Conforme já relatado anteriormente, o número de empresas acusadas de operar pirâmides financeiras segue em crescimento no Brasil. Ao prometerem retornos substanciais – e também fora da realidade – estas empresas contribuem para o aumento do número de vítimas de golpes que causam graves perdas financeiras.
Recentemente, uma região chamou a atenção do país em relação a este assunto. A cidade de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, viu duas das maiores operações da história da Polícia Federal no que refere-se a pirâmides financeiras. De acordo com o jornal local NH, os valores arrecadados pelas supostas pirâmides passam de R$10 bilhões captados de mais de um milhão de investidores.
Tais números levaram a região do Vale dos Sinos – onde está localizada Novo Hamburgo – a ser chamada de “líder mundial em concentração de pirâmides financeiras” pelo jornal NH.
Unick e InDeal
As duas operações em questão tiveram como alvos as empresas InDeal Consultoria em Mercados Digitais e Unick Forex, ambas acusadas de trabalharem com criptomoedas e operarem esquemas de pirâmide.
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“Por algum motivo, esses estelionatários se sentiram atraídos à região, onde acabaram criando expertise e sucessores”, comenta o delegado da 1ª DP de Novo Hamburgo Tarcísio Kaltbach.
De acordo com o delegado, a localização estratégica e o alto poder aquisitivo das pessoas que moram na região pode ter servido como chamariz para atrair a atenção das empresas.
“Acredito que os piramideiros busquem o Vale do Sinos pela concentração de riqueza e o alto poder aquisitivo, além da posição geográfica, que liga Porto Alegre à Serra, atraindo clientela tanto de empresários quanto de pessoas com menor poder aquisitivo”, acrescenta Kaltbach.
Passado marcado
A relação da região com pirâmides financeiras não começou com a Unick Forex ou com a InDeal. Em 2017, um inquérito aberto na pequena cidade de Sapiranga foi responsável pelo fechamento da D9 Trader, até então o maior esquema de pirâmide com criptomoedas em atividade no Brasil.
“Conseguimos desbaratar o esquema, que tinha atuação em todo o Brasil e vários países”, recorda o delegado Fernando Pires Branco, que coordenou a investigação.
O caso da D9 não acabou bem. O sapiranguense Márcio Rodrigo dos Santos, líder da empresa no Rio Grande do Sul, obteve liberdade e foi brutalmente assassinado por investidores em Balneário Camboriú, no litoral de Santa Catarina. Seu corpo foi encontrado carbonizado dentro de seu próprio carro, um Audi A4, na madrugada de 12 de setembro do ano passado.
O líder mundial da empresa também é brasileiro. Trata-se do baiano Danilo Vunjão Santana Gouveia, que morava nos Emirados Árabes. Ele foi capturado pela Interpol por meio de mandado expedido pela cidade de Sapiranga. Atualmente, Gouveia tem uma vida de luxo em suposta prisão domiciliar no país árabe, graças aos milhões da D9. O Ministério Público de Sapiranga tenta sua extradição para o Brasil.
Marcas herdadas
O estilo dos antigos donos da D9 criou raízes em empresas como a Unick Forex, que hoje é a maior suposta pirâmide financeira do país. A ostentação de carros de luxo, dinheiro, joias e viagens nas redes sociais, no estilo “você também pode”, era uma marca da D9 que foi nitidamente copiada pela Unick.
Outro ponto em comum das duas empresas – e das pirâmides financeiras como um todo – é a abordagem na hora de convencer potenciais “investidores”. O poder de atrair novos clientes, em reuniões que iam de encontros em bairros a grandes eventos, é outra marca comum. Os líderes destilam técnicas de oratória e convencimento na mais autêntica moda “coach”. O carisma pessoal, aliás, é um dos grandes trunfos para conquistar clientes – e, aparentemente, encontrou um lugar de sucesso no Vale dos Sinos.
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