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O Bitcoin sofre, mas não morre

2018 ainda não acabou, mas a esperança de muitos investidores de criptoativos sim. A grande maioria do mercado já se resignou com a queda de quase 80% desde o final de 2017. Muitos, aliás, perderam as esperanças no Bitcoin e em outros criptoativos até mesmo para o longo prazo. Eis alguns dos comentários pessimistas que li recentemente:

“Será que chegamos ao fundo do poço?”

“Apostei tudo na alta e perdi meu patrimônio.”

“Vou vender meus bitcoins antes de perder mais dinheiro.”

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E o clássico que não pode faltar:

“O Bitcoin morreu!”

Será que eles estão certos? O mercado realmente morreu?

Definitivamente, não. Há um grande sofrimento, sem dúvidas, mas o Bitcoin não morreu. E jamais morrerá.

Sofrimento sem morte

“Uma nação de setenta milhões sofre, mas não morre.”

A frase acima foi dita há quase 100 anos por Matthias Erzberger ao marechal francês Ferdinand Foch, comandante das forças aliadas na Primeira Guerra. Erzberger foi o representante alemão indicado para assinar a rendição do país na Primeira Guerra Mundial, em 11 de novembro de 1918.

Pouco tempo depois, com a assinatura do Tratado de Versalhes, a Alemanha ficou arrasada. Tendo sido derrotada e responsabilizada pela guerra, o país perdeu colônias, teve seu exército reduzido à uma mera força policial, e sua economia foi totalmente destroçada. A Alemanha, outrora a maior potência da Europa, foi desmoralizada e humilhada por anos.

Quem visitasse a Alemanha naquela ocasião jamais imaginaria que o país voltaria a ser uma grande força econômica.

“A Alemanha, com todas essas restrições, se tornar mais rica que a França e o Império Britânico?! Jamais! Ela dificilmente voltará a ser rica”, diria esse visitante.

Derrota. Humilhação. Perda de prestígio e motivo de piada. Notou que a história da Alemanha possui muitas semelhanças com um certo criptoativo, que surgiu 90 anos depois da assinatura do tratado que quebrou a economia alemã?

O Bitcoin esteve em bolha. E, assim como a Alemanha, não morreu

Se você notou a semelhança, saiba que não é por coincidência. Tanto o Bitcoin quanto a Alemanha tiveram grandes trajetórias de fracassos e execração pública. A Alemanha perdeu duas guerras mundiais. O Bitcoin teme pelo menos dois grandes ciclos de “estouro de bolha” (veremos que não foi nada disso). Porém, ambos prosperaram. E hoje são líderes em seus setores.

Se você já digitou algo como “Bitcoin morreu” no Google, encontrará 187 mil resultados anunciando a “morte” da criptomoeda.

Oficialmente, ela morreu 326 vezes. E digo oficialmente porque existe uma cotação “oficial” das mortes do Bitcoin. Ela é feita pelo site 99Bitcoins, cujos criadores se dão o trabalho de coletar as principais notícias que falam sobre o fim do Bitcoin e listá-las em forma de um “obituário”.

Embora o site tenha um claro tom de deboche, ele reúne notícias sobre o “fim do Bitcoin” que são divulgadas por fontes sérias. Matérias de sites como Bloomberg, Forbes e LinkedIn. O site até mostra a quantidade de mortes do Bitcoin por ano, desde 2010 (o ano que houveram mais mortes foi 2017, com 125 mortes “oficiais”, exatamente o ano em que a moeda atingiu seu valor recorde).

Quem ler o site em 2018 e não conhece sobre a tecnologia, pode achar que as mais recentes “mortes” possuem um fundo de verdade. Afinal, 2018 é o segundo ano com mais mortes do Bitcoin (80), mas a queda de 78% no valor do Bitcoin é uma das maiores da história do criptoativo. Isso leva a muitos comentários sobre “bolhas” ou, mais especificamente, “estouro da bolha” das criptomoedas.

