corretoras, por exemplo, precisaram suspender os depósitos e saques um dia antes da divisão da rede, o que as prejudicaram em alguma medida.

Além de precisarem acessar a carteira de armazenamento frio e auditar o software, aquelas corretoras que listaram o bitcoin cash precisaram realizar vários procedimentos que exigiram tempo de desenvolvimento e investimento. Elas precisaram de uma nova infraestrutura para dar suporte ao bitcoin cash“, acrescenta Song, que também trabalha como arquiteto principal da Paxos.

Os comerciantes e processadores de pagamentos também precisaram suspender as atividades durante o evento do hard fork, e tiveram a necessidade de criar uma nova infraestrutura, além de certificar o sistema de detecção de rede das moedas, caso contrário alguém poderia gastar moedas a partir do saldo de bitcoin, pensando estar logado na rede do bitcoin cash.

Os provedores de carteiras digitais (wallets) fizeram um esforço hercúleo“, na opinião de Song. “Eles precisaram criar ferramentas para dividir os saldos, passaram muito tempo escrevendo código em um curto período de tempo, depois tiveram que testá-lo e apresentá-los aos usuários“, relembrou o desenvolvedor, referindo-se ao fato de que o hard fork do bitcoin cash foi anunciado à comunidade com antecedência de apenas 10 dias, o que exigiu um trabalho rápido e eficiente das empresas.

No que tange aos usuários, Song destacou como efeitos perversos da bifurcação da rede o fato de os endereços do bitcoin e bitcoin cash serem idênticos, o que pode levar muita gente a performar transações de forma errada. “Além disso, existe uma questão regulatória indefinida. Como vamos tratar o pagamento de impostos sobre o bitcoin cash?“, indagou Song.

Outra questão negativa é que a mineração dos blocos tanto de bitcoin quanto de bitcoin cash não estão confiáveis. Por conta da migração dos mineradores entre as duas redes em busca da maximização dos lucros, existem casos de, no decorrer de uma hora, apenas um ou dois blocos de bitcoin serem minerados, o que aumenta muito as taxas de transação na rede e deixa os usuários incertos sobre o tempo de confirmação das transações.

Essa migração dos mineradores entre as duas redes também facilita um eventual ataque à rede do bitcoin. Com menos mineradores na rede principal, um grupo de mineradores poderia performar um ataque de reorganização de blocos, que alteraria o estado imutável da blockchain e teria como consequência uma possível mudança nos saldos das carteiras.

Para Jimmy Song, a realização de novos hard forks parece a realidade do futuro da tecnologia do bitcoin. Segundo ele, outros dois eventos de divisão na rede poderiam acontecer ainda este ano. O primeiro deles seria o Bitcoin Gold, previsto para ocorrer em 1º de outubro. Esta nova moeda teria como objetivo tornar mais fácil a forma como o bitcoin é minerado ao excluir a mineração da prova de trabalho e utilizar GPUs (computadores menos sofisticados) para realizar a verificação e validação das transações.

Em novembro, está previsto também a realização do hard fork denominado SegWit2X, que ainda conta com bastante apoio dos mineradores da rede principal do bitcoin. Esta divisão teria como objetivo criar uma rede cuja capacidade dos blocos de transação seja de 2 mega bytes, ou seja, o dobro da atual. “Este hard fork provavelmente não será feito com proteção para transações replicadas (replay attack protection), o que seria um problema para comerciantes, por exemplo. Como se dará a devolução de uma transação?“, pergunta Song.

Para ele, a divisão na rede causada pelo bitcoin cash pode ser vista como uma forma de imunização da comunidade bitcoin, que estará mais pronta e preparada para os próximos eventos que poderão ocorrer no futuro breve.

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Allex Ferreira

Fotógrafo que conheceu a tecnologia do Bitcoin em 2011. Desde então, atua na compra e venda de bitcoins no mercado peer-to-peer (P2P) de larga escala. Ele também trabalha com mineração de Bitcoins e possui uma fazenda própria de mineração na China.

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