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Bitcoin SV altera sua própria blockchain e diz que a guerra em torno do Bitcoin Cash não acabou

Em um movimento amplamente criticado por grande parte da comunidade de criptomoedas, a implementação Bitcoin SV, liderada por Craig Wright, sofreu uma reorganização de blocos nesta segunda-feria, 19 de novembro, que culminou na adulteração da cadeia, na qual dois blocos diferentes foram sobrescritos, ou seja, dois blocos foram alterados. Ainda não está totalmente claro quem é o responsável por este movimento.

Em uma ponta, alguns especialistas apontam que o evento não teria sido um ataque externo, mas uma reorganização temporária devido à uma sobrecarga na atividade de transação causada por um teste de estresse planejado que teria sido anunciado pelo grupo Bitcoin Cash Professional Stress Test, composto em grande parte por proponentes do Bitcoin SV  e pretendia mostrar a capacidade do Bitcoin Cash e por isso teria realizado “o maior teste já realizado em qualquer blockchain pública” , no qual mais de 24 milhões de transações foram enviadas. No entanto, como aponta o desenvolvedor do Bitcoin ABC Jonathan Toomim, devido a um erro por parte do grupo, o teste só atingiu a implementação SV.

Na outra ponta estão outros analistas que não acreditam em teste de estresse, mas em manipulação pura de blockchain, indicando que o projeto é centralizado. Para o cientista-chefe da Bitcoin Unlimited, Peter Rizun, a CoinGeek teria reorganizado seus próprios blocos. Emin Gun Sirer, professor da prestigiosa Universidade Cornell, também concorda com Rizun e diz que o Bitcoin SV não tem ideia do que esta fazendo.

“O minerador que substituiu o bloco 557301 foi o mesmo minerador que gerou o bloco anteriormente. O BSV não tem ideia do que está fazendo. E todos sabiam disso. Não invista com um vigarista. Não há muito mais a ser dito sobre isso. Isso não deveria ser possível em um sistema descentralizado. Você só pode invalidar seu próprio bloco e criar uma nova cauda se for o minerador majoritário. O BSV é uma moeda centralizada.”

Esta reorganização dos blocos não ajudou a resolver a guerra entre as implementações e conturbou ainda mais o mercado. Nas exchanges, posições diferentes deixam os usuários confusos. A Coinbase anunciou que designará a implementação ABC com o ticker BCH e, portanto, a cadeia original do Bitcoin Cash, mas outras exchanges como Poloniex e Bitfinex até o momento não se decidiram e “congelaram”operações com o BCH, além de estarem adotado dois siglas diferentes para os tokens gerados: BCHABC ou BAB e BCHSV ou BSV.

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A guerra continua

Seis dias após o hard fork, a guerra continua e mesmo depois do evento, Wright insiste em declarar que sua intenção é eliminar a implementação ABC. Em face às críticas que vem sofrendo devido a reorganização de blocos em sua blockchain, o cientista-chefe da nChain afirma que as falhas na capacidade de rede na cadeia do Bitcoin SV estão longe de serem fatais e, em vez disso, encorajaram as empresas a começarem a operar na rede normalmente.

“No futuro, começaremos a nos abrir e permitir o uso comercial da blockchain do Bitcoin [ele se refere à sua implementação como o próprio Bitcoin] … Nos próximos anos, planejamos dar suporte a um tamanho ilimitado e a tantas transações que as pessoas estão dispostas a nos enviar”, escreveu Wright em um post do Medium. No Twitter, ele admitiu que há “áreas que precisamos melhorar” e afirmou que estava bem ciente de “o que é necessário”, mas também prometeu que em seis meses a capacidade de transação aumentaria para 2.500 transações por segundo na rede Bitcoin SV.

Apesar da clara liderança, de acordo com dados da Coin Dance, da cadeia ABC tanto tem termos de hash, como contagem de blocos, nós e suporte, Wright disse que os planos para ultrapassar a blockchain do Bitcoin ABC são inabaláveis:

“Ainda estamos competindo. Isso vai levar algum tempo. Esta não é uma divisão, esta é uma disputa em que um sobrevive e um morre e não seremos nós a morrer”, disse ele à Coindesk.

Wright argumenta que a cadeia Bitcoin SV acabaria sendo a vencedora por “falência” do outro lado. Segundo ele, a atual energia computacional ou “hash power” suportando a rede Bitcoin ABC era insustentável e, desta forma, uma desaceleração no hash permitiria que o Bitcoin SV ultrapassasse a cadeia ABC e a desativasse completamente. Wright referiu-se às suas táticas como “caça persistente”. “Nós estamos na cola deles, nós os rastreamos, nós os mantemos em alerta, nós basicamente fazemos eles gastarem dinheiro até que eles se esgotem por completo”, disse Wright. Segundo a BitMEx, ambos lados estão “queimando dinheiro” ao alugar hash em nuvem e redirecionar poder de computação da mineração do BTC para alguns dos lados da guerra.

Pelo lado do Bitcoin ABC, Roger Ver, CEO da agência de notícias Bitcoin.com, afirma que o atual poder de hash do Bitcoin ABC é sustentável por meses e atacou Wright. “Não é da sua conta a taxa de onde vem nosso hash e afirmo que ele não veio para um único dia, é pelo tempo que quisermos e podemos fazer isso por décadas”.

Mas falando sobre a possibilidade de um ataque de 51%, o desenvolvedor do Bitcoin Cash e defensor da implementação Bitcoin ABC, Chris Pacia, enfatizou em um post publicado no Medium que certas medidas já foram postas em prática para evitar reorganizações massivas em blocos validados na cadeia ABC, chamados checkpoints, o software adicional exclusivo da rede Bitcoin ABC garante que nenhuma proposta para substituir ou “reorganizar” blocos seja feita antes que um determinado “checkpoint” possa ser aprovado na blockchain – não importa se a proposta é feita pela cadeia mais longa. Embora criticada por ser contra os princípios centrais de consenso, Pacia afirma que a tecnologia de checkpoints tem sido amplamente usada desde 2010.

Mas, é importante notar que mesmo checkpoints não impedem completamente ataques de 51%. No entanto, o desenvolvedor e minerador do Bitcoin ABC, Jonathan Toomin, disse à CoinDesk que há outras opções, entre elas, soluções técnicas para além do poder de hash.

“Há também algumas soluções técnicas para proteger contra ataques de reorganização, mesmo sem taxa de hash, como escrever um código que simplesmente impede que as reorganizações tenham mais de seis blocos de profundidade”, disse.

A melhor conclusão de tudo isso, talvez seja a do próprio Ver, que declarou em 18 de novembro não haver nenhum vitorioso nesta guerra:

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Cassio Gusson

Cássio Gusson é jornalista há mais de 20 anos com mais de 10 anos de experiência no mercado de criptomoedas. É formado em jornalismo pela FACCAMP e com pós-graduação em Globalização e Cultura. Ao longo de sua carreira entrevistou grandes personalidades como Adam Back, Bill Clinton, Henrique Meirelles, entre outros. Além de participar de importantes fóruns multilaterais como G20 e FMI. Cássio migrou do poder público para o setor de blockchain e criptomoedas por acreditar no potencial transformador desta tecnologia para moldar o novo futuro da economia digital.

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