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Líbano e Iraque: quando destruir bancos centrais fortalece a moeda

Na semana passada, imagens vindas do Líbano chamaram a atenção do mundo. Enfurecidos, os libaneses destruíram nada menos do que o banco central do país (Banque du Liban). A jornalista Joyce Karam, correspondente dos Estados Unidos no Oriente Médio, divulgou as imagens em seu Twitter.

Crise, confisco e protestos

A principal motivação dos libaneses é a crise econômica. A libra libanesa perde seu valor a cada dia por causa da hiperinflação. “Libra libanesa sangrando a cada dia. Agora são mais de 5.000 contra o dólar (costumava ser 1500 em janeiro). Difícil pagar o básico”, afirmou Karam.

E para completar, a população do Líbano viu seu dinheiro ser confiscado pelo governo. O objetivo da medida foi manter os bancos privados funcionando através do chamado “bail-In”. Esse processo ocorre quando os depósitos bancários – que são passivos dos bancos com seus clientes – se transformam em ativos da instituição.

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Tal medida ajuda a manter o capital do banco e salvá-lo da falência. No entanto, todos os clientes acabam perdendo seu dinheiro. Na prática, os clientes pagam pela irresponsabilidade dos bancos.

E nem mesmo a opção de fugir para uma moeda mais forte os libaneses possuem. O governo impôs controles de saques e preços, além de impedir que os cidadãos enviassem dólares e euros para o exterior.

Diante desse cenário, a destruição do banco central é perfeitamente compreensível. No entanto, ela também pode acabar beneficiando a moeda libanesa. Isso porque outro país do Oriente Médio teve seu banco central destruído e viu sua moeda se valorizar: o Iraque.

Dólar vs Dinar

Quando os Estados Unidos invadiram o Iraque em 2003, as autoridades se certificaram de que dólares – muitos dólares – entrariam no país junto com o exército. O plano parecia fazer sentido; com o governo do Iraque implodindo, acreditava-se que o dinar desapareceria com ele.

E como se confirmasse essa impressão, as forças norte-americanas destruíram o banco central iraquiano. Com isso, o governo de Saddam Hussein perdeu a capacidade de imprimir mais dinares. Entretanto, o que parecia o fim da moeda iraquiana acabou sendo seu grande trunfo.

De acordo com matéria do Wall Street Journal, quando as forças americanas entraram em Bagdá em 9 de abril, o dinar era negociado a uma taxa de 4.000 dinares para 1 dólar. No entanto, duas semanas depois do ataque ao banco central, o dinar já tinha caído a 1.800 por um dólar.

Em outras palavras, o dólar perdeu mais da metade de seu valor para o que certamente deve ser uma das moedas mais fracas do mundo. O dinar, como o regime que o imprimiu, deveria desaparecer na história. Em vez disso, ele se fortaleceu em relação ao poderoso dólar. Mas por quê?

Lei da oferta e demanda ajudou o dinar

Embora os soldados norte-americanos tenham inundado o Iraque com dólares, pagando todas as suas compras na moeda norte-americana, o dinar se fortaleceu. Apesar de todo seu poder militar, havia algo que os EUA não conseguiriam fazer: abolir a lei da oferta e da demanda.

Com o banco central destruído, o suprimento de dinares se tornou limitado e fixo, mesmo quando dólares inundavam o país. Os iraquianos sabiam que o governo não poderia mais imprimir dinheiro e desvalorizar o dinar. Isso levou ao resultado impressionante de que o dinar se valorizou, apesar da guerra e todo o poder de fogo – e econômico – do seu inimigo.

O dinar ainda contava com uma vantagem adicional: já circulava amplamente entre a população. O fim do banco central protegeu a moeda das pressões inflacionárias, enquanto o dólar circulava em quantidades cada vez maiores, e o Federal Reserve está sempre pronto para imprimir mais.

Ainda é cedo para saber se a destruição do banco central libanês terá o mesmo impacto que no Iraque. Os contextos são diferentes, e é provável que o governo libanês encontre alternativas. Mesmo assim, a história mostra que o segredo para a estabilidade da moeda pode ser destruir suas impressoras – literalmente.

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Luciano Rocha

Luciano Rocha é redator, escritor e editor-chefe de newsletter com 7 anos de experiência no setor de criptomoedas. Tem formação em produção de conteúdo pela Rock Content. Desde 2017, Luciano já escreveu mais de 5.000 artigos, tutoriais e newsletter publicações como o CriptoFácil e o Money Crunch.

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