Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) avaliaram os efeitos da instituição lançar sua própria moeda digital institucional. A proposta, apresentada pelos pesquisadores Amaury José Rezende, Flávio Alves de Carvalho e Roberto Miranda Pimentel Fully, busca modernizar a gestão universitária e criar um mecanismo capaz de alinhar eficiência, transparência e inovação tecnológica.
A discussão nasce do diagnóstico de que a USP, apesar de sua estrutura complexa e altamente diversificada, ainda opera com instrumentos limitados para mensurar a qualidade do gasto público e a produtividade de suas unidades. Rezende explica que essa percepção veio de sua experiência administrativa.
“Faltavam métricas padronizadas capazes de capturar a qualidade do gasto e o valor gerado pelos serviços”, destaca o estudo, aponta que avanços como o SEI ainda deixaram lacunas importantes.
A proposta, chamada de forma preliminar de ₿itUSP, sugere a criação de um ativo digital lastreado em créditos orçamentários já existentes. Esse modelo não cria recursos novos e não busca operar como uma criptomoeda especulativa. Em vez disso, funciona como um registro digital padronizado das transações internas da Universidade. Cada token corresponderia a créditos orçamentários reais, convertidos apenas para permitir rastreamento e mensuração.
Os autores destacam que a moeda cumpre três funções centrais. Primeiro, atua como instrumento gerencial, permitindo visualizar custos e volumes de serviços internos. Depois, funciona como mecanismo de incentivo, já que pode vincular créditos ao cumprimento de metas institucionais.
Por fim, possui um papel simbólico, pois reforça o pertencimento e a identidade uspiana. “A moeda digital ajuda a tornar visível o trabalho que já acontece e que muitas vezes não aparece nas métricas tradicionais”, afirmam os autores.
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Criptomoeda da USP
O funcionamento seria simples, com a administração central definindo quais créditos serão convertidos em tokens. As unidades passariam a operar com carteiras digitais institucionais. Cada serviço prestado, como exames, atendimentos, uso de laboratórios ou apoio técnico, seria registrado como débito para quem utiliza e como crédito para quem entrega. Isso permitiria identificar fluxos que hoje permanecem invisíveis ou fragmentados.
Além disso, os registros alimentariam painéis de gestão capazes de mostrar tendências, comparar unidades e orientar decisões orçamentárias. Fully reforça essa visão estratégica. “A rastreabilidade amplia a capacidade de gestão baseada em evidências e reduz assimetrias informacionais”, destacaram os pesquisadores.
Os usos da criptomoeda vão além da administração. Dessa forma, a proposta prevê mecanismos de engajamento da comunidade uspiana, permitindo que docentes, estudantes e servidores utilizem créditos simbólicos em serviços culturais, acadêmicos e de bem-estar. Esse sistema poderia também incentivar práticas sociais, como participação em campanhas de extensão, doações ou atividades comunitárias.
Além disso, outro ponto relevante é o reforço à governança. Assim, o modelo prevê regras claras de emissão, uso e auditoria, com todos os registros operando de forma rastreável e compatível com as normas de administração pública. Isso poderia ampliar a transparência e facilitar o trabalho de órgãos de controle.
Para os autores, a Moeda Digital da USP materializa uma oportunidade concreta de modernização. Eles afirmam que a iniciativa conecta inovação tecnológica, rigor contábil e criação de valor público. Rezende resume essa visão. “Mais do que tecnologia, é uma plataforma que integra orçamento, pertencimento e gestão”, afirmam.