Sim, o mercado esteve em bolha. Mas essa bolha não estourou: apenas esvaziou.

Bolha que estoura versus bolha que esvazia

A princípio, a diferença entre esvaziamento e estouro de uma bolha pode ser meramente semântica. Mas não é. E para ilustrar isso, pedirei que o leitor faça um exercício.

Pense numa bexiga, naquelas de aniversário mesmo.

Pensou? Agora se imagine enchendo a bexiga ao máximo. Observe que ela alcança um tamanho muito maior do que o original. Após isso, sem ter espaço para se expandir mais, o ar rompe as paredes da bexiga e ela estoura por completo.

Agora imagine-se apanhando os pedaços dessa bexiga e tentando costurá-los para, assim, voltar a encher o objeto. Você acha que consegue? E se conseguir, ela ficará igual a bexiga original?

Difícil, hein? Mesmo que você seja um ás na costura, a bexiga nunca poderá se inflar novamente. De fato, ela nem sequer chegará perto do formato original.

Agora pense em outra bexiga. Uma que pode ser enchida e expandida até um certo limite, depois esvaziada até chegar um tamanho menor do que estava antes. Após você tomar fôlego novamente, encha a bexiga. Surpreso, você notará que a bexiga encheu ainda mais do que o máximo da primeira vez. Ao ficar sem fôlego novamente, a bexiga esvazia. No entanto, ela esvazia em um tamanho maior do que o máximo que chegou na primeira vez.

Em resumo, a segunda bexiga tem a capacidade de expandir seu limite máximo. Sempre que ela esvazia, seu tamanho mais baixo é maior do que o maior tamanho que ela alcançou quando você inflou antes.

Definições

O mesmo se aplica a bolhas financeiras. A definição de bolha é o “nome que se dá quando ativos passam a negociar extremamente acima do seu real valor. Seguido a um movimento de alta abrupta no valor dos ativos, ocorre uma queda ainda mais rápida, que acaba por deixar prejuízos para os que entram na bolha especulativa”. No entanto, esse é apenas UM dos tipos de bolha, embora seja o mais comum no mercado.

Nesse grupo, podemos incluir o famoso caso da OGX. A empresa que conseguiu sucesso em grande parte pelo carisma de seu criador, Eike Batista. Em 2010, a empresa atingiu a sua cotação máxima na bolsa de valores: R$23,27. Três anos depois, a ação da empresa era cotada a R$0,60. Uma queda de 95%.

Após uma grande reestruturação – e da saída de Batista do controle da companhia – houve uma leve “recuperação.” Hoje, as ações da empresa são cotadas a R$2,10, valor quase três vezes maior que a mínima história. Porém, quem comprou ações em 2010 e não vendeu jamais se recuperou do estouro da bolha. Aqui temos uma bolha que definitivamente estourou (dificilmente a OGX renovará sua máxima histórica).

Já o Bitcoin, teve momentos cujo preço estava superestimado. 2013 e no ano passado são os mais conhecidos: nessas ocasiões, havia muito mais hype do que fundamentos para os altos preços do Bitcoin. Entretanto, essas bolhas jamais estouraram, apenas esvaziaram para pegar um impulso maior.

Para termos uma visão disso, é só olhar o gráfico de preço do Bitcoin. Para facilitar, deixo aqui os preços registrados pela criptomoeda nos dias 27 de novembro dos últimos seis anos.

Preço do Bitcoin

27 de Novembro de 2013: US$ 1.009,00
27 de Novembro de 2014: US$ 377,00
27 de Novembro de 2015: US$ 354,00
27 de Novembro de 2016: US$ 733,00
27 de Novembro de 2017: US$ 9.879,00
27 de Novembro de 2018: US$ 3.921,00

Se o foco é o desempenho de longo prazo, então temos muito a comemorar. Quem comprou na “bolha” daquele ano e guardou suas moedas, multiplicou seu patrimônio por quase quatro vezes cinco anos depois.

