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PewDiePie abraçou a blockchain; O YouTube seguirá seus passos?

Uma breve história da plataforma que vem revirando as entranhas do vídeo online. Você pode ler o whitepaper da Livepeer em português, ou assistir a um vídeo explicativo (também PT-BR).

Quando PewDiePie anunciou a migração de suas transmissões ao vivo para o DLive, uma alternativa ao YouTube que envolve criptomoedas, o universo do audiovisual despertou novamente para as promessas da blockchain.

No começo de 2017, já havia mais de uma dúzia de projetos ao redor do mundo atacando diferentes aspectos do mesmo problema: a dependência de pequenos criadores em relação às grandes plataformas de distribuição. Hoje, são centenas de projetos do tipo.

A atenção do público costuma focar em clones do YouTube, ou plataformas que parecem prontas para substituí-lo por completo.

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Mais do que uma questão técnica, não acredito que tenhamos encontrado um modelo de negócio que permita que tais “clones” superem o seu tataravô.

Diversas startups de vídeo passaram pela trajetória de sucesso parabólico que, em poucos meses, acabou gerando contas multimilionárias de processamento e streaming, ferindo a capacidade de manterem-se operacionais.

Para que cresçam sustentavelmente, carecem de mudanças muito mais profundas na indústria.

É preciso que o negócio de se manter uma infraestrutura de processamento e distribuição de vídeo deixe de ser um duopólio (Amazon e Google). Se não, para crescer, qualquer alternativa, no fim do dia, deixará grande parte de suas receitas nas mãos destes (seus concorrentes), como forma de pagar pela escala que, hoje, só eles conseguem prover.

Nova Iorque, janeiro de 2018

Eric e Raffi, CTO e COO da Livepeer, se apinhavam atrás de um monitor largo. Em uma sala de vidro no alto de um WeWork, em Manhattan, estávamos a meras centenas de passos de Wall Street. A tela escura piscavam atualizações sobre a rede de teste lançada havia pouco pelo time.

Doug, o CEO, estava em uma reunião ao lado com um investidor de um dos grandes grupos da indústria. Gesticulava confiante, explicando como distribuiria os tokens nativos de sua plataforma.

O homem do outro lado da mesa investira alguns milhões de dólares junto a nomes de peso para comprar 18% dos $LPT que viriam a circular na rede. Ele precisava se certificar de que aquela ideia maluca daria certo.

Uma explicação simples sobre como a rede da Livepeer democratiza o acesso à infraestrutura para processamento de vídeos.

Berlin, abril de 2017

Em uma conferência low-profile com membros da comunidade da Ethereum, em Berlim, Doug compartilhou parte de suas visões sobre distribuições de tokens.

“Fazer uma ICO é a última coisa que passou pela nossa cabeça”, lembro dele falando. “Mas precisamos pensar em distribuir a participação na rede de alguma maneira.”

Há infinitos casos de uso que mesclam blockchain a vídeo online. A maioria esmagadora deles não faz sentido algum. Blockchains são lentas, custosas e inflexíveis. A indústria do streaming exige customizabilidade e baixa latência.

A Livepeer, no entanto, alavanca o atributo mais especial das blockchains: a capacidade de coordenar agentes que não necessariamente se conhecem ou identificam, com um objetivo em comum. Esse objetivo, no caso, é processar vídeos (para que possam ser consumidos em qualquer aparelho ou conexão) utilizando-se de recursos ociosos de mineradores de criptomoedas. O processamento (transcoding, no jargão) é a parte mais cara na jornada de um vídeo, desde sua gravação até chegar na tela de quem assiste.

Inventando um novo jogo distributivo: MerkleMine

Para que a rede funcionasse, precisava antes de tração no lado da oferta. Isto é: precisava-se angariar suficientes provedores de recursos para que o serviço pudesse de fato ser oferecido aqueles interessados em consumí-lo.

Como forma de bootstrap, o time da Livepeer inventou o MerkleMine: um método para distribuir tokens à uma base larga o suficiente de pessoas, ao mesmo tempo em que evita a tragédia dos comuns.

O MerkleMine é como um airdrop, mas você só tem direito ao que lhe cabe caso performe um pouco de trabalho (ou caso alguém o faça para você, em troca de uma porção dos tokens a serem “requisitados”).

Protocolos de proof-of-stake (como é o caso da Livepeer) tem uma peculiaridade em relação à maneira como tokens são distribuídos inicialmente. No proof-of-work, basta conectar máquinas à rede e começar a minerar para que sejam “geradas” novas moedas. No proof-of-stake é preciso “aplicar” moedas para ter o direito de ganhar recompensas recém-emitidas. Mas em uma rede recém nascida, como se pode aplicar tokens se ainda não existem tokens distribuídos?

