A Weiss Ratings, agência que criou o primeiro índice de classificação de risco de criptoativos, lançou um relatório cujas pontuações deram mostras de que as pessoas entendem o mercado como uma forma àqueles que vivem em países economicamente instáveis poderem proteger-se contra a desvalorização das moedas locais.
Juan Villaverde, matemático, economista, entusiasta de criptoativos e escritor do material, utilizou como exemplo o caso do Irã, país que viu a sua moeda local, o Rial, sofrer uma expressiva desvalorização a partir de 2016. Com a nomeação do presidente Donald Trump nos Estados Unidos, a cotação da moeda local chegou a quase 30 mil riais por um dólar.
Após a ameaça do presidente norte-americano de sair do acordo nuclear realizado com o país – fato que se concretizou no início de maio – o Rial despencou: um dólar chegou a valer quase 40 mil riais. Na prática, um Rial custa cerca de US$0.00002.
Embora pareçam satoshis, são dólares mesmo. O medo de uma crise financeira agravada por novas sanções econômicas ao país fez a população correr em busca de formas de proteger o pouco dinheiro que tinham, ou, em última instância, fugir do país.
Apesar de tal cenário parecer distante e improvável, ele já acontece – e mais perto do que nós imaginamos.
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Crises, inflação e proteção monetária
Brasil, Uruguai, Chipre, Grécia, Venezuela, Zimbábue. Esses são apenas seis exemplos de economias que já vivenciaram crises idênticas às vividas pelos iranianos atualmente, possuindo apenas variações de grau. E todas elas foram mencionadas no texto de Villaverde.
Além dos seis, ele também cita o caso da Argentina, que recentemente viu o valor do dólar disparar e teve que recorrer ao FMI para poder administrar suas parcas reservas de dólares.
Segundo o economista, quando tais movimentos ocorrem nos países, as pessoas começam a se dar conta de um fenômeno que poucos conhecem: o dinheiro guardado em bancos, que nós economizamos com o suor do nosso trabalho, não passa de meros dígitos eletrônicos em uma tela de computador, a qual é controlada por banqueiros e burocratas. Villaverde cita três cenários nos quais essa constatação aparece de forma mais drástica:
- Quando os depositantes começam a efetuar saques, poof! O dinheiro deles não estava realmente lá (como aconteceu no Chipre e na Grécia em 2015);
- Quando o governo fechou os bancos ou congelou contas bancárias, eles foram bloqueados (Chipre e Brasil na década de 1990);
- Quando o governo substituiu a poupança bancária por outra moeda, seu valor foi instantaneamente dizimado (as trocas de planos no Brasil e o famoso corralito na Argentina).
Tais cenários, que podem parecer distantes para quem vive em países com economias robustas e um sistema bancário aparentemente sólido, são muito comuns em países como os citados na lista. Mesmo para quem deseja poupar em dólares, a tarefa pode ser bastante ingrata em um país que pode ser ameaçado por bloqueio pelos Estados Unidos.
“Não é difícil para Washington impedir o acesso de qualquer nação ao sistema financeiro global. Então, se alguém está em um país vítima de sanções, mesmo que ainda possua dólares em sua conta, é quase impossível tirá-los do país. A menos que ela esteja disposta a arriscar a punição severa para aqueles que atravessam a fronteira com uma mochila cheia de notas de cem dólares. Tampouco é difícil para Washington inflacionar e desvalorizar sua própria moeda. Já fez isso antes. Poderia fazer isso de novo”, afirma Villaverde.
E tal sistema não fornece qualquer escapatória dentro de si mesmo, uma vez que o controle é feito por políticos e burocratas, os quais diferem apenas em nacionalidade.
“O problema fundamental: em última análise, todos os sistemas de moeda fiduciária são controlados pelos governos. Em última análise, os políticos e os banqueiros centrais decidem quem pode negociar com quem” afirma.
E tal sistema não possui qualquer solução. Ou melhor: não possuía.
Criptoativos: blindagem contra crises
Até 2008, poderíamos dizer que não existia qualquer alternativa de proteção financeira fora do sistema bancário.
Até 2013, poderíamos dizer que não existia qualquer alternativa viável de proteção financeira fora do sistema bancário.
Hoje, com a grande popularidade em torno dos criptoativos, tal ideia tornou-se parte do passo econômico. Como os casos da Venezuela e do Zimbábue podem ilustrar – nos quais o Bitcoin passou a ser utilizado por pessoas que desejavam proteger o pouco dinheiro que tinham – a nova tecnologia de dinheiro digital se transformou em um porto seguro para aqueles que buscam fugir do caos monetário que esteja incorrendo em seu país.
Para isso, basta utilizar qualquer criptoativo de alta liquidez, como Bitcoin ou Ether, e armazenar qualquer quantidade de valor. Não importa se seu patrimônio é de US$100 ou de US$100 milhões (ou qualquer moeda que seja). Ao armazená-lo em criptoativos, o usuário não apenas ganha em segurança, mas também em praticidade: é possível o transporte de qualquer soma dentro do bolso de uma mochila.
Além das vantagens aqui citadas, Villaverde cita quatro outros pontos que tornam os ativos digitais formas excelentes de proteção contra crises, confiscos ou conflitos de qualquer natureza:
- Governos não podem desligar a rede;
- Governos não podem penetrar em um sistema que é, por sua própria natureza, descentralizado, politicamente neutro e totalmente livre de permissões;
- Governos não podem impedir alguém de transacionar com qualquer outra pessoa na rede, em qualquer lugar do planeta;
- Tampouco podem impedir alguém de trocar seus ativos de volta para dólares, euros, ienes ou qualquer moeda fiduciária de sua escolha. Há sempre muitas pessoas no mundo que gostariam de trocar moeda Fiat por criptoativos.
Conclusão
Muitos entusiastas do Bitcoin afirmam que basta que ocorra uma nova crise mundial para que a adoção desses ativos digitais seja massificada, especialmente nos países mais pobres.
Isso pode ser uma questão de tempo. À medida que governos aumentam cada vez mais os seus gastos, inflacionam suas moedas e se perdem em um emaranhado de redes de corrupção, as pessoas tendem a confiar cada vez menos em seus supostos representantes – o que, inevitavelmente, irá levá-las rumo ao ato de retirar o seu dinheiro dos meios que possam ser controlados por essa gente.
Isso aconteceu na Venezuela, com a destruição do bolívar. Aconteceu no Zimbábue, com a emissão da famosa nota de 100 trilhões de dólares zimbabuanos. Um grupo cada vez mais crescente de usuários de criptoativos investe exclusivamente nessa classe de ativos.
Caso eles sobrevivam à uma futura nova crise, esses investidores podem vir tornar-se os bilionários do futuro.