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A crise do Líbano e o impacto do Bitcoin no sistema financeiro local

A grande maioria dos bitcoiners (como são chamados os entusiastas do ecossistema do Bitcoin) mostra-se entusiasmada quando um país entra em crise financeira ou aplica controles de capitais sobre sua população. O entusiasmo não é pelo evento em si, cujas consequências são traumáticas para a população, mas sim pelo fato de que estas são grandes oportunidades para que o Bitcoin mostre o seu papel como refúgio financeiro.

No entanto, a recente crise ocorrida no Líbano mostra que pelo o país ainda está longe de ser o garoto propaganda ideal para a adoção das criptomoedas.

Corridas e feriados bancários

As notícias do governo libanês decretando feriados bancários para impedir que a população realize saques em massa foram recebidas com entusiasmo previsível pela comunidade global de Bitcoin. Para aumentar ainda mais o caos, o governo decretou que as pessoas no Líbano não podem mais enviar moedas estrangeiras, principalmente dólares e euros, para o exterior.

Além disso, devido ao acesso bancário fortemente restrito e à liquidez limitada fornecida pelas redes estabelecidas no país, a maioria dos civis libaneses também luta para adquirir Bitcoin e salvar parte do seu dinheiro.

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Ali Askar, bitcoiner de longa data residente no Líbano, disse à Coindesk que alguns grupos para negociações de Bitcoin nos aplicativos Telegram e WhatsApp quase dobraram de tamanho no ano passado – um desses grupos privados alcançou cerca de 300 membros no fim de semana passado. Após as notícias das limitações bancárias, a concessionária de carros Rkein Motors, com sede em Beirute, capital do país, prontamente começou a aceitar pagamentos em Bitcoin. Claramente, a criptomoeda está se espalhando.

“Bitcoin não vai ajudar as pessoas”

No entanto, existe uma forte desconexão entre os usuários diários de Bitcoin e o resto da população, assolada em uma região atormentada por conflitos econômicos e políticos. Um comerciante anônimo de Bitcoin com família no Líbano disse à Coindesk que, ao contrário do senso comum, o uso do Bitcoin beneficiaria apenas os mais ricos do país.

“O Bitcoin não vai ajudar as pessoas. Isso ajudará os políticos porque eles são os imundos ricos que têm acesso ao dinheiro”, afirmou o comerciante. Ele usa uma conta bancária europeia para comprar a criptomoeda e depois enviar para pessoas no Líbano.

“O Bitcoin poderia ajudar as pessoas, talvez, se estivessem em casa com 24 horas de eletricidade e Internet e pudessem trabalhar online para serem pagos pelo seu trabalho com Bitcoin. Esse é um cenário utópico. No Líbano, a Internet é muito cara. Falta eletricidade frequentemente, às vezes, temos eletricidade apenas seis horas por dia”, completou.

Outro problema é o acesso. A maioria das exchanges de Bitcoin não atende usuários libaneses. Além disso, fontes com conhecimento da situação dizem que as sanções recentemente impostas a um banco libanês supostamente conectado ao grupo paramilitar Hezbollah tornaram as empresas de criptomoedas mais cautelosas ao aceitarem transferências vindas de bancos libaneses.

Por conta disso, fontes dizem que os compradores de Bitcoin identificam suas operações apenas como “bens digitais”, não criptomoedas, em qualquer papelada ou mensagem digital relacionada à compra de Bitcoin no Líbano.

“É semelhante ao Irã”, disse um trader anônimo, acrescentando: “Pessoas e comunidades sofrem [de sanções] enquanto a elite encontra alternativas e os negócios continuam como de costume.”

Precificação em dólar

Para piorar as coisas, as raras exchanges que atendem clientes com contas bancárias libanesas costumam realizar as operações de Bitcoin com base no preço em dólares norte-americanos (USD). Devido à inflação galopante da moeda libanesa, o preço cobrado tende a ser absurdamente caro, inviabilizando o uso do Bitcoin aos mais pobres.

As mesmas taxas exorbitantes para exchanges locais se aplicam também às operações de base, manifestando-se na última como prêmios e não taxas de conversão de moeda.

Quatro comerciantes locais listados na plataforma p2p LocalBitcoins estão trabalhando com valores de Bitcoin no valor de mais de US$1.000 cada. Como existem poucas pessoas no local dispostas a vender Bitcoin por dinheiro, esses traders geralmente podem cobrar um prêmio de 10% em comparação com mercados que possuem maior liquidez.

Por conta disso, é preciso avaliar diversos fatores antes de colocar o Bitcoin como uma bala de prata para todo e qualquer país em crise financeira. Como já diz o ditado, “para quem só tem martelo, todo problema é um prego”, e não podemos reduzir o Bitcoin a apenas um martelo.

Leia também: Ex-presidente da CFTC afirma que governo Trump estourou a bolha do Bitcoin em 2017

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Luciano Rocha

Luciano Rocha é redator, escritor e editor-chefe de newsletter com 7 anos de experiência no setor de criptomoedas. Tem formação em produção de conteúdo pela Rock Content. Desde 2017, Luciano já escreveu mais de 5.000 artigos, tutoriais e newsletter publicações como o CriptoFácil e o Money Crunch.

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