Lançado em 2015 com a promessa de que os desenvolvedores poderiam usar sua tecnologia como uma “espinha dorsal segura” para um novo tipo de aplicativo, os DApps, o Ethereum chegou prometendo inovações “sem qualquer possibilidade de tempo de inatividade, censura ou interferência de terceiros”.
Até agora, no entanto, essa visão apenas alimentou uma explosão de arrecadação de fundos por meio das ofertas iniciais de criptomoedas (ICOs, na sigla em inglês) baseadas no Ethereum, vendidas como moeda local para aplicativos que estavam sendo construídos, mas em muitos casos ainda não tiveram um lançamento real.
Em outras palavras, embora as ICOs recebam seu dinheiro agora, os DApps (forma abreviada de aplicação descentralizada) reais estão sempre a um dia de distância. No entanto, alguns DApps estão começando a atrair milhares de usuários ativos diariamente.
Esses DApps têm algumas coisas em comum. Os cinco primeiros – Idex, ForkDelta, Bancor, CryptoKitties e LocalEthereum – facilitam as transações de criptomoedas de uma forma ou de outra, embora tenham uma gama de modelos de negócios.
Em comum também, projetos bem-sucedidos tendem a serem uma experiência intuitiva ao usuário, como apontou o co-fundador da LocalEthereum, Michael Foster: “Nós o projetamos deliberadamente para parecer um site comum”. Nate Hindman, diretor de comunicações do Bancor, foi na mesma direção e disse que o DApp foi “construído com a simplicidade em mente”. Bryce Bladon, co-fundador do CryptoKitties, atribuiu o sucesso do DApp ao fato de que “conseguiu apresentar aos consumidores a blockchain de uma forma divertida, interessante e acessível”, se referindo-se especificamente aos tokens de gatinhos.
O não requerimento de um token nativo nesses DApps também é algo que contribui para sua facilidade de uso. Bancor e Aurora Labs – empresa controladora da Idex – possuem ICOs, mas a propriedade desses tokens não é necessária.
Claro que se comparado aos maiores aplicativos centralizados, como o do Facebook, com mais de um bilhão de usuários ativos diários, os números desses DApps ainda são bastante tímidos.
“Criar aplicativos que não são apenas descentralizados, mas executados como aplicativos populares da web para o consumidor, não é uma tarefa pequena e exige infraestrutura específica que ainda está engatinhando”, observa Hindman. “O mundo blockchain está rapidamente alcançando suas aspirações, os consumidores estão despertando para o poder da descentralização”, pontuou.
“Soluções centralizadas são difíceis de superar em termos de conveniência. Elas são mais rápidas, familiares e entrincheiradas. Comparado ao Amazon Web Services, o processamento no Ethereum é 150 milhões de vezes mais caro”, aponta Bladon, que também classifica como “incrível o grande valor que as pessoas depositam em tecnologia sem confiança”.
À medida que as violações de dados e os outros lapsos das partes centralizadas se acumulam, os usuários “irão migrar para serviços descentralizados em massa”, prevê Hindman.
Um artigo publicado pela agência de notícias internacional Coindesk divulga os os cinco principais DApps do Ethereum por número de usuários ativos diários, com dados extraídos no DappRadar.
Criado pela Aurora, empresa que desenvolveu uma série de DApps de serviços financeiros, o Idex é uma exchange descentralizada com negociações entre os tokens ether e ERC-20. A bolsa entrou em operação em outubro e teve um crescimento rápido em janeiro, segundo o CEO Alex Wearn.
Wearn explicou no podcast Crypto Crypto, de Craig Cobb, que “você tem esses ativos digitais que podem se mover de forma peer-to-peer”, mas acrescentou que usuários de exchanges centralizadas como Binance, GDAX e Kraken, deram o controle da criptomoeda para essas operadoras, o que pode implicar em o risco de hackeamento ou roubo.
