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DEV do Ethereum afirma que a tecnologia descentralizada só irá ganhar quando a centralização falhar

O Ethereum, a segunda maior criptomoeda do mercado, é também, em boa parte, responsável por todo o hype em torno da tecnologia blockchain. Por conta dela e pelo fato dela permitir contratos inteligentes, inúmeras ofertas iniciais de moedas (ICOs, na sigla em inglês) surgiram, prometendo integrar a blockchain a diversas aplicações cotidianas.

Para conversar um pouco sobre este panorama, o Criptomoedas Fácil conversou, durante o Blockchain Festival, que aconteceu semana passada em São Paulo, com Alex Van de Sande, que é designer e trabalha para a Fundação Ethereum desde 2014. Atualmente, Alex lidera o desenvolvimento do projeto Mist, um browser que se utiliza do poder dos contratos inteligentes na blockchain para criar uma internet mais descentralizada. Confira a entrevista.

Criptomoedas Fácil: Um dos problemas que tem afetado as blockchains públicas é a escalabilidade. A Ethereum está trabalhando em diversas soluções para este problema. Como estão esses desenvolvimentos?

Alex Van de Sande: Eu não trabalho na solução de escalabilidade da Ethereum, eu trabalho na parte de experiência de usuário e design, que acho que é uma questão importante para a adoção em massa da tecnologia blockchain. Sobre a escalabilidade fico feliz que quem está tocando isso não é apenas a Fundação Ethereum e o Vitalik pessoalmente, mas na verdade uma série de grupos quase que competindo por soluções. São várias soluções, o Plasma, o Sharding, Sidechains, entre outras que tem duas coisas muito em comum, embora sejam soluções muito diferentes. Uma delas é a ideia de você criar mini-blockchains em cima da blockchain principal; criar sub-blockchain, várias soluções pretender trabalhar desta forma. Outra é você usar descentralizar a maior parte das transações e tirá-las da blockchain principal, assim, ao invés de fazer uma transação diretamente on-chain, você assina uma mensagem faz várias transações off-chain e usa o blockchain somente como forma de resolver pendências e conflitos.

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CF: Você acredita que há, dentro deste espectro, uma solução única ou diversas soluções que irão trabalhar em conjunto?

AS: Enquanto umas soluções vão funcionar, tenho a impressão de que muitas outras soluções não vão funcionar e outras ainda que vão funcionar mas não serão adotadas. No entanto, muitas dessas soluções podem ser usadas em conjunto e podem ser usadas até em momentos diferentes. Existem soluções que você pode usar agora e outras que só estarão disponível no ano que vem ou daqui há dois anos. Muitas delas podem ser usadas para casos de uso diferentes. Na verdade, acredito que com o tempo elas vão se tornar um grande conjunto de ferramentas para você construir coisas diversas.

CF: A Lightning Network surgiu na rede do Bitcoin por conta das questões relacionadas à escalabilidade, e ela possibilita, entre outros, transações atômicas. Você acha que esta “troca” entre blockchains pode também ser, de certa forma, uma solução para a Ethereum?

AS: Transações atômicas em geral se refere a você fazer uma transação imediata entre blockchains. Assinando mensagens entre si as pessoas consegue transacionar entre as blockchains. Eu acho que isso facilita você trocar informações entre blockchains o que permite que você faça exatamente o que falamos antes sobre escalabilidade, que você faça pequenas blockchains se conectarem entre si. Enfim, isso é apenas uma das coisas que formam a parte de um todo, por exemplo, muitas das ICOs criam seus tokens no Ethereum e uma das vantagens disso é que eles não precisam fazer transações atômicas para trocar os tokens entre si, você tem muitos aplicativos DEX, Exchanges Descentralizadas, que usam o protocolo 0x que permite que você troque qualquer ativo com qualquer outra ativo ERC-20. Eu acho tudo isso muito interessante, mas acho muito mais interessante a possibilidade da troca de informações. Assim transações atômicas, ao meu ver, são mais importantes no ponto em que permitem a troca de informações entre blockchains, assim podemos ter 300 ou infinitas blockchains diferentes mas interligadas, isso para mim é muito mais importante que a questão do trading porque eu acho que o trading é um limite e a tecnologia permite milhares de outras coisas muito mais interessantes.

CF: Criptomoedas como o Bitcoin Cash (BCH) estão implementando atualizações para oferecer contratos inteligentes em suas blockchains, isso pode significar que a Ethereum pode perder o trono entre as ICOs?

