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Ethereum: saques de staking geram debate entre desenvolvedores

Com o sucesso da atualização de mesclagem do Ethereum em setembro, todos os olhos estão voltados agora para os saques. Ou seja, a possibilidade de quem faz staking de Ether (ETH) poder sacar suas criptomoedas.

Conforme noticiou o CriptoFácil, a equipe do Ethereum pretende liberar os saques na próxima atualização, chamada de Shanghai. Seu primeiro teste ocorrerá em fevereiro e se tudo correr bem, a atualização final deve ser lançada em março.

No entanto, já surgiu um problema de última hora: uma divergência entre os principais desenvolvedores do Ethereum. Um grupo defende que ainda é muito cedo para liberar os saques, e que a pressa pode causar problemas na rede. 

Além disso, o grupo defende que a função de saques precisa de mais testes e que estão liberando a atualização às pressas. Nesse sentido, o grupo acusa parte dos desenvolvedores de se preocupar mais com a “opinião pública” do que com a segurança da rede.

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Dissidência sobre os saques

Pelos planos dos desenvolvedores, a atualização Shangai estará pronta até março. Mas, recentemente, um pequeno grupo desenvolvedores do Ethereum começou a expressar preocupações sobre o prazo que o grupo estabeleceu.

De acordo com o grupo, há um excesso de pressa no lançamento do Shangai por medo de represálias públicas. Mas essa pressa pode sacrificar aspectos técnicos que podem ter um impacto duradouro na rede.

O desenvolvedor Micah Zoltu manifestou essa preocupação durante um encontro dos desenvolvedores. “Parece que não estamos pensando na saúde de longo prazo do Ethereum. Estamos pensando: ‘Como podemos fazer o que o público quer, hoje?’”, disse.

Junto com Zoltu, outra parte dos 30 desenvolvedores do Ethereum estão preocupados. Eles pedem um prazo maior para que a equipe possa fazer ajustes na atualização antes de lançá-la em definitivo. O grupo alerta que abrir mão de um ajuste técnico para Xangai exponha a Ethereum a uma dívida técnica desnecessária, com implicações desconhecidas para os próximos anos e décadas.

De acordo com o grupo, é preciso estender o prazo de lançamento da atualização mais um pouco. Os desenvolvedores pediram uma prorrogação de duas a quatro semanas extras para implementar o Shangai.

Só que o restante dos principais desenvolvedores do Ethereum não estava disposto a deixar o público esperando. Mas o que é a tal “dívida técnica” que os dissidentes apontam como um risco para o Ethereum?

Dívida técnica, o que é?

No jargão dos desenvolvedores, dívida técnica refere-se a trabalho futuro ou dores de cabeça criadas quando os desenvolvedores de software priorizam a velocidade de lançamento de um produto em detrimento do código perfeito.

Os desenvolvedores dissidentes alegam que isso está ocorrendo com o Shangai. Para acelerar o lançamento, os desenvolvedores decidiram não tornar as retiradas de ETH compatíveis com serialização simples, ou SSZ, um método de codificação moderno e flexível descrito pelos desenvolvedores como “o futuro da codificação Ethereum”.

Em vez de usar SSZ, o Ethereum vai aderir a outro método chamado serialização de prefixo de comprimento recursivo, ou RLP. Mas há um problema: este método de codificação corre o risco de ficar obsoleto e até, eventualmente, deixar de existir.

A diferença seja altamente técnica e parece apenas questão de semântica, mas ela pode criar dores de cabeça intermináveis para os desenvolvedores no futuro. E os desenvolvedores estão atentos nisso, tanto que já pensam na atualização futura pís-Shangai.

Nesse sentido, um grande contingente de desenvolvedores principais da Ethereum sinalizou sua disposição de mudar as retiradas de ETH para o novo método de codificação na atualização “Cancun”, que deve vir após o Shangai.

O problema é que tal correção ainda significaria que qualquer atividade de retirada iniciada entre Xangai e Cancun estaria codificada com o método antigo. E graças ao livro-razão imutável do Ethereum, essa atividade – mesmo que ocorresse em alguns meses – poderia continuar valendo na blockchain para sempre.

Isso significa que os desenvolvedores terão que traduzir toda essa codificação do método antigo para o novo, demandando um esforço trabalhoso. Além disso, a incompatibilidade criada pela codificação de retiradas antecipadas com o antigo método RLP e o restante com o novo SSZ pode ter repercussões de maior alcance.

Problemas históricos

Por que, então, a maioria dos desenvolvedores do Ethereum está tão relutante em gastar algumas semanas extras evitando uma quantidade incalculável de problemas futuros? Para Matt Nelson, outro desenvolvedor que defende o adiamento, a resposta tem muito a ver com a história recente.

Desde seu lançamento em 2015, o Ethereum possui um histórico nada favorável de promessas de atualizações e muitos atrasos. O próprio The Merge, por exemplo, tem discussões desde 2016, mas o lançamento só ocorreu mais de seis anos depois. 

Nesse meio tempo, a liderança do Ethereum se viu justificando o longo roteiro da atualização para investidores descontentes e membros da comunidade. De fato, os atrasos viraram uma rotina a ponto de muitos pensarem que a equipe jamais lançaria o The Merge.

Somente em 2021 os planos do The Merge ficaram mais claros, mas a data de lançamento da atualização foi repetidamente marcada, devido a considerações técnicas. Aparentemente, a equipe não quer passar pelo transtorno de adiar atualizações novamente.

“Acho que a linha do tempo [atual de Xangai] definitivamente foi impulsionada por muito do escrutínio que foi colocado de forma justa na fusão, que foi adiada inúmeras vezes pelos motivos certos, mas ainda assim foi adiada”, disse Nelson.

Os desenvolvedores do Ethereum, diz Nelson, estão relutantes em atrair novamente a ira das massas. Isso é em parte compreensível para ele, já que o Shangai impactará dezenas de bilhões de dólares em fundos, parte dos quais está bloqueada com a rede há anos. E provavelmente os usuários não irão tolerar muitos atrasos no que se refere ao seu dinheiro.

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Luciano Rocha

Luciano Rocha é redator, escritor e editor-chefe de newsletter com 7 anos de experiência no setor de criptomoedas. Tem formação em produção de conteúdo pela Rock Content. Desde 2017, Luciano já escreveu mais de 5.000 artigos, tutoriais e newsletter publicações como o CriptoFácil e o Money Crunch.

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