Há 90 anos, o mundo financeiro vivia sua maior crise

Wall Street, 29 de outubro de 1929. Uma quinta-feira, que então era um dia como qualquer outro, entraria para a história assim que as negociações na bolsa de valores de Nova York começassem.

Naquele dia, três milhões de pessoas que acompanhavam as compras e vendas de ações em Wall Street perceberam algo estranho: após quase 10 anos de euforia, a lógica da oferta e da demanda chegava ao mercado de ações. Quando a oferta de ações à venda começou a aumentar, seus preços começaram a despencar de forma cada vez mais vertiginosa.

Naquela quinta-feira, os locutores informavam que a Bolsa de Nova York caía mais de 30%. Várias empresas começaram a sofrer os impactos. Em 36 horas, a General Motors perdeu 22% de seu valor de mercado. Fortunas inteiras começaram a ser dizimadas, assim como os seus antigos donos: nos dois dias seguintes ao crash, foram noticiados onze suicídios pelos jornais impressos.

Assim tinha início a Crise de 1929, também conhecida como A Grande Depressão, que completou 90 anos nesta última terça-feira, 29 de outubro.

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As causas e consequências

Até hoje, diferentes escolas de pensamento econômico discutem as causas da crise de 1929. A escola keynesiana, liderada pelo economista britânico John Maynard Keynes, afirmou que a causa da crise estava no “espírito animal” do mercado, e que o Estado deveria atuar para solucionar a crise – algo que aconteceu três anos depois, com a criação do New Deal pelo presidente recém-eleito Franklin Roosevelt.

Já a escola austríaca de economia, por outro lado, afirma que a crise foi causada justamente por causa da ação do governo. Após manipular artificialmente a taxa de juros com seguidos cortes, o governo estimulou as pessoas a se aventurarem na bolsa, criando uma bolha insustentável que uma hora explodiria. Os gastos estatais do New Deal, segundo os austríacos, e os controles de preços e outras medidas serviram apenas para prolongar os efeitos da crise, que só desapareceram por completo após o final da Segunda Guerra Mundial.

Independentemente da visão econômica sobre as causas, é fato indiscutível que a crise de 1929 mudou totalmente o mundo capitalista. Até meados de 1932, cerca de dois mil bancos faliram. A Ford Motor Company, símbolo maior da época, viu o número de funcionários cair de 128 mil para 37 mil. Em escala global, o PIB mundial encolheu cerca de 15% entre 1929 e 1932 – para efeito de comparação, a queda ocorrida na crise de 2008 foi de 1% entre 2008 e 2009.

A crise também deu um golpe fatal na ideia de liberalismo econômico e abriu caminho para várias políticas protecionistas. Nos Estados Unidos, a tarifa Smoot-Hawley, que aumentava as tarifas alfandegárias em cerca de 20 mil itens não-perecíveis estrangeiros, praticamente aboliu o comércio mundial. Na Alemanha, a crise serviu como um estopim para a ascensão de Adolf Hitler e do partido Nazista e contribuiu para o advento da Segunda Guerra Mundial.

A crise no mundo atual

Hoje, 90 anos depois, o mundo vive uma situação que muitos classificam como bastante diferente e mais tranquila do que a vivida 90 anos atrás. Mas será mesmo?

De fato, o ciclo atual de expansão econômica já dura mais de 10 anos, e a economia segue em franco crescimento. Porém, hoje, temos as taxas de juros mais baixas da história, algumas até negativas – e as taxas de juros estavam artificialmente baixas em 1929. Os acionistas de hoje veem suas ações quebrar recordes de altas praticamente iguais ao cenário de 1929.

Hoje temos o fenômeno de empresas que operam sem dar lucro. Uber, Netflix, Tesla, todas são empresas inovadores que conseguem manter suas operações majoritariamente via emissão de dívida ou captando dinheiro com venda de ações, visto que sua operação não é suficiente para manter o funcionamento. E esses modelos de captação se tornaram mais viáveis em um mundo de juros baixos e aumento de liquidez nos mercados.

Ao contrário daquele tempo, hoje os governos possuem liberdade praticamente irrestrita para imprimir dinheiro e injetar liquidez no mercado e, com isso, postergar uma grande crise. Mas e quando isso não puder mais ser feito? Quais empresas sobreviverão? Como o nosso estilo de vida moderno e praticamente dependente de empresas deficitárias será afetado?

E qual será o papel do Bitcoin, um ativo que não estava acessível aos milionários que faliram no crash de 1929? Ele será arrastado junto com o corte da liquidez dos mercados ou se consolidará como um ativo de proteção moderno?

Essas perguntas só tempo poderá responder. Por ora, resta aprender com uma lição de 90 anos: é impossível manipular a economia de forma impune por muito tempo. A conta chega, em forma de crise ou depressão.

Leia também: McKinsey afirma que quase 60% dos bancos não sobreviveriam à uma crise econômica

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Luciano Rocha

Luciano Rocha é redator, escritor e editor-chefe de newsletter com 7 anos de experiência no setor de criptomoedas. Tem formação em produção de conteúdo pela Rock Content. Desde 2017, Luciano já escreveu mais de 5.000 artigos, tutoriais e newsletter publicações como o CriptoFácil e o Money Crunch.

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