Enquanto muitas pessoas e empresas ainda lançam mão do argumento da “bolha” para criticar o mercado de criptoativos, uma verdadeira bolha pode estar prestes a estourar: as dívidas de governos ao redor do mundo.
Uma rápida olhada no site US Debt Clock (Relógio da Dívida dos Estados Unidos) mostra isso. Apesar do nome, ele traz as dívidas das principais economias do mundo. Somadas, tais dívidas já chegam a impressionantes US$184 trilhões. O maior devedor, em números absolutos, são os Estados Unidos: com US$ 21 trilhões, o que corresponde a pouco mais de 11% do total.
Além das dívidas dos estados-nações, as dívidas de empréstimos corporativos, hipotecas, cartões de crédito e empréstimos estudantis atingiram máximas históricas em 2018. De fato, alguns analistas estão preocupados com o acúmulo de uma bolha que pode implodir nos próximos anos.
Como a dívida aumentou tão rapidamente?
Ao longo de 2017, o mercado de ações dos EUA teve uma das mais fortes altas da história recente. O índice Dow Jones, principal índice da bolsa de Nova York (NYSE) subiu de 19.762 pontos para 25.000 pontos, uma alta de mais de 26% de janeiro a dezembro do ano passado.
Como o mercado de ações dos EUA demonstrou força e impulso, tanto as corporações quanto os indivíduos começaram a gastar mais, adquirindo todos os tipos de empréstimos. Em um mercado em alta, a confiança do consumidor aumenta e, naturalmente, os gastos aumentam significativamente.
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Muitas pessoas começaram a comprar casas que não podiam pagar com empréstimos hipotecários obtidos a juros altos e a contrair dívidas para comprar produtos caros. Consequentemente, em janeiro, a dívida geral de cartão de crédito nos EUA atingiu um recorde histórico, superando US$1 trilhão pela primeira vez na história.
Este mês, empréstimos estudantis, usados para financiar inscrições em cursos superiores (e que são empréstimos federais que não são elegíveis para falência), estabeleceram um novo recorde ao atingir US$1.465 trilhões.
Paul Della Guardia, economista do Instituto de Finanças Internacionais, disse:
“Mais de 90% dos empréstimos estudantis são garantidos pelo Departamento de Educação dos EUA. Por conseguinte, isso significa que, se uma recessão causar um aumento no desemprego entre os jovens e provocar calote em massa, esse passivo pode representar um alto custo para o orçamento do governo.”
Com dívidas em alta histórica e o mercado de ações dos EUA em declínio em meio a uma guerra comercial com a China, Michael Temple, diretor de pesquisa de crédito da Amundi Pioneer, disse no final de novembro que os EUA têm um grande problema em suas mãos – o que pode levar a uma recessão.
Desde novembro, muitas empresas do Dow Jones e do S&P 500 (índice das 500 maiores empresas listadas na NYSE) experimentaram um grande declínio no preço das ações, na faixa de 10 a 30%, uma margem bastante elevada, considerando que são as maiores corporações do mercado mundial.
Temple disse:
“A resposta depende de quanto tempo temos até que o ciclo de crédito tenha uma reversão, quanto tempo temos até que a alta das taxas de juros cheguem ao ponto de começarem a extinguir a atividade econômica. Se fôssemos da opinião de que as taxas de juros já estão altas demais para a economia se manter e a recessão vai acontecer em algum momento do próximo ano, então eu diria que temos um grande problema.”
Possível recessão
A dívida global continua a aumentar a uma taxa consistente e, se a instabilidade do mercado de ações global for sustentada nos próximos meses, os altos valores em dívidas de cartão de crédito, hipotecas e empréstimos estudantis poderão acelerar o declínio dos mercados financeiros. Teremos, assim, o estouro de uma enorme – e verdadeira – bolha financeira.
Nessa hora, é muito provável que venhamos a descobrir como os criptoativos reagirão a esse movimento. Muitos entusiastas e investidores enxergam o Bitcoin como uma reserva de valor, um ativo de proteção, que pode fazer papel semelhante ao ouro caso haja uma grande recessão. Essa tese carece de um grande teste na realidade – algo que uma nova crise financeira deverá trazer ao Bitcoin e outros criptoativos.