Categorias Notícias

Cinco anos do SegWit e da Guerra dos Blocos: o dia da independência do Bitcoin

A primeira grande “guerra civil” no Bitcoin (BTC), que decidiria o destino do protocolo, ocorreu principalmente entre 2015 e 2017 e é conhecida como a “Guerra do Tamanho de Bloco” ou Blocksize War em inglês.

Durante o período descrito acima, a rede do BTC se dividiu basicamente em dois grupos. O que separava esses grupos eram a escalabilidade do BTC. Ou seja, como a criptomoeda poderia realizar mais transações por segundo (TPS) e poder ser utilizada por mais pessoas ao redor do mundo.

No final, a comunidade venceu essa guerra contra grandes empresas e influenciadores, com a aprovação do Segregated Witness (SegWit). A tecnologia, aprovada pelos usuários dos nós, abriu caminho para a criação da Lightning Network, principal solução de escalabilidade para os dias atuais.

Mas como ocorreu este debate e quais foram os lados da guerra do bloco?

🚀 Buscando a próxima moeda 100x?
Confira nossas sugestões de Pre-Sales para investir agora

Tornando o BTC mais barato

À medida que o BTC se tornou mais popular e mais pessoas começaram a utilizá-lo, surgiu um problema de limitação. Desde sua criação em 2009, os blocos do BTC tinham o mesmo tamanho: 1 megabyte (MB). 

O próprio Satoshi Nakamoto estabeleceu blocos menores quando criou o white paper do BTC. De acordo com ele, a medida visava impedir que os usuários precisassem comprar computadores potentes para executar o BTC. Logo, blocos pequenos visavam impedir a centralização do BTC.

Mas conforme o número de usuários aumentava, as transações tornaram-se mais lentas e mais caras. Em determinador momento, os preços das transações chegaram a superar os US$ 50, ou R$ 250 em valores atuais.

Logo, o uso do BTC como moeda do dia-a-dia estava se tornando impossível. Nesta época, a expressão mais famosa era que “não dava para comprar cafezinho com BTC”, dados os altos custos. Por isso, era preciso desenvolver um modo de baratear as transações.

Blocos maiores vs blocos menores

A partir de visões divergentes do Bitcoin, surgiram dois campos. O primeiro eram os defensores do aumento no tamanho dos blocos do BTC (chamados de Big Blockers), que supostamente queriam transações mais rápidas e mais baratas.

Nesse sentido, o plano era estabelecer o BTC  como um sistema de pagamento global, competindo com Visa e PayPal no curto prazo.

Em oposição a este grupo estavam os defensores dos blocos menores, ou Small Blockers. Composto em sua maioria por engenheiros de software e defensores do BTC, esse grupo via a criptomoeda como uma nova rede de dinheiro que poderia transformar nosso mundo a longo prazo.

No entanto, o grupo defendia que isso só seria possível caso o BTC permanecesse descentralizado. E o aumento no tamanho do bloco, de acordo com o grupo, prejudicava esse aspecto. Eles defendiam a integridade, resiliência e segurança, argumentando que, se os blocos se tornassem grandes, seria caro para os usuários executar um nó.

Se isso acontecesse, haveria incentivos para hospedar os nós em data centers, com custos muito elevados. Portanto, executar um nó do BTC num Raspberry Pi – prática comum entre os entusiastas atualmente – seria impossível. Isso abriria uma via de mão única para a centralização e controle de poucos.

Em suma, o aumento do bloco significaria a morte do sonho de um dinheiro apolítico, incorruptível, descentralizado. O BTC seria nada mais do que um sistema bancário, só que com muito mais desvantagens em relação aos bancos tradicionais.

Principais apoiadores

É preciso destacar que a guerra dos blocos teve um enorme apoio de grandes players da comunidade. De grandes empresas a nomes famosos, havia uma série de pessoas que defendiam o aumento dos blocos do BTC. Os principais estão listados abaixo

Bitmain

Na época da guerra dos blocos, a Bitmain era a todo-poderosa corporação no mercado de BTC. A empresa de mineração respondia por quase todas as máquinas ASIC produzidas no mercado, e também possuíam, de longe, o maior poder de processamento (hash rate).

