Quem será o dono do Bitcoin? SegWit2x muito mais que um Hard Fork

Mais um hard fork deve acontecer na rede do Bitcoin neste mês de novembro, provavelmente no dia 15 ou 16, com a chegada do bloco 494.784. Este, no entanto, não é apenas um simples hard fork, como aquele que gerou o Bitcoin Cash ou o posterior que originou o Bitcoin Gold, dessa vez a grande questão é quem será o “dono” do Bitcoin, ou seja, qual será a cadeia principal e com o maior hashpower do mercado.

Mas como assim ser o “dono” do Bitcoin?

No protocolo do Bitcoin existe uma programação chamada “Regra de Consenso“, um conjunto específico de regras que todos os nós completos utilizam. É crucial que todos os nós sigam as regras para manter a consistência e a segurança da rede, por exemplo, as regras de consenso do Bitcoin exigem que os blocos criem apenas um certo número de bitcoins. Se um bloco cria mais bitcoins do que é permitido, ele será rejeitado, mesmo que todos os nós e mineradores do mundo o aceitem. A adição de novas regras de consenso geralmente pode ser feita com um soft fork, onde não há uma quebra da cadeia principal, enquanto a remoção de qualquer regra de consenso requer um hard fork.

Nessa segunda alternativa é onde reside o “problema”. Quando há um hard fork, todos aqueles que não atualizam seu software cliente, acabam sendo “desligados” da rede, ou seja, se você não atualiza seu software com as novas regras, tudo que você faz não será mais considerado como parte da rede principal”. Devido a sua complexidade, para que um hard fork ocorra é necessário que 95% da rede dê apoio e suporte à nova mudança. Como diria um amigo, foi aí que a coisa deu um nó”, pois atualmente, a grosso modo,  a maioria dos mineradores e empresas querem a implementação do SegWit2x e anunciaram apoio à mudança. No entanto, os “herdeiros” do Bitcoin, o Bitcoin Core, que hoje é responsável pela Blockchain originalmente criada por Satoshi Nakamoto, é contra sua implementação.

Opiniões controversas

Duas frases, uma do Bobby Lee, CEO da BTCC, corretora e mineradora de criptomoedas chinesa, que gerou uma grande briga” na rede, e outra do colaborador do Bitcoin Core Eric Lombrozo são interessantes para entender o que está em jogo.

🚀 Buscando a próxima moeda 100x?
Confira nossas sugestões de Pre-Sales para investir agora

Eu esperava que a intenção de tudo isso fosse ativar o SegWit e depois trabalhar em conjunto, como comunidade, para construir um consenso para novas atualizações futuras. Em vez disso, transformou-se em um golpe, disse Eric Lombrozo.

Segundo as regras do Bitcoin, o Bitcoin (BTC) continuará a ser a cadeia que tem o poder de hashing mais acumulado e produz o Blockchain mais longo válido. A BTCC apoia a mineração de altcoins. No início deste ano, começamos a extrair Litecoins e começaremos a extrair o Bitcoin Cash em breve. No futuro, se a cadeia Bitcoin Core Legacy (BCL) sobreviver, consideraremos fornecer suporte ao BTCC Pool  com base na demanda do mercado, afirmou Bobby Lee.

Com esta frase, Lee afirma que, para ele, o Bitcoin (BTC) será aquele que tiver maior poder de hashing acumulado, ou seja, maior poder de mineração independente da posição do Bitcoin Core (o que leva a entender que a proposta do SegWit foi, na verdade, um golpe para “tomar de assalto” o bitcoin), que, segundo ele, se não aderir ao SegWit2x e o “Seg” tiver maior poder de hashing, as moedas que os desenvolvedores do Bitcoin Core produzirem, que hoje são consideradas o “verdadeiro” bitcoin, serão uma altcoin (como Ethereum, Bitcoin Cash, Ripple, IOTA e tantas outras).

Consequências dessa disputa

É importante entender que essa “briga” não começou do nada, mas vem de longas conversas entre a comunidade sobre as melhorias na rede Bitcoin, que sofre de problemas de escalabilidade (quanto mais pessoas enviam e recebem Bitcoins, a rede tende a ficar mais lenta e com mais transações pendentes). Por isso, dois acordos de mudanças foram feitos, um em Hong Kong, em 2016, e o outro em Nova York, neste ano. Nestes acordos foram propostas soluções para o problema da escalabilidade. A solução foi chamada de SegWit, que, entre outras melhorias, aumentaria o tamanho do bloco, hoje em 1MB (SegWit2x). O Bitcoin Cash, por exemplo, surgiu da discordância entre os prazos e propostas estipulados nestes acordos.

Apesar de assinarem os acordos, parte dos signatarios, dentre os quais está a equipe do Bitcoin Core, ao longo do tempo passaram a discordar de uma solução que, simplesmente, aumentaria o tamanho do bloco e passaram a não apoiar mais as regras para a mudança. Dai surgiu o embate e as dúvidas sobre o que vai acontecer afinal. Desta forma, o Segwit2x poderia ter resultados diferentes. Esses incluem:

1) Mudanças nas regras do bitcoin

A maioria (ou todos) os mineradores atualizam seus softwares. O bloco do bitcoin continua a funcionar, mas agora com blocos maiores de 2MB. As regras do Segwit2x tornam-se as regras do Bitcoin.

