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Autor do “Manifesto Cripto-anarquista” morre aos 67 anos

O universo da criptografia – e, principalmente, da cripto-anarquia – perdeu um de seus ícones nesse último sábado, 15 de dezembro. Timothy C. May, autor do Manifesto Cripto-anarquista e um dos criadores do movimento cypherpunk, morreu de causas naturais.

May escreveu seu mais famoso documento em 1992, mas desde os anos 1980 ele era ativo na comunidade. Ele foi um dos fundadores da lista de e-mail dos cypherpunks, a qual teve extrema importância para o surgimento do Bitcoin mais de 20 anos depois.

Lucky Green, um dos fundadores do projeto Tor, anunciou a morte de May através do Facebook.

“Chegou a informação de que meu querido amigo, co-conspirador em muitas coisas e por muitos anos, o companheiro de luta Tim May faleceu no início desta semana em sua casa em Corralitos, Califórnia.”

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A causa da morte parece ter sido natural. May tinha 67 e além de suas atividades no movimento cypherpunk, foi engenheiro eletrônico e cientistas sênior da Intel nos primeiros anos da empresa. Ele se aposentou em 2003. O Nakamoto Institute também noticiou a morte de May em seu Twitter.

Em seu Manifesto, May previu como a criptografia poderia causa grandes disrupções em áreas como a comunicação e interação pessoal, e deu grande ênfase à privacidade. Da mesma forma, May previu que tais inovações poderiam limitar – ou até suprimir – alguns dos principais poderes dos estados, como o controle sobre comunicações, finanças e a capacidade de tributar os cidadãos.

Para muitos, May é considerado um padrinho do Bitcoin, posto que a invenção de Satoshi Nakamoto possui uma grande inspiração dos movimentos cypherpunks e uma inclinação anti-estados, permitindo que as pessoas tenham liberdade total para seu dinheiro e sua privacidade.

Confira abaixo o Manifesto Cripto-anarquista na íntegra.

O MANIFESTO CRIPTOANARQUISTA

Timothy C. May – 1992.

Um espectro está assombrando o mundo moderno.

A ciência da computação está a ponto de fornecer a grupos e indivíduos a capacidade de se comunicar e interagir uns com os outros de maneira totalmente anônima. Duas pessoas podem trocar mensagens, conduzir negócios e realizar contratos digitais sem nunca conhecer o verdadeiro nome ou a identidade legal da outra parte. Interações em rede serão irrastreáveis através do extensivo reencaminhamento de pacotes criptografados e caixas invioláveis, que implementam protocolos criptográficos com garantia quase perfeita contra qualquer adulteração. A reputações será de importância central, se tornando muito mais importante nas negociações do que as análises de crédito de hoje. Esses desenvolvimentos irão alterar completamente a natureza da regulamentação governamental, a capacidade de taxar e controlar as interações econômicas, a capacidade de manter as informações em segredo e até mesmo alterar a natureza da confiança e da reputação.

A tecnologia para essa revolução – que certamente será tanto uma revolução social quanto econômica – já existia, em teoria, durante a última década. Os métodos são baseados em criptografia de chave pública, sistemas de zero-knowledge interativos e vários protocolos de software para interação, autenticação e verificação. O foco, até agora, tem sido em conferências acadêmicas na Europa e nos EUA, conferências estas que são monitoradas de perto pela Agência de Segurança Nacional (NSA). Mas só recentemente as redes de computadores e computadores pessoais atingiram velocidade suficiente para tornar as ideias realizáveis na prática. E os próximos dez anos trarão a velocidade necessária para tornar as ideias economicamente viáveis ​​e essencialmente imbatíveis. Redes de alta velocidade, caixas invioláveis, cartões inteligentes, satélites, transmissores, computadores pessoais e chips criptográficos, que estão agora em desenvolvimento, serão algumas das tecnologias facilitadoras.

O estado tentará, é claro, desacelerar ou deter a disseminação destas tecnologias, citando preocupações com a segurança nacional, o uso da tecnologia por traficantes de drogas e sonegadores de impostos, e temores de desintegração social. Muitas dessas preocupações serão válidas; a criptoanarquia permitirá que segredos nacionais sejam vendidos livremente e permitirá que materiais ilícitos e roubados sejam comercializados. Um mercado informatizado e anônimo se tornará um possível abominável mercado ​​para assassinatos e extorsões. Vários elementos criminosos e estrangeiros serão usuários ativos da CriptoNet. Mas isso não vai parar a propagação da criptoanarquia.

Assim como a tecnologia da impressão alterou e reduziu o poder das guildas medievais e a estrutura do poder social, os protocolos criptográficos também vão alterar fundamentalmente a natureza das corporações e as interferências do governo nas transações econômicas. Combinado com mercados de informação emergentes, a criptoanarquia criará um mercado líquido para todo e qualquer material que possa ser colocado em palavras e imagens. E assim, como uma invenção aparentemente insignificante, como o arame farpado tornou possível o cercamento de vastas fazendas e territórios, alterando para sempre os conceitos de terra e direitos de propriedade na fronteira ocidental, também, a descoberta aparentemente menor de um ramo arcano da matemática se tornará o cortador de arame que desmontará o arame farpado em torno da propriedade intelectual.

Ergam-se, vocês não têm nada a perder a não ser as cercas de arame farpado!

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Luciano Rocha

Luciano Rocha é redator, escritor e editor-chefe de newsletter com 7 anos de experiência no setor de criptomoedas. Tem formação em produção de conteúdo pela Rock Content. Desde 2017, Luciano já escreveu mais de 5.000 artigos, tutoriais e newsletter publicações como o CriptoFácil e o Money Crunch.

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