Um novo documento divulgado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) sugere que o dinheiro e os depósitos bancários tradicionais podem ficar para trás e serem substituídos por dinheiro digital e stablecoins, de acordo com a matéria da Coindesk desta terça-feira, 16 de julho.
O documento, intitulado “A ascensão do dinheiro digital“, mostra como as empresas de tecnologia especializadas em finanças estão competindo cada vez mais com grandes bancos e empresas de cartão de crédito.
“As formas digitais de dinheiro estão cada vez mais nas carteiras dos consumidores, assim como nas mentes dos formuladores de políticas. O dinheiro vivo e os depósitos bancários estão lutando com o chamado dinheiro digital, valor monetário armazenado eletronicamente, denominado e indexado à uma moeda como o euro ou o dólar”, afirma o documento em sua introdução.
Em última análise, o dinheiro físico e os depósitos bancários “enfrentarão uma dura concorrência e poderão até ser superados” por essas novas formas de transferência de valor, adverte o FMI.
Stablecoins crescem em popularidade
O documento afirma que as stablecoins “podem ser mais convenientes como meio de pagamento”, mas os autores questionam a estabilidade de seu valor. “Afinal, (stablecoins) é economicamente semelhante a um fundo de investimento privado que garante resgates pelo valor de face. Se 10 euros entrarem, 10 euros devem sair. O emissor deve estar em posição de honrar esse compromisso”, diz o relatório.
O relatório também destaca o papel dos bancos, os quais devem ser capazes de promover uma disputa contra essas novas empresas de pagamento, oferecendo melhores serviços ou produtos similares de dinheiro eletrônico. O FMI alerta que algumas disrupções podem ocorrer no setor bancário.
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Mesmo assim, é provável que os bancos consigam superá-las, pois as empresas que oferecem esses novos métodos de pagamento podem tornar-se bancos e aproveitar seus dados para oferecer crédito direcionado.
Novos mecanismos de dinheiro
O artigo aborda diferentes tipos de novos mecanismos de pagamento, incluindo “i-money”: um “equivalente ao dinheiro eletrônico, exceto por um recurso muito importante: oferece resgates de valor variável em moeda fiduciária; é, portanto, um instrumento semelhante à títulos”.
Como um exemplo de i-money, a nota aborda diretamente o projeto Libra do Facebook – cuja criptomoeda deve ser atrelada à uma cesta de moedas fiduciárias e a títulos do governo.
“As moedas Libra podem ser trocadas por moedas fiduciárias a qualquer momento por sua parcela do valor atual da carteira subjacente, sem qualquer garantia de estabilidade de preço. A transferência de Libra – essencialmente ações de Libra Reserves (embora potencialmente sem uma reivindicação legal) – seria um tipo de pagamento.”
O papel dos bancos centrais
Quanto à regulamentação, o FMI acredita que os bancos centrais terão um “papel importante” na formação do futuro do dinheiro eletrônico, através da capacidade de estabelecer regras que teriam forte influência sobre sua adoção e para exercerem pressão sobre os bancos comerciais.
“Uma solução é oferecer aos provedores selecionados de e-money acesso às reservas dos bancos centrais, embora sob condições estritas. Isso aumenta os riscos, mas também traz vantagens. Não menos importante, os bancos centrais de alguns países poderiam fazer parcerias com provedores de moeda eletrônica para efetivamente fornecerem ‘moedas digitais de bancos centrais (CBDC)’, uma versão digital do dinheiro.”
No entanto, o documento propõe uma solução diferente, apelidada de “CBDC sintético” (sCBDC). Essa solução seria fruto de uma parceira público-privada segundo a qual um banco central ofereceria serviços de liquidação a provedores de moedas digitais, incluindo o acesso a reservas do banco central. No entanto, “todas as outras funções seriam de responsabilidade de provedores privados de dinheiro eletrônico, que atuariam sob regulamentação dos bancos centrais e governos”.
O FMI acredita que o sCBDC seria um modelo menos custoso e menos arriscado, e ainda permitiria que o setor privado “inovasse e interagisse com os clientes”, enquanto o banco central traz “confiança e eficiência” para o mercado.
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