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Bilionários das criptomoedas querem construir Criptolândia em Porto Rico

A ideia de construir sociedades alternativas não começou com Raul Seixas, embora sua música tenha se tornado referência quanto ao assunto no Brasil. O francês François Fourier e o inglês Robert Owen foram os primeiros a utilizar o termo no início do seculo XIX, passando a serem considerados os pais do cooperativismo. Ambos acreditavam em uma sociedade alternativa cooperativista autônoma e auto-suficiente.

Partindo do mesmo princípio, um grupo de investidores, que tornaram-se bilionários com a ascensão das criptomoedas, está trabalhando para criar sua própria sociedade alternativa em Porto Rico. O artigo escrito por Nellie Bowles para o New York Times, agência de notícias norte-americana, revelou os planos da “Puertopia” ou “Projeto Sol”, que conta com a participação de um dos fundadores da Tether e fundador da EOS.

Depois de vender suas casas na Califórnia, EUA, e em outros locais, os investidores levaram mais de um ano à procura do melhor lugar para colocar o plano em prática. Após o furacão Maria abalar a infraestrutura porto-riquenha em setembro de 2017, e o preço das criptomoedas começar a subir vertiginosamente, eles enxergaram no país o local ideal pois, além de tudo, Porto Rico oferece um incentivo fiscal ímpar: o imposto de renda federal de pessoa física é zero, ou seja, não existem impostos sobre ganhos de capital e os impostos de pessoa jurídica são favoráveis. Seria possível tirar proveito de tudo isso inclusive sem que os investidores tivessem que abrir mão das suas cidadanias norte-americanas, afinal Porto Rico é um Estado livre associado aos Estados Unidos. Por enquanto o governo porto-riquenho parece estar receptivo aos criptoutopistas.

Recentemente, os investidores têm buscado terrenos onde possam construir seus próprios aeroportos e cais, tomam conta de hotéis e de um museu no bairro histórico da capital, conhecido como Velha San Juan e estão perto de conseguir que o governo local os autorize a abrir o primeiro banco de criptomoedas. O grupo pretende com a sua riqueza criar uma criptoutopia, uma nova cidade onde o dinheiro será virtual e todos os contratos serão públicos, com o intuito de mostrar ao resto do mundo como pode ser o futuro cripto.

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O Monastério

Por ora, os puertopianos ocuparam o Monastério, um hotel de 1.850 metros quadrados que foi alugado com base.

Matt Clemenson e Stephen Morris, integrantes do grupo, querem que duas coisas fiquem claras: que escolheram Porto Rico devido ao furacão e que vieram em missão de paz. “É só quando tudo foi destruído que se pode defender a ideia de reconstruir a partir do zero”, falou Morris. Clemenson é co-fundador da Lottery.com, que aplica a tecnologia blockchain em loterias. Ele disse: “somos capitalistas benevolentes, queremos construir uma economia benevolente. Porto Rico é uma jóia escondida, uma ilha encantada que sempre foi maltratada e passada por cima. Talvez possamos corrigir isso 500 anos mais tarde.”

O líder do movimento, Brock Pierce, de 37 anos, chegou à ilha no início de dezembro. Indagado sobre as diretrizes dos planos, respondeu: “compaixão, respeito, transparência financeira”. Diretor da Bitcoin Foundation,Pierce é uma figura importante no mercado das criptomoedas. O empresário é cofundador de uma startup de blockchain para empresas, a Block.One, que já vendeu cerca de US$200 milhões de uma moeda virtual feita sob medida, a EOS. Ex-ator mirim, Pierce ingressou cedo no campo do dinheiro digital como jogador profissional de games, garimpando e comerciando ouro no “World of Warcraft”, esforço financiado em parte pelo ex assessor de Donald Trump Stephen Bannon. “Tenho medo de que as pessoas interpretem errado o que vamos fazer”, disse ele. “Que pensem que só estamos vindo para sonegar imposto.”

Experimento

Bryan Larkin, 39, e Reeve Collins, 42, trabalham em outro hotel antigo da capital, o Condado Vanderbilt. “Vamos converter este lugar na criptolândia”, diz Larkin. Ele já minerou cerca de US$2 bilhões em Bitcoin e é o chefe de tecnologia da Blockchain Industries, empresa de capital aberto sediada em Porto Rico.

Collins arrecadou mais de US$20 milhões com uma oferta inicial de moeda para a BlockV, sua loja de apps para a blockchain, cujas moedas digitais valem no total cerca de US$125 milhões. O empresário também é cofundador da Tether, empresa que fornece garantias de criptomoedas ligadas ao valor do dólar e cujas moedas valem cerca de US$ 2,1 bilhões. “Esta é a primeira vez na história que alguém que não é rei, governante ou deus pode criar seu próprio dinheiro.”

Muitos moradores de San Juan, capital de Porto Rico, ainda estão confusos sobre como reagir aos recém-chegados da criptomoeda. Alguns enxergam a nova onda como uma infusão bem-vinda de investimentos e ideias. “Estamos abertos aos criptonegócios”, disse Erika Medina-Vecchini, diretora do departamento de Desenvolvimento Econômico e Comércio do país, que vai lançar uma campanha publicitária voltada ao novo boom de recém-chegados ligados às criptomoedas com o slogan “o paraíso funciona bem”.

Outros temem que a ilha vire um experimento e falam em “criptocolonialismo”. Andria Satz, 33, cresceu na Velha San Juan e trabalha para a Fundação de Conservação de Porto Rico. “Somos o paraíso fiscal dos ricos”, disse. “Somos um terreno de experimentos. Gente de fora consegue isenção de impostos, e o os moradores daqui não conseguem alvarás.”

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Cassio Gusson

Cássio Gusson é jornalista há mais de 20 anos com mais de 10 anos de experiência no mercado de criptomoedas. É formado em jornalismo pela FACCAMP e com pós-graduação em Globalização e Cultura. Ao longo de sua carreira entrevistou grandes personalidades como Adam Back, Bill Clinton, Henrique Meirelles, entre outros. Além de participar de importantes fóruns multilaterais como G20 e FMI. Cássio migrou do poder público para o setor de blockchain e criptomoedas por acreditar no potencial transformador desta tecnologia para moldar o novo futuro da economia digital.

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