AS: Preciso admitir que não estou muito por dentro deste fork do Bitcoin Cash (BCH), mas, por exemplo, o Rootstock é muito vendido como a possibilidade de trazer contratos inteligentes para o Bitcoin, mas na realidade ele tem uma certa “malandragem”. Ele é na verdade um fork do Ethereum e que tem uma moeda própria, que eles dizem que tem equivalência com ao Bitcoin, mas na verdade quando você usa o Rootstock você usa uma moeda própria que na verdade é um fork do Ethereum, que só é um Bitcoin porque você tem uma multisign de pessoas que prometem que vão te dar um bitcoin por um Rootstock. Eu fico muito feliz de ver outras plataformas disponibilizando contratos inteligente, eu acho realmente que isso é o futuro. Eu não conheço em detalhes a solução do Bitcoin Cash, mas eu acho tem que ser muito mais do que simplesmente falar que tem a possibilidade de permitir contratos inteligentes, vai além disso, e envolve trabalhar interface; ter ferramentas e linguagem de programação que precisam ser simples, treinar pessoas, enfim muitos outros detalhes do que apenas dizer “eu possuo contrato inteligente”. E acho que nós não temos que pensar em uma blockchain x outra blockchain, temos que pensar o seguinte, nosso objetivo é querer uma internet menos centralizada e isso só vai acontecer com várias blockchains. Eu acho que o Ethereum domina as ICOs hoje em dia, e eu espero que duas coisas aconteçam, primeiro espero que a Ethereum não dominem as ICOs para sempre e espero que as ICOs parem de trabalhar com Ethereum porque temos coisas muitos mais interessantes para fazer. Segundo tomara que outras tecnologias permitam contratos inteligentes porque nosso objetivo é conseguir fazer gastos públicos mais transparentes, internet mais descentralizada entre tantas outras coisas.

CF: Outro tipo de DLT surgiu, de certa forma, como uma “evolução” da blockchain, os DAGs (Directed Acyclic Graph). Como você os vê e como eles podem trabalhar com as blockchains atuais?

AS: Eu gosto muito de experimentações com blockchain e outras tecnologias semelhantes de consenso. Eu não acho que tenha capacidade técnica para opinar sobre DAGs. Acho que alguns desses projetos são muito interessantes e muito promissores, outros projetos não são. Tem projetos que tem pessoas muito inteligentes que eu confio e que estão fazendo isso muito bem e tem outros projetos que são esquisitos, são apenas um white paper e muito bla bla bla. Mas eu acho que a gente precisa disso, a gente precisa de experimentações, tem muitos projetos que estão tentando desbancar o trono um do outro e é isso é o que a gente precisa.

CF: “Não há liberdade sem privacidade”, no entanto, será mesmo que as pessoas querem viver sem o feed?

AS: A centralização é eficiente. Tem várias vantagens das coisas serem centralizadas, coisa centralizadas são mais eficientes, são mais rápidas, dão mais dinheiro se você é o nó central, entendeu, tem várias vantagens de você fazer coisas centralizadas. Fazer coisas descentralizadas tem um custo, é mais complicado, é mais difícil, você tem que convencer as pessoas da vantagem, enfim eu acho assim, coisas descentralizadas ganham quando o centralizado falha. Quando a gente vê que o centralizado deu um erro é ai que entra a descentralização. Eu não acho que as pessoas vão migrar para tecnologias descentralizadas porque elas estão cansadas de centralização puramente ou porque elas entendem a fundo tudo aquilo. O que vai acontecer ao meu ver é que a centralização vai mostrando onde ela falha e quando elas forem falhando ai as tecnologias descentralizadas vão estar lá para acolhê-las e mudá-las.

CF: Um debate recente, que também atingiu a Ethereum, é a entrada da Bitmain e seus ASIC na mineração do Ether. Como você vê este processo?

AS: Isso não é uma coisa que me preocupa. O que muitas pessoas parecem indicar, embora ainda precise ser feita uma pesquisa mais profunda sobre isso é que o ASIC da Bitmain não parece representar um salto tão grande de desenvolvimento. Para mim existe um fork importante para matar qualquer ASIC que chama Casper e PoS (Proof-Of-Stake). Existem discussões de fazer outras intervenções, eu no entanto, acho que temos que prevenir um problema quando esse problema existe e para mim ASIC não é um problema. Podemos fazer um fork para melhorar isso, mas eu acho que vai ser apenas um Band-Aid, o que realmente resolve é PoS.

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Cassio Gusson

Cássio Gusson é jornalista há mais de 20 anos com mais de 10 anos de experiência no mercado de criptomoedas. É formado em jornalismo pela FACCAMP e com pós-graduação em Globalização e Cultura. Ao longo de sua carreira entrevistou grandes personalidades como Adam Back, Bill Clinton, Henrique Meirelles, entre outros. Além de participar de importantes fóruns multilaterais como G20 e FMI. Cássio migrou do poder público para o setor de blockchain e criptomoedas por acreditar no potencial transformador desta tecnologia para moldar o novo futuro da economia digital.

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