2) Surge uma nova altcoin

Uma pequena parte dos mineradores atualizam seus softwares. Isso cria duas blockchains, uma Bitcoin chamada “legacy” e uma bitcoin “Segwit2x”, ambas com regras diferentes e criptomoedas únicas.

3) As regras do bitcoin não mudam.

Nenhum grupo significativo de mineradores executa o novo software e a rede continua a executar as regras atuais. Não é criada nenhuma nova moeda e o bitcoin continua igual.

Meus bitcoins vão virar “Segwit2x” ou “Core”?

Embora seja muito cedo para dizer com certeza, a tendência mostra que o SegWit2x deve se tornar uma nova altcoin. Isso porque os desenvolvedores e apoiadores do Segwit ja adicionaram uma proteção contra ataque de repetição, como noticiamos aqui.

Uma nova altcoin já está listada no CoinMarketCap, chamada B2x, atualmente cotada em aproximadamente US$1.500. Além disso, tudo indica que o SegWit2x, embora deva ter o maior poder de hash da rede, não terá o consenso de 95%, pois no momento atual o plano possui cerca de 80% do hashpower da rede como signatários, mas alguns não estão apoiando. Isso inclui F2pool (que rege 5.6 por cento da rede) e Slushpool (responsável por 7.3 por cento), além do ViaBTC, quarto maior grupo em poder de mineração, os quais afirmaram (com vários graus de certeza) que não executarão o código. Além de toda a equipe do Bitcoin Core, que publicou recentemente uma lista contendo inúmeras empresas que são a favor do SegWit2x, alertando a comunidade que, estas empresas podem dizer que seus “bitcoins” são agora parte da cadeia “2x”, quando, segundo eles, a rede principal, ou seja, o Bitcoin, não será a “2x”.

Assim, tudo indica que será criada uma nova altcoin, possivelmente chamada B2x, que teria um enorme poder de mineração. Enquanto o Bitcoin Core continuaria sendo O Bitcoin (sem as mudanças da Segwit2x), mas com um poder de mineração imensamente reduzido para algo em torno de 20% do poder atual.

Quanto à mineração, o que deve ocorrer é que as pools, signatárias ou não do Segwit2x, em algum momento devem dar suporte, caso haja divisão na rede, para as duas moedas. Isso permitiria que o Bitcoin Core não perdesse tanto poder de mineração. Na implantação do Bitcoin Cash, por exemplo, as pools de mineração lentamente abriram-se para o novo software, com o ViaBTC iniciando a opção primeiro (ele que minerou o primeiro bloco e foi seu maior apoiador) e BTC.Top e o AntPool da Bitmain seguindo o exemplo na sequência.

Se nem os desenvolvedores e nem os grandes players sabem o que vai acontecer, o que eu faço?

Por enquanto todos nós temos que acompanhar, diariamente, as notícias sobre o assunto e, principalmente, como as empresas onde estão armazenados seus Bitcoins estão se comportando em relação à divisão. A Blockchain.info, por exemplo, disse em uma publicação oficial que seguirá a cadeia com a dificuldade mais acumulada (maior poder de hash) e chamará essa de “bitcoin”. Se a criptomoeda na chamada “cadeia minoritária” tiver um valor significativo, será disponibilizado para que os clientes guardem ou troquem.

Diferente do que aconteceu no hard fork do Bitcoin Cash, e mais recentemente no Bitcoin Gold, não trata-se apenas de deixar seus bitcoins em uma carteira segura, pois as carteiras também tem, até o momento, diferentes posições quanto ao SegWit2x e quanto ao que deve ser chamado de “Bitcoin“. Não trata-se apenas de “aguardar o fork para ganhar moedas grátis”, mas sobre o que vai ser ou não o próprio Bitcoin e, caso você não esteja atento aos acontecimentos, pode ser que seus Bitcoins sejam transformados em “B2X” sem que você tenha conhecimento disso ou mesmo apoie uma ou outra ideia. Portanto fique atento a todas as notícias e use essa reta final pré-fork para manter suas moedas seguras e com fácil acesso.

Compartilhar
Cassio Gusson

Cássio Gusson é jornalista há mais de 20 anos com mais de 10 anos de experiência no mercado de criptomoedas. É formado em jornalismo pela FACCAMP e com pós-graduação em Globalização e Cultura. Ao longo de sua carreira entrevistou grandes personalidades como Adam Back, Bill Clinton, Henrique Meirelles, entre outros. Além de participar de importantes fóruns multilaterais como G20 e FMI. Cássio migrou do poder público para o setor de blockchain e criptomoedas por acreditar no potencial transformador desta tecnologia para moldar o novo futuro da economia digital.

This website uses cookies.