Entrevista exclusiva: exchange chilena fala sobre o “boicote” dos bancos no país

Recentemente, as corretoras de criptomoedas do Chile estão sofrendo um “boicote bancário”, conforme reportado anteriormente pelo Criptomoedas Fácil. A medida adotada pelos bancos tem impedido que as pessoas adquirem criptomoedas através das exchanges utilizando pesos chilenos (moeda fiduciária local). A decisão arbitrária dos bancos não corresponde com as recentes decisões do governo do país, que adotou provas de conceito utilizando a tecnologia blockchain.

Em meio a este processo, as exchanges chilenas tem perdido clientes e dinheiro. Para falar sobre o tema, de como anda o mercado de criptomoedas no Chile, o Criptomoedas Fácil conversou com Guilherme Ávila, gerente de vendas da CriptoMarket. Confira a entrevista:

Criptomoedas Fácil: Por que você acha que os bancos estão “boicotando” as exchanges no Chile?

Guilherme Ávila: Sabemos que os bancos não inovam e que hoje, no século XXI, é muito caro e lento enviar um valor a outro país. Não é uma suposição pensar que poderíamos oferecer produtos competitivos no futuro. De fato, a matriz global do Santander acaba de lançar um serviço para enviar valor internacionalmente usando blockchain. Isso mostra como o mercado cripto/blokchain pode representar uma revolução ao sistema tradicional, acredito que isso tem causado um certo “medo” entre os bancos tradicionais. Existe também um medo de que os argumentos inválidos gerados pelos altos executivos dos bancos chilenos sejam massificados e adotados em outras nações. Mas esse medo acaba quando vemos que muitos países pelo mundo estão progredindo na adoção de regras para o mercado cripto, mas ao mesmo tempo permitindo que a inovação continue, como México, Canadá, Japão, Dubai, Estônia, Colômbia, entre outros.

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CF: Como essa decisão dos bancos está afetando as pessoas?

GA: É muito importante notar que todos os usuários que operam no Brasil, Argentina ou Espanha não são afetados pelo boicote bancário chileno. Os mercados continuam operando, na verdade, têm aumentado em liquidez e em profundidade nas últimas três semanas. Também decidimos lançar campanhas (plano de indicações, marketing, comissões mais baixas, etc) que incentivam o crescimento nesses países. Os usuários afetados são apenas aqueles que operaram no Chile e dependendo do uso que foi dado à plataforma, as pessoas podem ser afetadas de diferentes maneira:

  • Muitos usuários que enviaram dinheiro para suas famílias através de criptomoedas agora precisam voltar aos canais tradicionais mais caros, lentos e com processos semi ou 100% manuais;
  • Desde que fecharam as contas bancárias no Chile, o valor das criptomoedas no mundo aumentou mais de 35% (no momento da escrita), isso significa que muitos investidores estão perdendo inúmeras oportunidades;
  • As pessoas não conseguem mais comprar criptomoedas nas exchanges com pesos chilenos, isso limita extremamente o mercado e os novos investimentos;
  • Por medo de nunca mais poderem operar com exchanges no Chile, muitos usuários optaram por vender / liquidar suas criptomoedas;
  • Aquelas empresas que já aceitavam criptomoedas ou pensavam em fazê-lo como meio de pagamento global estão repensando seus planos no Chile.

CF: Quais as reais opções para operar frente a esse cenário?

GA: Como empresa não temos opções reais de seguir operando no Chile. Estamos tentando conseguir fazer alianças com parceiros que nos permitam resolver o processo de depósito e saque de dinheiro em pesos chilenos. Mas não existe nenhum que cumpra um alto padrão de KYC (conhecimento de cliente) que nos permite estar tranquilos de que 100% dos fundos depositados e das transações chegarão exclusivamente aos nossos usuários e não a terceiros.

CF: Em que estado encontra-se a ação de proteção que vocês ajuizaram? Vocês pretendem fazer uma apresentação ao Tribunal de Livre Concorrência?