A OGX é um grande exemplo de bolha. E sim, o Bitcoin esteve em um momento de bolha. Porém, a primeira é frágil, visto que jamais voltará ao que era antes. Já o Bitcoin, experimenta bolhas que o tornam antifrágil, pois depois de cada uma delas ele sempre volta mais forte do que na bolha anterior.

Mesmo o preço atual era uma cifra que poucos imaginavam. Em 2016, dificilmente alguém colocava o Bitcoin a quase US$4.000 antes de 2020. E ele conseguiu esse valor dois anos depois, no esvaziamento de uma bolha. Um grande exemplo de antifragilidade.

Contexto para mais crescimento

Mesmo com a derrota na Primeira Guerra Mundial, a Alemanha não “morreu”. Ela continuou viva e, mesmo em seu estado lamentável, era potencialmente mais poderosa que os seus adversários.

Seus principais rivais na guerra – França e Inglaterra – estavam numa posição financeira e militar muito debilitada. O declínio de ambos – econômico e militar – era evidente. Mesmo sendo derrotada em mais uma guerra, 20 anos depois, a Alemanha, por meio de diversas reformas, executou o “milagre alemão do pós-guerra”, que transformou o país na quarta maior economia do mundo e maior economia da Europa nos dias atuais.

O Bitcoin passa pela mesma trajetória. Mesmo com a queda de preço, os fundamentos da moeda não diminuíram – ao contrário, tornaram-se mais robustos. Ele continua com uma maior valorização de longo prazo do qualquer outro ativo financeiro no mundo. Cada vez mais a rede é reforçada, novas melhorias são implementadas, e mais empresas buscam entrar nesse mercado.

Seus “rivais”, as principais moedas do mundo, sofrem com a estagnação acusada por anos de manipulação econômica causadas pelos seus governos. Bolsas ao redor do mundo experimentam movimentos semelhantes, ao passo de que as dívidas de governos crescem descontroladamente. No momento em que as taxas de juros começarem a subir – especialmente na Europa – poderemos ver novas correções nas bolsas, com resultados imprevisíveis no curto prazo.

Em um cenário de crise financeira, governos cada vez mais endividados e moedas sem qualquer lastro, o Bitcoin surge como uma grande salvaguarda para quem deseja se proteger contra algumas medidas desesperadas – algo que os cidadãos da Venezuela, Chipre e Zimbábue já entenderam.

O Bitcoin é um tipo de dinheiro muito superior a qualquer outro já inventado pelo homem – até mesmo ao ouro. Ele não demanda altos custos para ser armazenado. É impossível de ser confiscado por decreto estatal. Sua taxa de emissão (inflação monetária) é conhecida por todos, até o último satoshi que será emitido. Você consegue me dizer qual será a taxa de inflação do dólar em 2040? Eu posso lhe dizer qual será a do Bitcoin – hoje, em 2040 e no meio do século XXII.

 

Se o preço está em baixa, os fundamentos do Bitcoin seguem fortes e cada vez melhores. Novas bolhas virão, sem dúvidas. E certamente, na próxima o nosso fundo será maior do que o topo da bolha do ano passado.

Por fim, encerro este longo texto com uma nota de esperança, a mesma proferida pelo jornal Vorwarts!, a voz não-oficial de Berlim, em 1919, logo que o Tratado de Versalhes foi assinado. Para os holders de longo prazo, que conhecem os fundamentos do Bitcoin e a fragilidade do sistema financeiro mundial, um estímulo para enfrentar mais uma turbulência. Para os novatos, uma mensagem de perseverança.

“Não percam as esperanças. O dia da ressurreição vai chegar!”

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Luciano Rocha

Luciano Rocha é redator, escritor e editor-chefe de newsletter com 7 anos de experiência no setor de criptomoedas. Tem formação em produção de conteúdo pela Rock Content. Desde 2017, Luciano já escreveu mais de 5.000 artigos, tutoriais e newsletter publicações como o CriptoFácil e o Money Crunch.

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