Com todo esse poder nas mãos, a Bitmain usou sua posição para intimidar os outros. Na época, dizia-se que a Bitmain poderia controlar o BTC e executar um ataque de 51% na rede. E o CEO da companhia, Jihan Wu, se revelou um dos principais entusiastas do aumento nos blocos.

Coinbase

“Demitir os desenvolvedores” foi um grito de guerra que Jihan começou e Brian Armstrong, CEO da Coinbase, ampliou em todas as oportunidades disponíveis.

Em janeiro de 2016, Armstrong publicou um post controverso no blog apoiando o aumento dos blocos. O executivo era favorável ao Bitcoin XT, uma das propostas que previa esse aumento. Em seguida, apoiou cada divisão do BTC até finalmente fracassar com o SegWit2X.

Roger ver

Anteriormente conhecido como “Bitcoin Jesus” e um grande defensor do BTC, Ver passou a defender o aumento no tamanho dos blocos. Ele tinha poder para isso, já que registrou os domínios “Bitcoin.com” e o “@Bitcoin” no Twitter, os quais utilizou para espalhar desinformação.

Em 1 de agosto, dia da independência do BTC, Ver apoiou o lançamento do Bitcoin Cash (BCH), convertendo-se no principal apoiador da criptomoeda. Mas com o tempo, o BCH entrou no ostracismo até que voltou a se dividir, gerando o Bitcoin ABC e o Bitcoin Satoshi Vision.

O SegWit

Em outubro de 2015, entre as duas conferências Scaling Bitcoin, os contribuidores do Bitcoin Core, Eric Lombrozo, Pieter Wuille, Wladimir van der Laan e Luke Dashjr discutiram no IRC um potencial novo modelo para divisões da rede, o chamado soft fork.

Durante esse bate-papo, Dashjr observou que o mecanismo proposto não funcionaria para todos os potenciais soft-fork, e citou o caso do Segregated Witnesse, conhecida posteriormente como SegWit. A atualização possibilitava aumentar a capacidade dos blocos do BTC, mas sem aumentar o tamanho.

Mais importante, a aprovação do SegWit não violava as regras do BTC, como faria um aumento nos blocos. Logo, a rede poderia aprovar essa medida sem correr o risco de sofrer uma divisão.

Entretanto, o SegWit recebeu críticas de apoiadores do aumento nos blocos, como era de se esperar. A principal delas partiu de Mike Hearn, desenvolvedor líder do Bitcoin XT e ex-desenvolvedor do Bitcoin Core. Hearn não se convenceu com a proposta: ele descartou a solução como uma “contabilidade criativa” e abandonou completamente o desenvolvimento do Bitcoin, pouco tempo depois.

Os detalhes de ativação do SegWit são longo e estão presentes neste texto escrito em 2018. Para resumir tudo, a atualização recebeu vários testes e finalmente veio à luz em 1 de agosto de 2017. Mesmo sem o apoio da maioria das grandes empresas, o SegWit prosperou, recebeu apoio dos mineradores e usuários, e marcou para sempre o Dia da Independência do Bitcoin!

Leia também: Blockchain é destaque em importante evento ambiental

Leia também: Binance lança token BAB para certificar usuário verificado na plataforma

Leia também: Binance vai paralisar saques de Cardano, Solana e outras 19 criptomoedas na quinta-feira (4)

Compartilhar
Luciano Rocha

Luciano Rocha é redator, escritor e editor-chefe de newsletter com 7 anos de experiência no setor de criptomoedas. Tem formação em produção de conteúdo pela Rock Content. Desde 2017, Luciano já escreveu mais de 5.000 artigos, tutoriais e newsletter publicações como o CriptoFácil e o Money Crunch.

This website uses cookies.