GA: Após o ajuizamento do recurso, o tribunal ordenou que o banco Scotiabank informasse sobre os fatos objetivos da ação executada. O banco enviou seu relatório com suas justificativas nesta semana e a CryptoMarket respondeu enviando suas posições contrária às defesas do Scotiabank. Também estamos trabalhando com advogados especializados e abrimos um processo no Tribunal da Livre Concorrência, uma vez que este é claramente um problema de impedir que um concorrente potencial cresça. Estamos, ao mesmo tempo, elaborando um recurso legal que apresentaremos ao Supremo Tribunal Federal para exigir que os bancos nos abram contas, em particular, nosso processo é contra o Scotiabank.

CF: Diante deste cenário, quais são os planos da CryptoMarket no curto e médio prazo para enfrentar essa situação?

GA: A CryptoMarket é uma empresa global, suas operações na Argentina, Brasil e Espanha cresceram inversamente proporcional ao impacto negativo que tivemos no Chile. O número de novos usuários no resto do mundo tem aumentado nas últimas semanas e continuaremos implementando novas aplicações que durante os próximos quatro meses nos permitiram continuar crescendo e adicionando cada vez mais serviços para expandir nossa base em outros países mesmo com esta situação incômoda no Chile. No Brasil, por exemplo, o objetivo é crescer e levar aos usuários brasileiros a grande experiência que temos, somos hoje a exchange latina com a melhor e mais alta classificação nas redes sociais por nossos próprios usuários. O Brasil é um grande desafio, mas como equipe, trabalhamos há mais de um ano no projeto Brasil e com 50% dos brasileiros na equipe de suporte, acreditamos que vamos cumpri-lo.

CF: Como você acredita que a revolução das criptomoedas mudará todo o mercado financeiro?

GA: Acreditamos que esta revolução vai mudar o mercado global, conseguindo a democratização do dinheiro, e dar a todos exatamente as mesmas possibilidades de se aproximar de uma tecnologia revolucionária, que permita digitalizar o valor e tornar os processos muito mais simples e eficientes. Acreditamos que podemos ser o principal ator a gerar mudanças na região, permitindo que milhares de pessoas e empresas se aproximem de uma economia digital 2.0. Ser capaz de aceitar e receber pagamentos internacionais em segundos, sem intermediários que não agregam valor e com uma comissão decrescente. Isso é uma revolução.

CF: Durante as reuniões do G20, o Chile foi um dos países amigáveis em relação as criptomoedas, no entanto, agora parece haver uma mudança. Como órgãos do Estado abordaram esta questão?

GA: Acreditamos que isso será resolvido. Como uma nação assumimos que a inovação econômica é uma realidade. Um marco regulatório é necessário. E como CryptoMarket, estamos em constante colaboração e disposição para fazer com que isso aconteça o mais rápido possível.

CF: Há uma união das exchanges para reverter este processo?

GA: Todas as exchanges devem trabalhar em conjunto para este e outros problemas, para definir um padrão em qualidade de serviço, comissões, transparência e segurança. Para que as pessoas possam ter certeza de que operam com sites e equipamentos de primeira qualidade globalmente. Devemos estar em constante comunicação fluida com os usuários e com os privados, para que todos entendam o impacto positivo que poderíamos ter no caso de promover essa tecnologia corretamente.

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Cassio Gusson

Cássio Gusson é jornalista há mais de 20 anos com mais de 10 anos de experiência no mercado de criptomoedas. É formado em jornalismo pela FACCAMP e com pós-graduação em Globalização e Cultura. Ao longo de sua carreira entrevistou grandes personalidades como Adam Back, Bill Clinton, Henrique Meirelles, entre outros. Além de participar de importantes fóruns multilaterais como G20 e FMI. Cássio migrou do poder público para o setor de blockchain e criptomoedas por acreditar no potencial transformador desta tecnologia para moldar o novo futuro da economia digital.

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