Tráfico, criptomoedas e criminalidade, a CPI do Crime Organizado, instalada no Senado Federal, promete ser uma das investigações mais abrangentes já conduzidas no Brasil. Sob a presidência do senador Fabiano Contarato (PT-ES) e relatoria de Alessandro Vieira (MDB-SE), a comissão pretende apurar como facções criminosas, milícias e redes de tráfico têm usado fintechs e criptomoedas para lavar dinheiro e se infiltrarem em setores do Estado.
O plano de trabalho apresentado por Vieira inclui nove eixos temáticos. Entre eles o uso de empresas de fachada, bancas de advocacia e corretoras digitais na movimentação de recursos ilegais. De acordo com o relator, o foco não será apenas o crime armado, mas também os “novos ilegalismos”. Trata-se de uma forma sofisticada de inserir o dinheiro do crime em setores legalizados da economia.
“A criminalidade organizada tem ingressado aceleradamente nos mercados aparentemente lícitos, tornando o combate mais complexo e exigindo uma atuação integrada dos órgãos de segurança e inteligência”, afirmou Vieira.
Entre os pontos centrais, a CPI vai investigar como o uso de criptomoedas tem facilitado operações de lavagem de dinheiro, sobretudo por meio de plataformas de negociação sem regulação clara. O relator destacou que o avanço das fintechs e dos ativos digitais abriu novas brechas para movimentações financeiras difíceis de rastrear.
Tráfico e criptomoedas
Fontes próximas à comissão afirmam que a CPI solicitará relatórios da Polícia Federal e da Receita sobre transações suspeitas com Bitcoin e stablecoins que possam estar associadas ao tráfico e à corrupção.
“A descentralização é uma conquista tecnológica, mas também um desafio para o Estado”, disse um assessor da CPI.
A investigação também deve abordar a ligação entre o tráfico internacional e carteiras digitais anônimas, usadas para enviar valores ao exterior sem passar pelo sistema bancário tradicional. Conforme alertam especialistas, o crime organizado está se adaptando à nova economia digital, tornando urgente uma regulação mais firme sobre o setor.
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Outro eixo relevante será a apuração da infiltração de facções em instituições públicas, inclusive com possíveis conexões políticas. Vieira quer rastrear como grupos criminosos têm se aproximado de contratos públicos e campanhas eleitorais, usando empresas fantasmas e doações indiretas.
A CPI aprovou seis requerimentos iniciais, incluindo pedidos de informações ao Ministério da Justiça e ao Ministério da Defesa sobre relatórios de inteligência que detalhem a estrutura e o financiamento de facções nacionais. Também passarão por análises dados sobre apreensões de drogas e armas, número de presos faccionados e cooperação internacional.
Rota do dinheiro digital e os desafios da CPI
Além das investigações documentais, a comissão realizará audiências públicas com governadores, secretários de segurança, ministros e especialistas. Entre os convidados estão Ricardo Lewandowski, ministro da Justiça, e José Múcio, da Defesa. Pesquisadores como Lincoln Gakiya, do Ministério Público, e Renato Sérgio de Lima, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, também devem contribuir com análises técnicas sobre o avanço do crime financeiro.
Além disso, o relator planeja dar atenção especial ao papel das fintechs e exchanges de criptomoedas na circulação de recursos ilícitos. A CPI acredita que grande parte do dinheiro do tráfico hoje passa por sistemas descentralizados de pagamento, mascarado por operações de câmbio e conversões entre ativos digitais.
“Estamos diante de um crime que não reconhece fronteiras, que se infiltra no digital e se disfarça de tecnologia. Desse modo, o Brasil precisa responder com inteligência e transparência”, resumiu Alessandro Vieira.
Desse modo, com duração inicial de 180 dias, a CPI do Crime Organizado quer revelar as conexões entre o dinheiro sujo, a política e o avanço das criptomoedas — um retrato de como o crime se reinventa em plena era digital.