É esse problema que o MerkleMine resolve, objetivando uma distribuição justa e homogênea. Ele pode ser comparado a ofertas de tokens de diferentes formatos. Posiciona-se de maneira inédita no espectro de tradeoff entre inclusividade e segurança.

Depois dele, até hoje, o único mecanismo original que vi explorar novos pontos nesse espectro é o WorkLock, da NuCypher, ainda em discussão.

Daqui pra frente

Hoje, quase 40% dos $LPT em circulação estão aplicados no mecanismo de dPoS que provê segurança à rede. A meta de 50% de participatividade no staking deve ser atingida antes de se completar um ano na main net.

Comparação entre taxa de participação na Livepeer e outras redes de PoS.

Mas uma fundação sólida é meramente o começo. Todo mercado de n>2 lados passa por um período em que pesa o dilema do “ovo-ou-da-galinha”. Quanto mais “mineradores de vídeo” a Livepeer tiver, mais confiável e de bom custo-benefício vai ser o serviço provido. Quanto mais usuários demandando o serviço, mais mineradores de vídeo competirão pelo trabalho.

Em 2018, a rede foi usada para a transmissão ao vivo dos eventos da série ETH Global (ETH Denver, ETH Buenos Aires, ETH India, ETH Berlin, ETH San Francisco e ETH Singapore, com múltiplos palcos); da DevCon; de todos os calls entre desenvolvedores do Ethereum; de alguns meetups pelo mundo; e de shows ou sessões de bandas independentes na Europa e América Latina. Durante o período inicial de distribuição do token, transações envolvendo o MerkleMine chegaram a representar 30% das transações totais do Ethereum.

No 2º semestre de 2019, a Livepeer passará pelo seu primeiro grande upgrade em produção, nomeado Streamflow. Entre as melhorias previstas, um aumento na capacidade de transcoders (“mineiradores/validadores“) e a facilitação das operações por parte de quem integra o serviço em seus aplicativos.

É importante lembrar que a rede está em versão alpha (ainda que 100% funcional) e longe do estado madura. As taxas foram irrisórias nos primeiros nove meses do protocolo, em comparação com o incentivo inflacionário dirigido a “mineradores de vídeo” e usuários.

Com uma base de provedores estabelecida, e incentivos alinhados à saúde da plataforma no longo prazo, a Livepeer agora se dá ao luxo de mirar mais alto.

Aos poucos, a rede está abrindo portas para casos de uso outrora inviáveis de se sustentar em escala, sem que seja preciso montar infraestrutura própria ou pagar para usar a infraestrutura de um concorrente.

Depois de angariar provedores de recursos, chega a vez de desenvolvedores de vídeo. Depois deles, somente, é que o time por trás do protocolo poderá voltar esforços de comunicação para seus “clientes finais”: personalidades que transmitem de vídeo ao vivo, como o PewDiePie, do começo desse texto.

Talvez, quando “chegar a vez deles”, a infraestrutura esteja robusta a ponto de não ser mais novidade (ou não ser mais necessário mencionar) a blockchain. Ela estará lá, integrada a serviços necessários para o lançamento e manutenção de sites ou apps de vídeo, como opção às titãs de sempre. É capaz de até mesmo grandes plataformas optarem por processarem parte de sua demanda na alternativa mais barata e distribuída.

Só o tempo dirá. Penso que as primeiras plataformas verdadeiramente descentralizadas de conteúdo ainda estão distantes. Quando se estabelecerem, não vai ser porque recrutaram astros de cinema, ou fizeram propaganda do tipo. Vai ser porque entregam custo-benefício vantajoso a quem as usa, e não cobram taxas ou exercem políticas abusivas. Nessa hora, talvez achemos que elas sempre foram – ou pelo menos sempre deveriam ter sido – feitas assim.

Você pode ler uma versão em português do white paper que descreve o upgrade Streamflow aqui.

Curiosidade: as GPUs que mineram criptomoedas, hoje, poderiam suportar todo o processamento de vídeo do mundo?

A pergunta soa desvairada, mas a resposta é positiva: sim, é factível. O hashrate na rede do Ethereum, de cerca de 170.000 GH/s (em março de 2019), aponta para o equivalente a aproximadamente 4.250.000 placas Nvidia GTX 1080 minerando concorrentemente, com uma hashrate médio de 40 MH/s. Com 100% de dedicação, esse volume de GPUs consegue fazer transcoding de bitrate adaptativo para algo perto de 10.000.000 transmissões ao vivo simultâneas. Mesmo que se leve em conta uma quantidade considerável de placas AMD 480 no montante (20 MH/s e capazes de transcodar, em qualidade um pouco pior, um transmissão ao vivo por vez), a oferta excede significativamente a demanda representada pelos maiores sites de vídeo do mundo.

Leia também: Um dos maiores youtubers do mundo junta-se à plataforma streaming com blockchain

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