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Polícia Civil do Paraná: GBB usou suposto roubo sofrido como desculpa para não pagar clientes

O Grupo Bitcoin Banco (GBB) passou por uma espiral de declínio em 2019, usando argumentos diversos para justificar a falta de compromisso com o pagamento de seus clientes.

A primeira justificativa utilizada foi o fechamento de suas contas pelo Banco Plural. Ademais, o GBB também alegou ter sido vítima de uma fraude, em que clientes sacavam mais valores do que poderiam. A segunda justificativa iniciou uma investigação criminal pela Polícia Civil de Curitiba.

Entretanto, a investigação é uma “desculpa justificada para o não pagamento de clientes por todo o país”. É o que conclui o delegado José Barreto de Macedo Júnior, do Núcleo de Combate aos Cibercrimes (NUCIBER).

Falta de interesse é estranha

O relatório começa relembrando sobre a fraude supostamente sofrida pelo GBB. Clientes supostamente forçaram um bug na plataforma, sacando de dois computadores diferentes na mesma hora, obtendo valor em duplicidade.

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Segundo o relatório, as contas ficavam com o saldo negativo, o que não era permitido pelo GBB. O delegado alega em seu relatório que, para sanar dúvidas sobre as “vagas alegações de fraude”, pediu esclarecimentos por parte do GBB.

Entretanto, nenhum relatório foi prestado pelo Grupo, maior interessado nos resultados da investigação. Macedo Júnior ressalta a estranheza do “eloquente silêncio das vítimas”.

Fortes incongruências

A primeira incongruência apontada pelo delegado do NUCIBER é a divergência do suposto rombo e os faturamentos do GBB em 2019. Macedo Júnior aponta que o rombo alegado de R$ 60 milhões não deveria interromper por tanto tempo as atividades da empresa, que afirmou ter faturado R$ 182 milhões até abril de 2019.

Ademais, em oitivas realizadas pela Polícia Civil, o diretor de tecnologia e o presidente do GBB afirmaram que o Grupo possuía cerca de 4 mil a 6 mil Bitcoins. Uma vez que o rombo alegado foi de 1.000 BTCs, o delegado entendeu ser incongruente a capacidade do rombo inviabilizar as atividades do GBB.

Importante ressaltar que, recentemente, a administradora judicial na recuperação judicial do GBB afirmou que o Grupo movimentou os BTCs que estavam em uma carteira que havia sido informada no início da RJ.

Claudio Oliveira chegou a dizer à Polícia Civil que o GBB detinha 20 mil Bitcoins. Consequentemente, o delegado do NUCIBER achou a história ainda mais controversa.

Macedo Júnior chega a dizer em seu relatório que há “completa falta de veracidade” nas afirmações de Oliveira.

Má-fé do GBB

A mudança de discurso de Oliveira também chama a atenção da Civil do Paraná. Inicialmente, o encerramento das contas pelo Banco Plural causou toda a crise; posteriormente, o rombo equivalente a um terço dos ganhos do GBB foi o responsável.

O relatório ainda afirma que o encerramento das contas bancárias não seria impedimento para pagamento. De acordo com um trecho do documento, “bastaria a transferência do montante das moedas digitais para outras carteiras seguras, fora dos domínios do grupo”.

Tal inércia do GBB foi caracterizada pelo delegado da seguinte forma:

“Esse detalhe, por si só, caracteriza de forma hialina a má-fé dos administradores do grupo.”

O delegado questiona repetidas vezes no relatório o fato de Oliveira afirmar saber quem são os fraudadores. Segundo um trecho do relatório:

“Ora, naquela entrevista, Claudio José de Oliveira alega saber quem são os culpados, porém a auditoria externa produzida não seria capaz de atribuir ou individualizar as responsabilidades. Aquela própria matéria arrematava: ‘por enquanto, não há provas nem da fraude, nem dos volumes’.”

Macedo Júnior chega a taxar de “inadmissível” a falta de registros que provem as fraudes. O relatório ainda aponta as inconsistências em relação aos acusados da fraude.

Um deles comprovou que não obteve vantagem sobre o GBB. Ao contrário, assim como muitas pessoas, não conseguiu sacar todo o dinheiro investido – figurando até mesmo como credor da recuperação judicial do Grupo.

Ademais, o “paciente zero” da fraude apontado como “Marcus Vinicius” não aparece na lista de suspeitos feita pelo GBB. O delegado afirma, indignado:

“É incompreensível, assim, que o primeiro agente identificado como mentor e responsável pelas fraudes sequer conste na denúncia formulada pela Empresa.”

Arquivamento da investigação

Macedo Júnior pede o “urgente arquivamento” da investigação. O delegado do NUCIBER fundamenta o pedido:

“Sem comprovar qualquer alegação, as empresas deram início a uma ampla persecução penal. Indicaram dezenas de nomes (todos fora do Estado) e invocaram a corrente investigação como desculpa justificada para o não pagamento de milhares de clientes por todo o país.”

Ele ainda acrescenta que os prejuízos “não conferem”, e a inexistência de informações é total. Macedo Júnior chega a dizer até mesmo que a investigação beneficiará o grupo quanto mais se prolongar.

Antes de concluir o relatório, o delegado critica o deferimento da recuperação judicial. A autoridade trata o deferimento como “surpreendente”. De fato, as justificativas aceitas para o deferimento foram o encerramento das contas e as supostas fraudes.

Contudo, conforme ressalta o delegado:

“Nenhuma dessas justificativas são reais. A uma, porque a fraude sequer foi comprovada e, se ocorreu nos moldes denunciados, seria incapaz de abalar a saúde financeira do grupo; a duas, porque o fechamento das contas pelo Banco Brasil Plural tampouco justificaria a ausência dos pagamentos dos milhares de clientes que não estavam envolvidos em fraudes.”

GBB encerra conta de quem reclama com EXM Partners

No grupo do GBB com traders operando nas plataformas do Grupo, as notícias são ruins. Os saques estão atrasados há semanas segundo depoimentos, com apenas alguns pequenos valores sendo liberados.

Um dos usuários supostamente chegou a investir 1 BTC no “Gira Gira 2.0”, conforme mostra a imagem abaixo:

Os atrasos estão sendo relatados à administradora judicial, EXM Partners. Entretanto, o GBB está encerrando as contas daqueles que reclamam. De acordo com o administrador do grupo, que conversou com pessoas que tiveram contas encerradas:

O que chama atenção é que o cancelamento da conta implica no saque dos valores. Contudo, investidores não conseguem sequer sacar seus valores.

Posicionamento do GBB

Até o momento da publicação desta matéria, o Grupo Bitcoin Banco não havia se posicionado.

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Gino Matos

Tenho 28 anos, sou formado em Direito e acabei fascinado pelas criptomoedas, ramo no qual trabalho há três anos.

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