Mesmo com as recentes notícias de que a Receita Federal resolveu apertar o cerco em relação às exchanges e aos detentores de criptomoedas do país, de acordo com o Idec, ONG de Defesa do Consumidor, a falta de transparência no setor bancário, que abrange muito mais pessoas que o ecossistema de criptomoedas no Brasil, pode ser o maior responsável pelas práticas ilícitas que a Receita atribui às criptomoedas.
Lançada recentemente pela ONG, a publicação Guia dos Bancos Responsáveis (GBR) é um estudo que já foi feito em outros oito países e avalia as políticas e práticas dos bancos em 18 temas de interesse da sociedade, relacionados aos consumidores, meio ambiente e economia. Segundo o relatório, atualmente, mais de 140 milhões de brasileiros utilizam bancos para receber salários, movimentar dinheiro, fazer investimentos ou empréstimos. Os bancos, por sua vez, são remunerados de várias formas: principalmente pelas tarifas, juros e serviços. O dinheiro que fica “guardado” no banco é repassado por meio de empréstimos para terceiros. Mas quem são esses terceiros? E se, indiretamente, esse dinheiro estiver financiando guerras ou o desmatamento das florestas?
Para dar este tipo de informação ao consumidor, o Idec, por meio do GBR 2018, analisou as políticas de nove bancos: Banco do Brasil, Bradesco, BNDES, BTG Pactual, Caixa Econômica Federal, Itaú, Safra, Santander e Votorantim. Cada um deles foi avaliado, com notas de 0 a 10, em 18 itens divididos em três grupos: temas transversais, no qual entram mudanças climáticas, corrupção, igualdade de gênero, direitos humanos, direitos trabalhistas, meio ambiente e impostos. Temas setoriais, como armas, alimentos, florestas, setor imobiliário e habitação, mineração, óleo e gás e geração de energia; e também em quatro temas operacionais, que são direitos do consumidor, transparência e prestação de contas, inclusão financeira e remuneração.
Os resultados do estudo mostram os bancos com um desempenho fraco e o pior resultado das instituições nacionais foi no item “arma”, que avalia o financiamento ou investimento em empresas envolvidas na produção, manutenção e distribuição de minas terrestres, munições de fragmentação e armas biológicas, químicas ou nucleares. Com exceção do Santander e do Safra, todos os bancos avaliados ficaram com nota 0, por não apresentarem nenhuma política sobre o tema, ou seja, não têm nenhuma política que impeça que dinheiro de clientes, sob custódia do banco, seja usado em empréstimos que podem envolver produção, distribuição e outras tarefas da indústria da guerra.
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“O GBR é um instrumento importante para o consumidor saber, por exemplo, se o banco com o qual trabalha é transparente, respeita os consumidores e promove ideias que estejam de acordo com ele. Queremos dar para cada pessoa o poder da informação, e assim, aumentar sua capacidade de fazer escolhas”, afirma a economista do Idec, Ione Amorim, responsável pelo estudo.