Idex, ao contrário, usa um contrato inteligente de Ethereum “publicamente verificável”. Em sua forma atual, no entanto, a Idex não é totalmente descentralizada. O servidor centralizado da Idex é usado em várias etapas do processo, como transações de enfileiramento no livro de pedidos, informa o “white paper” da Aurora, que ainda faz referência a uma planejada “versão totalmente descentralizada” da plataforma.
Semelhante ao Idex, o ForkDelta é uma oferta de exchange descentralizada que comercializa tokens de ether e ERC-20. Arseniy Ivanov iniciou o projeto em janeiro como um fork EtherDelta, outra exchange descentralizada.
Assim como no Idex, o livro de pedidos da ForkDelta é centralizado, embora a descentralização desse aspecto da exchange, assim como sua hospedagem, esteja listada no roteiro do projeto. O ForkDelta continua a usar o contrato inteligente do EtherDelta por enquanto, o que significa que as taxas na plataforma ForkDelta ainda vão para o EtherDelta.
O Bancor é um criador de mercado que permite aos usuários trocarem ether e um número crescente de tokens ERC-20 – 100 a partir desta semana – mas, ao contrário de uma bolsa tradicional, não combina compradores e vendedores. Em vez disso, o protocolo do Bancor visa fornecer liquidez entre diferentes ativos baseados no Ethereum usando “tokens inteligentes”, que Bancor diz criar um “mecanismo de liquidez embutido” através de contratos inteligentes.
O Bancor arrecadou US$150 milhões no ano passado, vendendo o primeiro desses tokens inteligentes, o BNT, em uma ICO.
O número de usuários foi contestado por Hindman, que disse ao CoinDesk que a base de usuários ativa diária é “significativamente maior” do que o DappRadar mostra – ele se recusou a revelar a estimativa do Bancor. O fundador da DappRadar, Skirmantas Januskas, disse que está em contato com o Bancor e “verá o que podemos fazer para garantir que os dados sejam 100% precisos”.
O CryptoKitties, que saiu da Axiom Zen em março, tem atraído mais atenção do que qualquer outro DApp: de jogadores, mídia, investidores , imitadores e não-usuários que sentiram os efeitos da popularidade do CryptoKitties devido ao aumento do congestionamento na rede Ethereum . Segundo estimativas da Bloxy, a base de usuários diária da CryptoKitties (medida por remetentes distintos) caiu cerca de 97% desde o pico em dezembro.
O jogo permite aos usuários coletar, trocar e criar gatos únicos e não replicáveis. Estes são, na verdade, tokens ERC-721, ativos baseados no Ethereum que, de acordo com o co-fundador do DApp, Arthur Camara, poderiam eventualmente ser usados para simbolizar ativos do mundo real , como arte e imóveis.
Bladon disse ao CoinDesk que o CryptoKitties recebe muito mais usuários em seu site do que diretamente através de seu contrato inteligente, que é a única referência ao DappRadar. O fato de que apenas uma parte dos jogadores da CryptoKitties interage com o jogo através do próprio contrato inteligente, no entanto, sugere algo maior: o CryptoKitties não é tão descentralizado quanto o rótulo “DApp” sugere.
Como a CoinDesk informou em dezembro, “o jogo é executado dentro de um banco de dados centralizado e opera principalmente a partir de um portal na Internet – o próprio site da CryptoKitties”.
O LocalEthereum facilita o comércio de ether entre os indivíduos, assim como o LocalBitcoins fez para o Bitcoin. O nome similar não é uma coincidência: “As pessoas perguntavam se havia um ‘LocalEthereum’ antes mesmo de o anunciarmos no ano passado “, disse Foster à CoinDesk.
O LocalEthereum funciona por meio de um contrato inteligente de custódia, que bloqueia o ether do vendedor até que ele certifique que recebeu o dinheiro do comprador – seja por meio de uma transferência de dinheiro em pessoa, transferência bancária ou outro método.
No caso de uma disputa, o contrato inteligente especifica um árbitro (por enquanto, apenas LocalEthereum, mas talvez eventualmente outras partes respeitáveis), que pode conceder o ether a uma dessas duas partes.
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