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O Bitcoin é popular entre terroristas? Não na Palestina

Apesar de ainda existir a associação entre terrorismo e Bitcoin (que geralmente é feita por governos incomodados com a ascensão do criptoativo), o uso da criptomoeda entre os civis na Palestina é cada vez maior. De fato, segundo uma matéria da Coindesk, o uso do Bitcoin entre os civis é maior do que entre grupos terroristas do território.

“Existem alguns escritórios que atualmente faturam de US$5 milhões a US$6 milhões por mês”, disse Ismael Al-Safadi, desenvolvedor freelancer e usuário de Bitcoin morador de Gaza. Al-Safadi refere-se aos negociantes locais de criptomoedas, que já faturam milhões.

“Vi um escritório enviar 100 BTC em uma transação. Há também muitos pequenos clientes. Eles enviam quantias entre US$200 e US$1.000.”

Levando em conta os valores mencionados por Al-Safadi, a quantia – correspondente a transações lícitas no território da Palestina – supera as “dezenas de milhares de dólares” em transações ilícitas com Bitcoin reportadas no início desta semana pelo New York Times, numa reportagem que alardeava o uso da criptomoeda por terroristas.

Recurso contra o isolamento financeiro

No ano passado, a Coindesk informou que um negociante de criptomoedas palestino atendeu cerca de 50 clientes por mês, cujo valor médio de cada transação era de US$500 cada. Desde então, ele juntou dinheiro suficiente para sair da Palestina e se mudar para a Europa.

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E o crescimento não se restringe a poucos indivíduos. Fontes com conhecimento do assunto estimam que existem até 20 negociantes de Bitcoin operando na região de Gaza. O crescimento desse mercado tem uma explicação: como o PayPal e outros serviços on-line não operam em territórios palestinos, o Bitcoin é uma das únicas formas de freelancers e outros trabalhadores receberem pagamentos internacionais com facilidade.

O próprio Al-Safadi afirmou recebe mais de 70% de seus ganhos mensais em Bitcoin. Com base nos grupos de mídia social dos quais participa, o negociante estima que existam cerca de 10 mil usuários ocasionais de Bitcoin em Gaza. Segundo uma fonte anônima em Gaza, que ministrou seminários sobre criptomoeda para cerca de 300 palestinos desde 2017, apenas um grupo no Facebook focado em Bitcoin tem 5 mil membros ativos.

Essa mesma pessoa que ministrou os seminários disse que há um interesse nascente entre os palestinos por outras criptomoedas, como o Ethereum.

Plataformas de ajuda humanitária

Um palestino que vive dos Emirados Árabes Unidos (cuja identidade não foi revelada) está desenvolvendo uma plataforma de caridade baseada no Ethereum. Ele disse à CoinDesk que os primeiros testes distribuirão doações em criptomoedas para escolas nas regiões de Gaza e na Cisjordânia. Um experimento de teste começou na semana passada.

“As pessoas lá [na Palestina] estão começando a aprender e perguntam sobre isso (criptomoedas). Os palestinos estão usando mais o Bitcoin [do que o Ethereum] para fazer transferências internacionais e contornar os bloqueios israelenses”, afirmou o palestino.

É difícil dizer qual é o volume de transações locais, uma vez que o ecossistema de criptomoedas na Palestina não se conecta diretamente a bancos ou a corretoras globais. Em vez disso, existe o predomínio de transações peer-to-peer (P2P), grupos privados de mídia social e negociadores não oficiais.

Porém, as fontes de Gaza concordaram em um aspecto: a maioria dos usuários de Bitcoin locais está sacando seus fundos em moeda fiduciária, sem guardar criptomoedas diretamente ou utilizá-las para transações comerciais.

No entanto, talvez como uma consequência não intencional, a professora disse que a campanha de arrecadação de fundos do Hamas para coletar doações de Bitcoin do exterior para sua ala militar, as Brigadas Qassam, realmente impulsionou a conscientização entre a população civil.

“Todo mundo estava falando sobre ‘o que é Bitcoin’ então”, disse a professora sobre notícias em fevereiro, quando as empresas de análise de blockchain identificaram uma conta da Coinbase participando de uma campanha que arrecadou US$4 mil.

O efeito Hamas

Em parte um mercado negro cypherpunk, parte um estado policial movido pelo terrorismo, a Faixa de Gaza, desde 2018, gerou um ecossistema verdadeiramente único voltado para o uso do Bitcoin.

Por um lado, os empresários estão usando Bitcoin em números cada vez maiores graças à alta demanda por serviços financeiros móveis. De acordo com dados recentes da Autoridade Monetária Palestina apresentados em julho durante um workshop de tecnologia financeira na cidade de Rawabi, na Cisjordânia, 77% dos adultos nos territórios palestinos não possuem contas bancárias, apesar de 2,6 milhões de palestinos terem smartphones.

Al-Safadi disse que as operações das Brigadas Qassam são “secretas” e não estão publicamente relacionadas ao ecossistema civil de Bitcoin. No entanto, os negociantes de Bitcoin agora são obrigados a registrar o endereço da carteira, quantidade, nome completo e número de identificação de cada cliente para cada liquidação de registros policiais.

“Gaza funciona como um mercado negro”, disse ele, acrescentando que não sabe o que a polícia faz com essa informação de “vigilância”.

Enquanto isso, as Brigadas Qassam do Hamas aumentaram sua estratégia de captação de recursos por meio de Bitcoin. Segundo o New York Times, o site da Qassam Brigade agora apresenta um tutorial de como utilizar Bitcoin e um gerador de endereços de carteira para criar uma nova conta para cada doação.

Uma fonte anônima com conhecimento do assunto disse que estas doações excederam US$ 12.000 até o momento. Um especialista em lavagem de dinheiro (que pediu anonimato), com conhecimento das operações do Hamas, estimou que a mineração de Bitcoin feita pelo grupo terrorista trouxe US$195.000 em criptomoedas apenas neste ano.

Tais atividades relacionadas ao Bitcoin são geralmente consideradas não-conformes pelos bancos locais, uma vez que ainda existe um conflito de longa data entre as facções políticas palestinas em diferentes territórios. Uma porta-voz do Banco da Palestina, que opera tanto na Faixa de Gaza, governada pelo Hamas, quanto na Cisjordânia, governada pelo Fatah, disse à CoinDesk que a Autoridade Monetária Palestina proíbe transações institucionais com Bitcoin.

“Como um banco, nós não podemos negociar com [Bitcoin] ou usá-lo sob quaisquer circunstâncias”, disse a porta-voz do Banco da Palestina.

Leia também: Pompliano afirma que o Bitcoin estará nas carteiras de todos investidores institucionais

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Luciano Rocha

Luciano Rocha é redator, escritor e editor-chefe de newsletter com 7 anos de experiência no setor de criptomoedas. Tem formação em produção de conteúdo pela Rock Content. Desde 2017, Luciano já escreveu mais de 5.000 artigos, tutoriais e newsletter publicações como o CriptoFácil e o Money Crunch.

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