Os robôs de trade, ou bots, estão em destaque no mercado de criptoativos. Além do Phoenix, robô de trading da Atlas que liquidou diversos clientes na baixa do Bitcoin entre os dias 12 e 13 de março, novos bots estão surgindo.
O Botmex Ninja é um novo bot, com supostamente diferentes estratégias de trading, feito pelo ex-dono da AnubisTrade, Matheus Grijó. Em sua página no Github, Grijó apresenta o link para o bot.
Além desses robôs, o CriptoFácil obteve conhecimento de outros que adentrarão no mercado em breve, embora ainda não haja detalhes. Essa nova leva de bots parece atraente, uma vez que utiliza APIs e não faz a custódia dos fundos dos usuários.
Porém, a grande questão é: esses bots funcionam para os investidores? Essa nova proposta é realmente segura?
Especialistas falam sobre o assunto
O CriptoFácil falou sobre especialistas no assunto para entender melhor a viabilidade desses robôs. Wellington Silva, trader com experiência e responsável pela iniciativa educacional WS Trader, falou sobre o assunto.
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Sobre os bots de trading, Silva afirma:
“É possível criar um bot de trading vencedor, mas não é o robô que é mágico. O fator vencedor é a estratégia por trás do robô, o criador do bot precisa ter uma estratégia previamente desenvolvida, o ponto é esse. Os bots nada mais são do que a automatização de uma estratégia, então se não há algo que funcione, o robô não vai funcionar. É preciso estudar, testar, avaliar e só depois disso disponibilizar o robô.”
Contudo, quando o assunto muda para robôs comercializados, Silva entende diferente:
“Se Warren Buffett revelasse seus segredos, ele ficaria rico? Não, porque se todo mundo soubesse exatamente o que ele está fazendo e como ele está fazendo, ele não seria bilionário fazendo o que faz. A mesma lógica se aplica para os bots, se você compartilha com todo mundo uma estratégia automatizada, ela não vai funcionar. Então se você quer usar robô sem a ilusão de fórmula mágica de dinheiro, ou você contrata um desenvolvedor para criar um robô sobre uma estratégia sua que dá certo, ou você desenvolve caso tenha conhecimento. A melhor forma de confiar em um robô de investimento é quando ele é desenvolvido por você, ou alguém de sua confiança.”
Silva conclui dizendo que os bots compartilhados de forma limitada possuem mais chances de funcionar, ainda que não seja o cenário ideal, ainda há chance de ser efetivo.
O youtuber da criptoesfera Epaminondas, também conhecido como Vô Epa, já publicou um vídeo falando sobre o assunto. O CriptoFácil contatou o Vô Epa para que falasse, novamente, sobre o tema. Vô Epa reforçou a opinião compartilhada previamente em seu vídeo, alinhada com a opinião de Silva:
“É possível, sim, obter lucro utilizando um robô nas operações. Essas chances se tornam mais reais se você entender como funciona o mercado de criptomoedas, entender de analise técnica e entender de programação a ponto de criar o seu próprio bot, por isso seria uma burrice compartilhar uma estratégia que esta dando certo. Sendo sincero, não acredito mais em opções de venda ou aluguel desses bots pois, quanto mais pessoas usando uma mesma estrategia, menores as chances de acerto, até mesmo por questão de volume nas operações. Fazer trade com R$ 5 mil, R$ 10 mil, é uma coisa. Experimente fazer trade com milhões pra ver no que dá.”
A Universo Cripto, empresa criadora do serviço de trade Bitverso, também falou sobre o tema. A empresa acredita que os bots são viáveis mas, assim como os dois especialistas que deram pareceres nesta matéria, tudo depende da estratégia por trás dele e do conhecimento de mercado do usuário:
“Primeiramente, para nós, os “bots”, da forma como são disseminados na indústria de criptomoedas – como uma ‘ferramenta mágica’ que vai prover lucros demasiadamente altos e fixos – são pura ilusão. Acreditamos que os bots são ferramentas complementares para os usuários que já realizam trading de criptoativos, desde que estes possuam uma boa gestão de risco. Por exemplo, alocar uma maior parcela de sua carteira em Bitcoin para hold e um pequeno percentual para trading automatizado pode ser interessante. Ao mesmo tempo, a depender de qual ferramenta você escolhe, você consegue, inclusive, trabalhar com uma espécie de hedge em sua carteira, como é o caso do nosso bot que trabalha exclusivamente com a Tether, o cripto-dólar (USDT).
Por fim, ao nosso ver, os bots são uma ferramenta de trading extremamente eficiente, uma vez que eles conseguem executar tarefas em uma velocidade estupidamente maior, bem como, não estão sujeitos à fatores emocionais e, em sua maioria, são de fácil utilização pelos usuários.”
O perigo continua rondando por API
O CriptoFácil também falou com um especialista técnico na área, Leandro Trindade, CTO da aCCESS Security Lab. Trindade, que tem um bot próprio para automatizar suas operações no mercado de criptoativos, acrescentou informações técnicas e cenários em que robôs podem ser utilizados de forma maliciosa pelo provedor do serviço. Em sua declaração, Trindade alerta que não possuir custódia não significa tanta segurança, pois:
“A efetividade de um robô, seja ele de trade ou de arbitragem, é inversamente proporcional ao volume colocado nele. Isso quer dizer que um robô muito lucrativo para uma pessoa vai começar a dar prejuízo quando tiver outras 500 pessoas usando ele. Isso pode ser bem lucrativo para um gestor malicioso, por exemplo: ele cria um robô de trade, que da lá seu lucro mais ou menos, aí libera para o público usar. Ele é bonzinho e quer compartilhar seu lucro com os outros. As pessoas fornecem suas chaves de API para conectar no robô, e as chaves não permitem saques, então seu dinheiro está seguro correto? Errado.”
Trindade explica como é possível utilizar as APIs em favor do criador do bot:
“O gestor agora tem a API de 500 pessoas e executa uma compra na conta dele, depois executa a compra nas 500 APIs sobressalentes, causando um pump no mercado devido ao alto volume. Só aí o gestor malicioso já ganhou um lucro bom, aí ele vende o ativo por um preço bem mais alto que comprou. Agora ele embaralha essas 500 APIs e aleatoriamente sai vendendo nelas também, a última API sorteada terá um prejuízo, que pode até ser pequeno devido às oscilações do mercado. As primeiras APIs a vender vão ter um lucrinho ainda, dai ele ainda tira uma porcentagem do lucro. Ou seja, o gestor ganha sendo o primeiro do pump, o primeiro do dump e a porcentagem. Cria-se uma máquina de transferência de capital, em que o dinheiro vai lentamente fluindo na direção do gestor.”
A conclusão
Por meio das declarações juntadas de especialistas no assunto, o consenso é que bots de trade funcionam. Porém, é necessário que o usuário tenha um entendimento prévio do mercado considerável na hora de aplicar a ferramenta.
Outra condição é que o bot não seja disseminado à exaustão, caso contrário, as estratégias serão concorrentes e os prejuízos começam a aparecer para aqueles que colocam suas ordens por último.
Por fim, ressaltou-se que a nova tendência de operar por API, sem que o dono do bot comprado tenha acesso aos fundos, não garante que os usuários não saiam lesados.
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