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Entrevista com Fernando Ulrich: “Certamente vamos poder pagar um café com Bitcoin”

O Blockchain Festival, que aconteceu semana passada em São Paulo, trouxe grandes nomes do setor para debater, apresentar e mostrar os desenvolvimentos que vêm sendo feitos no mercado de criptomoedas e blockchain.

Enquanto no palco principal, palestrantes compartilhavam seu conhecimento sobre algumas particularidades do universo cripto, do lado de fora, outros participantes aproveitavam para estreitar relacionamento e também tirar dúvidas com grandes nomes do setor e representantes do Banco Central, BNDES, Microsoft, R3, entre outros.

Neste clima de interconectividade, o Criptomoedas Fácil conversou com Fernando Ulrich, economista chefe da XP Investimentos, uma das maiores corretoras de investimentos independente do Brasil, que, conforme especulações, está buscando iniciar operações com Bitcoin e criptomoedas. Ulrich, que não pode falar sobre os planos da XP, falou sobre regulamentação e Lightning Network.

Criptomoedas Fácil: Como você vê o processo de regulamentação que vem sendo debatido em nível internacional e também aqui no Brasil?

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Fernando Ulrich: Acredito que por conta do ano eleitoral, aqui no Brasil, nada irá para frente em termos de regulamentação. Em nível mundial nós vemos esta questão do G20 que deve divulgar em julho um comunicado conjunto mais específico sobre a regulamentação. Acho que isso pode vir, mas também talvez não venha, dada a complexidade de conseguir um consenso entre 20 nações com posições diferentes e por vezes contraditórias. O fato é que todo mundo ainda está tentando entender este negócio, tanto o mercado tradicional, investidores, pessoas, empresário e também os reguladores principalmente, eles estão tentando entender como tudo isso funciona, veja a SEC e a CFTC, por exemplo, que hoje estão num processo mais avançado em termos de tentar entender e mesmo educar o mercado. A SEC recentemente fez um site, como um Fake ICO, justamente para tentar mostrar para o público como agem alguns agentes maliciosos e assim mostrar para os investidores e público em geral que se você ver um site como esse provavelmente será um esquema, um golpe. Então isso para mim é muito importante. A questão regulatória passa primeiro por um processo de aprendizado e isso demora tempo, infelizmente. No entanto, eu fico contente que não estão tomando, pelo menos até o momento, nenhuma atitude nociva sem antes entender do que se trata. Isso para mim é o caminho embora ele acabe sendo mais longo do que nós gostaríamos que fosse.

CF: No Brasil, recentemente, duas associações foram constituídas com o intuito de auxiliar o setor, como você vê este processo?

FU: Eu acho que é importante que as associações do setor que foram lançadas aqui no Brasil tenham uma visão convergente. Já conversei com muitas pessoas que integram ambas as associações e em todas as conversas vi que as visões são convergentes e isso é muito importante. Acho que isso é retrato do setor que ainda é imaturo e esta crescendo, buscando se organizar para ter uma representatividade melhor perante reguladores, perante opinião pública e autoridades em geral. Eu sempre tento procurar ver com bons olhos e não vejo nada, por enquanto, que possa desabonar qualquer uma das entidades e no que eu puder contribuir com as duas eu quero contribuir desde que a visão de ambas sejam convergentes no sentido de fomentar o setor como um todo e não um ou outro player.

CF: Você acredita que o setor precisa avançar em propostas de autorregulamentação, como temos visto em outros países?

FU: Eu acho que é importante no sentido de que são as empresas que estão operando a mais tempo e que entendem do setor, da tecnologia, dos riscos, como funciona a segurança, entre outros. Os reguladores não vão entender disso tudo com a profundidade que entende quem está atuando nessa área. Nesse sentido isso é muito importante e em alguns países do mundo isso já é uma realidade. Na Suiça, você tem as chamadas SRE então alguns setores já trabalham com autorregulamentação. Eu prefiro e acho que é mais benéfico para o setor uma regulamentação que seja auto imposta pelo setor privado junto com as entidades do que algo que venha de cima que não está de acordo com a tecnologia e que pode mais atrapalhar do que ajudar; que não traga nenhum benefício para o setor ou para os consumidores. É preciso encontrar um meio termo entre as duas formas.

CF: Em relação ao Bitcoin e à Lightning Network, você acredita que em breve vamos poder pagar um café com Bitcoin?

FU: Sem dúvida que ela, a Lightning Network, é uma das soluções mais promissoras e a que tem mais contribuidores, testes e desenvolvimentos e até mesmo projetos paralelos a ela que envolvem outros protocolos, que funcionam dentro da LN. Então acho que é uma tecnologia muito promissora e por tudo que tenho acompanhado, eu acho que ela é tão revolucionária quanto o próprio Bitcoin. É interessante que ela não tem nenhum moeda própria é um protocolo a parte, um protocolo de pagamento que não serve exclusivamente para o Bitcoin serve para outras moedas que tenham a mesma linguagem de script como a Litecoin, Decred, etc. Então eu realmente acho que é uma das grandes tentativas de prover escalabilidade mas não vai ser a única e também não vai ser assim simples, como “ela conseguiu acabou e pronto”, a escalabilidade é um alvo que se move e assim como ela, outras tecnologias necessariamente vão surgir ao longo do tempo e acredito sem dúvida que em breve vamos poder pagar um café tranquilamente utilizando Bitcoin.

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Cassio Gusson

Cássio Gusson é jornalista há mais de 20 anos com mais de 10 anos de experiência no mercado de criptomoedas. É formado em jornalismo pela FACCAMP e com pós-graduação em Globalização e Cultura. Ao longo de sua carreira entrevistou grandes personalidades como Adam Back, Bill Clinton, Henrique Meirelles, entre outros. Além de participar de importantes fóruns multilaterais como G20 e FMI. Cássio migrou do poder público para o setor de blockchain e criptomoedas por acreditar no potencial transformador desta tecnologia para moldar o novo futuro da economia digital.

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