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Caso Intercept Brasil; Especialistas em criptomoedas apontam inconsistências em relato de hacker

Na semana passada, um hacker de codinome “Pavão Misterioso” acrescentou um ingrediente especial à uma história já recheada de polêmicas. O hacker apareceu no caso do site The Intercept Brasil, cujo cofundador, o jornalista Glenn Greenwald, também ganhou os holofotes durante a semana.

No dia 16 de junho, o Pavão Misterioso afirmou que o Intercept pagou, em criptomoedas, um hacker russo para que este invadisse os celulares de autoridades brasileiras, especialmente o Ministro da Justiça Sérgio Moro e do procurador da Operação Lava Jato Deltan Dallagnol. As mensagens oriundas do ataque revelaram diálogos comprometedores entre o ministro (então juiz da Lava Jato) e o procurador.

No entanto, o jornal Estadão conversou com diversos especialistas em criptomoedas, os quais afirmaram que a história do hacker apresenta uma série de contradições e inconsistências.

A história

Através do Twitter, o “Pavão” alega que o site Intercept enviou mais de US$308 mil para o hacker procurado pelo FBI Evgeniy Mikhailovich Bogachev. Como “prova”, o hacker mostra uma espécie de extrato bancário da transação, que teria saído de uma corretora no Brasil para o Panamá, e depois enviado para a Rússia.

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Porém, o documento traz uma série de erros de inglês, como nomes digitados errados, incluindo o nome de uma criptomoeda. Além disso, não há nenhuma indicação sobre a origem do dinheiro, como referência à alguma exchange ou ao hash das transações (a sequência de caracteres que permite identificar a origem da mesma).

“Tem uma cara danada de lorota (sic)”, afirma Marco Carnut, CTO do Z.RO Bank, banco de blockchain brasileiro. “Nunca vi um sistema de blockchain como aquele e nunca vi não colocarem o número de identificação (da transação). Não me parece algo profissional.”

Como podemos ver na imagem acima o tal “extrato” divulgado por Pavão, ele não tem nada a ver com qualquer extrato ou registro de uma transação feita em blockchain. Além disso, a ausência do hash da transação é altamente suspeita, visto que sem ela não há como identificar a veracidade do pagamento.

O documento faz referência à uma transação no valor de 84 Bitcoins, mas Carnut afirma que não existe qualquer rastro dessa transação na blockchain.

“Até tem uma (transação) de 84.03 no dia anterior e outra de 83.95 dez horas depois do horário mencionado, mas não exatamente 84.00 como o texto dá entender”, afirma.

Anonimato, pero no mucho

Ainda que a história do Pavão pareça mais uma fraude, ou então que revele-se verdadeira, ela mostra que o mito do uso do Bitcoin como ferramenta para crimes não se sustenta. Afinal, qualquer pessoa pode verificar a existência de qualquer transação feita na blockchain.

“Esse é o grande trunfo da criptomoeda”, explica Fernando Bresslau, consultor em temas de investimentos de startups e criptomoedas. “Eu posso independentemente auditar uma transação. Se o ‘Pavão’ tivesse a informação dessas transações de criptomoedas, bastaria ele fornecer esse ID (hash) que todo mundo poderia ver uma transação dessas.”

No entanto, Bresslau reconhece que essa transparência tem limites. Mesmo que a transação fosse identificada, ela não serviria como prova de que o Intercept fez qualquer pagamento pelos dados. Afinal, a transação não pode ser associada à identidade de uma pessoa ou empresa específica.

“É muito fácil, pelo fato de o registro ser público, entrar em um desses sites, buscar uma transação que tem o valor e a data que eu quero e alegar que aquela transação é do Trump para o Obama”, brinca Bresslau. “A não ser que Trump ou Obama falem que realmente a transação é deles, não há como identificar que o endereço é do Trump ou do Obama.”

Nem mesmo as exchanges possuem esse tipo de poder, pois as operações nessas empresas também não são vinculadas às identidades dos clientes. Embora as autoridades possam ir até as empresas e solicitar pessoalmente as informações, não há como descobrir isso via blockchain.

“Uma exchange é rastreável pela Polícia Federal mediante um mandado de justiça, indo na empresa e pedindo os extratos e informações dos clientes que estão conectados a uma operação específica”, afirma Bresslau.

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Luciano Rocha

Luciano Rocha é redator, escritor e editor-chefe de newsletter com 7 anos de experiência no setor de criptomoedas. Tem formação em produção de conteúdo pela Rock Content. Desde 2017, Luciano já escreveu mais de 5.000 artigos, tutoriais e newsletter publicações como o CriptoFácil e o Money Crunch.

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