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Opinião: bancos digitais, segurança e a verdadeira natureza do Bitcoin

Em 24 de outubro de 1929, o mundo financeiro amanheceu em pânico com a quebra da bolsa de valores de Nova York, nos Estados Unidos. O acontecimento que deu início à Grande Depressão, maior crise financeira da história, ocorreu numa quinta-feira e por isso recebeu o nome de “Quinta-Feira Negra.

Quase 90 anos depois, no dia 4 de maio de 2018, tivemos aqui no Brasil um episódio que poderia muito bem ser intitulado de “sexta-feira negra das fintechs”, embora tenha alcançado proporções muito menores do que o a crise de 1929.

No dia 4, os bancos Neon e Inter, dois dos principais bancos digitais do país, foram abalados por graves notícias. O Inter relatou ter sofrido uma tentativa de extorsão, a qual logo transformou-se em uma especulação sobre se os dados de milhares de clientes do banco teriam sido roubados ou não (o roubo foi prontamente negado pelo banco).

O caso mais grave ocorreu com o banco Neon. O Banco Central decretou na sexta-feira, 04 de maio, a interrupção e liquidação das atividades do banco. Com isso, os serviços de cartões, saques de investimentos e pagamentos foram todos suspensos. Isso gerou apreensão dos clientes sobre o dinheiro que estava preso em suas contas.

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Aos poucos, as atividades da fintech (cujas operações são separadas das do banco) voltaram ao normal, embora ainda tenham várias funcionalidades bloqueadas, como o uso dos cartões de débito físico e virtual e os saques de investimentos.

Buracos de segurança

Bloqueios de fundos, ameaças de vazamento de dados… os recentes acontecimentos parecem ter criado uma mistura improvável dos anos 1990 com o século XXI. Afinal, tivemos os modernos vazamentos de dados aliados com os bloqueios de fundos que existiram no passado.

Esses fatos mostram que as fintechs, por mais inovadoras em termos de facilidades e de relacionamento com o cliente que sejam, ainda são bancos. Elas ainda fazem o papel de terceiros de confiança nos quais armazenamos o dinheiro de nosso trabalho. Porém, terceiros de confiança também podem ser chamados de buracos de segurança.

Existem várias razões para deixar dinheiro em bancos: proteger o poder de compra da moeda, ter acessos a investimentos, praticidade, segurança, e várias outras. Para esses casos, um agente de custódia se faz necessário. Entretanto, tais agentes sempre incorrerão nos riscos próprios do sistema bancário – especialmente para bancos menores.

E foi pensando nessas falhas de segurança – e na devolução aos cidadãos do controle do dinheiro – que o Bitcoin foi criado. E a solução dessas falhas faz parte de sua verdadeira natureza.

O real propósito do Bitcoin

Se existe algo difícil de definir, esse algo é o Bitcoin. Há quem o chame de moeda. Outros chamam de ativo digital. Mais uns chamam de reserva de valor ou commoditie. Parece não haver consenso sobre sua natureza.

Porém, mesmo quem diverge nas definições acima concorda em alguns pontos: o Bitcoin surgiu como uma maneira de se fazer transação de valores sem depender de terceiros. Em suma, sem depender de bancos.

No título do paper original do Bitcoin, Satoshi Nakamoto definiu a moeda como um cash system. Essa expressão geralmente é entendida como “moeda” ou “meio de pagamento”, ambos servindo como uma forma de transferir e trocar valores diretamente entre pessoas. Funciona como uma troca em dinheiro físico, mas com a grande vantagem de poder ser feita a milhares de quilômetros de distância.

Além disso, outro grande propriedade da rede Bitcoin é a sua segurança e resistência a ataques. Em quase 10 anos de operações, a rede jamais teve qualquer tipo de bloqueio de fundos nas carteiras dos usuários, tampouco ocorreram vazamento de dados de quem possui bitcoins – algo improvável de acontecer, uma vez que as carteiras não possuem qualquer associação com nomes ou documentos de seus donos. Sim, bancos também sofrem ataques com pouca frequência, especialmente os bancos grandes. Mas mesmo estes são muito mais vulneráveis a episódios de quebra de segurança, especialmente de vazamento de dados, em virtude de seus sistemas centralizados.

Com o Bitcoin, tal problema praticamente desaparece. Se um computador da rede for atacado e tentar realizar qualquer bloqueio ou transação indevida, ele seria automaticamente rechaçado pelos milhares de computadores restantes na rede. Um fraudador, golpista ou hacker que busca extorsão simplesmente não tem sucesso em aplicar suas tentativas muna rede descentralizada e com milhares de “servidores” ao redor do mundo inteiro.

O Bitcoin, portanto, é um sistema que funciona com todas as características positivas de um sistema de banco suíço (privacidade, contas numeradas, segurança dos fundos) mas sem as suas fraquezas (as agências dos bancos). Seus reais propósitos, além de reserva de valor, são a transferência segura e privada de valores.

Em resumo, o Bitcoin é o banco digital por excelência.

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Luciano Rocha

Luciano Rocha é redator, escritor e editor-chefe de newsletter com 7 anos de experiência no setor de criptomoedas. Tem formação em produção de conteúdo pela Rock Content. Desde 2017, Luciano já escreveu mais de 5.000 artigos, tutoriais e newsletter publicações como o CriptoFácil e o Money Crunch.

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