O presidente do Banco Central (Bacen), Roberto Campos Neto, foi o primeiro convidado da nova série do Estadão Live Talks.
O programa tem como objetivo discutir alternativas para aquecer a economia do país após a pandemia de Covid-19.
Em sua fala, Campos Neto abordou o papel da taxa de juros nesse processo. Ele disse que a economia ainda precisa de “muitos estímulos” neste momento de crise.
Ao mesmo tempo, Campos Neto mostrou cautela com novos cortes. Para ele, existe um limite para a queda dos juros no país.
No início de agosto, o Bacen cortou a Selic (a taxa básica de juros) em 0,25 ponto porcentual, para 2% ao ano. Este é o menor valor da história.
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Experimentos com taxa de juros
O presidente do Bacen destacou o caráter experimental dos cortes de juros. Para ele, em todo o mundo, em especial em países desenvolvidos, se desenvolveu o conceito sobre o mínimo que um banco central pode chegar em relação aos juros.
No entanto, esse conceito ainda seria novo nos países em desenvolvimento. “Em mercados emergentes, juros muito baixos nunca foram experimentados”, disse Campos Neto.
O presidente também alertou quanto a esse limite. Caso ele seja ultrapassado e os juros fiquem baixos demais, pode-se criar um efeito contrário ao desejado. Com isso, a economia pode não crescer.
“Estamos experimentando este mínimo”, disse.
Alerta para fiscal e tabelamentos
Campos Neto também fez alertas em relação ao andamento fiscal do país. Ele disse que, caso a situação das contas se deteriore, a manutenção de juros baixos pode ficar insustentável.
“Entendemos que o teto fiscal é importante e, se afrouxarmos as regras fiscais, vamos voltar aos problemas anteriores”, disse o presidente do BC.
Esse alerta ganhou mais sentido diante dos acontecimentos recente. Em uma live realizada na quinta-feira (13), o presidente Jair Bolsonaro chegou a admitir que existe discussão sobre furar o teto de gastos.
Campos Neto também criticou um possível tabelamento nos juros do cartão de crédito. Um projeto de lei nesse sentido tramita na Câmara, prevendo a limitação dos juros durante o período da pandemia.
Ao invés disso, ele defendeu uma “reengenharia” na forma de cobrança.
“Quando você tabela preços, ou você cria anomalia ou o produto deixa de existir. Para ter um juro mais baixo no cartão, você tem que fazer uma reengenharia do produto. O cartão tem uma anomalia. Não existe parcelado sem juros em nenhum lugar do mundo”, disse ele.
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