O último dia 1º de outubro foi de grande festa na segunda maior economia do mundo. Foi nesta data que, há 70 anos, o Partido Comunista Chinês (PCC) assumiu o comando do país, posto no qual se mantém até os dias de hoje.
De Mao Tsé-tung a Xi Jiping, o PCC promoveu a revolução comunista e chegou ao poder e atualmente detém o controle total da República Popular da China — passando pelo governo, pela polícia e pelo Exército, e até mesmo nos aspectos da iniciativa privada. Praticamente nenhum setor do cotidiano chinês escapa ao controle do partido.
Nestes 70 anos, a China saiu de um país com milhões de mortos pela fome e infraestrutura sucateada até o posto de segunda maior economia do mundo. O país é um dos principais parceiros comerciais de todas as grandes economias – incluindo o Brasil – e também desponta como um gigante nos setores de tecnologia e criptomoedas.
Confira uma breve trajetória desses 70 anos em um resumo de seus principais acontecimentos.
O grande salto para a fome
Dos 70 anos de domínio do PCC na China, praticamente um terço se deu sob a mão de ferro de Mao Tsé-tung (ou Mao Zedong). Mao foi o principal líder da China desde a Segunda Guerra Mundial, rivalizando com o general Chiang Kai-shek, presidente da antiga República da China. A queda de Kai-shek levou Mao ao poder e acrescentou o “Popular” ao nome da China.
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De 1949 até sua morte em 1976, Mao governou com mão de ferro. Nesse período, a China experimentou os maiores massacres populacionais em tempos de paz da história. A crueldade dos métodos e o número de mortes fizeram de Mao o maior genocida da história, superando com folga tiranos como Hitler e Stálin.
Uma das políticas mais ambiciosas do “Grande Timoneio” foi o Grande Salto para a Frente, um programa que visava desenvolver o país e transformá-lo numa potência industrial. Entretanto, o resultado foi um grande salto para a morte: estima-se que entre 20 e 75 milhões de pessoas morreram durante os anos de 1958 e 1960.
Longe de alcançar o desenvolvimento industrial almejado, o Grande Salto levou milhões de chineses à morte por inanição e praticamente destruiu o sistema de agricultura do país. Além disso, as indústrias foram sucateadas e não conseguiam produzir nada de útil. Quando Mao morreu, a China tinha uma renda per capita de 165 dólares, extremamente longe da potência que estava destinada a ser.
Deng Xiaoping e a “economia de mercado socialista”
Após a morte de Mao, entrou em cena um dos nomes mais importantes da China contemporânea: Deng Xiaoping. Assumindo o poder dois anos depois da morte de Mao, Xiaoping conduziu a China rumo à “segunda revolução”, como ele mesmo dizia, e tinha o objetivo de modernizar totalmente o devastado gigante asiático.
Xiaoping modernizou a agricultura chinesa e corrigiu os erros nefastos do Grande Salto. Iniciou reformas também nas áreas industrial, militar, tecnológica e de ciência. Além disso, promoveu a abertura diplomática da China, tendo sido o primeiro líder chinês a visitar os Estados Unidos, em 1979.
No entanto, um dos maiores legados econômicos de Xiaoping foi a criação das Zonas Econômicas Especiais (ZEEs), nome dado para certas cidades do litoral sudeste chinês onde empresas estrangeiras podem se instalar, desde que tenham parceria com empresas chinesas. Guangzhou, Quingdao e Xangai (maior cidade da China) são exemplos de ZEEs.
Se a abertura econômica ocorria em ritmo acelerado, a liberdade individual seguia ameaçada na China. O principal legado de Xiaoping foi a reação do governo ao Massacre da Praça da Paz Celestial, que completou 30 anos em 2019. Entre 15 de abril e 4 de junho de 1989, milhares de estudantes chineses que pediam mais liberdade foram reprimidos pelo exército do país. Isso mostrou a grande contradição da China: economia aberta, população reprimida.
Hub de criptomoedas
As medidas de Xiaoping resultaram no forte crescimento econômico chinês nas últimas duas décadas. O país cresceu a taxas de dois dígitos seguidamente. Com isso, superou Alemanha e Japão (seu tradicional rival) e chegou ao posto de maior economia do mundo.
Com o surgimento das criptomoedas, a China também despontou como um importante jogador nesse mercado, principalmente na mineração. As três maiores mineradoras de Bitcoin do mundo por hashrate – F2Pool, Poolin e BTC.com – se localizam na China. Juntas, elas detêm cerca de 45% do hashrate total da rede.
Apesar de já ter imposto proibições a negociação de criptomoedas, hoje elas não são ilegais na China. O país abriga diversas empresas e projetos – como a Tron, dona da rede P2P BitTorrent – e tem apoiado pesquisas sobre a tecnologia blockchain. Isso faz da China um dos líderes globais no desenvolvimento da tecnologia, inclusive com apoio oficial do PCC.
Por fim, as recentes brigas com os Estados Unidos e o agravamento da guerra comercial levaram o país a buscar esforços para desenvolver sua própria criptomoeda oficial, com o objetivo de livrar o país das amarras do dólar norte-americano (USD) e de concorrer com a criptomoeda do Facebook, Libra.
Economia de mercado, porém…
Nestes 70 anos, a China se transformou numa potência tecnológica, embora o país ainda tenha um controle forte e pouca liberdade individual, com instituições totalmente subordinadas ao PCC. Com isso, projetos como o próprio Bitcoin encontram dificuldades de ser bem vistos pelo governo, que não tolera perder o seu controle sobre as pessoas.
É impossível prever o futuro em relação ao país. Mesmo com 70 anos de poder e cercado por um mundo cada vez mais livre, a ditadura chinesa resiste. O alto crescimento econômico e a ascensão do país como potência podem ter contribuído para a manutenção do regime. E ao assumir a liderança do promissor mercado de criptomoedas, o PCC pode ter comprado mais alguns anos de domínio para si.
Se a China será para as criptomoedas o que os Estados Unidos foi para tecnologia e a internet? Para essa resposta, nos veremos dentro dos próximos anos.
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