Opinião: A hipocrisia do manifesto da “comunidade” brasileira de Bitcoin

 

Quer dizer, então, que basta postar uma enquete no Facebook do dia para noite, juntar alguns amigos, escrever um manifesto tabajara pomposo em inglês para se obter a opinião da comunidade de Bitcoin brasileira sobre o futuro da tecnologia?

carta assinada por algumas empresas e usuários de Bitcoin do Brasil e Argentina cujo objetivo é deixar público o desacordo em relação a um dos futuros hard forks do Bitcoin é, no mínimo, hipócrita (se você não sabe do que estou falando, pois a tal carta não explica direito o que é um hard fork, clique aqui neste post que escrevi onde falo sobre isso em detalhes). Uma das principais críticas do manifesto é que o SegWit2X é uma divisão na rede do Bitcoin encabeçada por um grupo de pessoas e empresas. Oras, e esse tal manifesto também não é a mesmíssima coisa?

Para que ele servirá? Acho que ele só foi escrito para virar notícia nas agências especializadas, como a Coindesk, Cointelegraph e bombar a conta de Twitter de alguém. O usuário comum brasileiro, que sempre está à mercê dos artigos em português, porque não tem o domínio da língua inglesa, infelizmente, não vai entender bulhufas desse comunicado-carta-manifesto-seja-lá-o-que-for. O mesmo vale para usuário comum argentino.

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Por que não publicaram isso em português e espanhol? Porque o objetivo não era se comunicar com as comunidades brasileira e argentina e, sim, mostrar a sabe-se lá quem no exterior que existe um grupo de pessoas na América Latina (sem expressão internacional) que se opõe ao hard fork.

Desde o início dos debates sobre a divisão da rede do Bitcoin, eu tenho lido muito e conversado com especialistas na tecnologia e até agora não cheguei a qualquer opinião formada sobre qual fork ou rede seria melhor tecnicamente. Fazer um debate ideológico em cima de algo técnico é péssimo e não deveria vir à tona. E eu não sigo maioria, não faço re-transmissão de opinião de terceiros. Reconheço que o tema exige conhecimento profundo sobre o tema, que vai além do meu conhecimento.

Quantos desses signatários do tal manifesto anti-fork já fizeram alguma contribuição para o código do Bitcoin? A maioria está nem aí com a tecnologia em si do Bitcoin. Eles estão preocupados com os recursos deles que estão investidos em um determinado protocolo. Não tenho nada contra quem quer proteger os seus interesses financeiros, mas não levante a bandeira da tecnologia se seu interesse é apenas especulativo.

Vivemos a era dos hard forks. Teremos muitos daqui pra frente. Debates ideológicos, patéticos e sem conteúdo é o mesmo que discutir religião. Deixemos as empresas, mineradores e os nós da rede decidirem de forma orgânica o que cada um quer e acha melhor para si. Não deveria existir um pensamento ideológico de que a rede do Bitcoin sempre será a mesma para sempre. Divergências acontecem e são saudáveis para o crescimento e desenvolvimento da tecnologia dos cripto ativos.

Aliás, por que o manifesto não citou o próximo hard fork que teremos, que é o Bitcoin Gold? Só porque esse hard fork é considerado “amiguinho” do grupo de desenvolvedores do Bitcoin Core?

Que me desculpem os amigos que assinaram tal manifesto antes mesmo de terem lido o conteúdo dele, mas este texto não pode falar pela comunidade brasileira de Bitcoin. Isso é apropriação de imagem. Eu não sou nem a favor, nem contra o SegWit2X. Eu sou a favor de discursos que não sejam hipócritas ou ideológicos, neo-bobos.

O Fernando Ulrich, que foi quem organizou esse manifesto e postou a enquete no grupo Bitcoin Brasil, não é nenhum técnico de Bitcoin, muito menos referência em conhecimento técnico, que é o que tal tema exige de alguém que queira discuti-lo. Reconheço o seu trabalho na comunidade, mas falar em nome dela é praticamente uma piada.

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Allex Ferreira

Fotógrafo que conheceu a tecnologia do Bitcoin em 2011. Desde então, atua na compra e venda de bitcoins no mercado peer-to-peer (P2P) de larga escala. Ele também trabalha com mineração de Bitcoins e possui uma fazenda própria de mineração na China.

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