Um tratado assinado recentemente entre os Estados Unidos e o Reino Unido pode dificultar a vida de quem utiliza redes sociais e também atrapalhar a criptomoeda do Facebook, Libra.
De acordo com o site The Block, o acordo permitirá que a polícia do Reino Unido tenha poder para forçar as plataformas de mídia social norte-americanas, como o Facebook, a entregarem mensagens dos usuários, incluindo aquelas que são “criptografadas de ponta a ponta”, como as mensagens trocadas via WhatsApp.
Segundo a matéria, investigações sobre certos crimes graves, incluindo pedofilia e terrorismo, serão cobertas pelo acordo entre os dois países. O CEO do Facebook Mark Zuckerberg causou um grande estrago em março, quando se comprometeu com a criptografia dos principais serviços de mensagens do Facebook, incluindo WhatsApp, Instagram e Facebook Messenger.
Esse tipo de criptografia faz com que as mensagens trocadas passem apenas pelos celulares das pessoas envolvidas na conversa – daí o nome “ponta a ponta” – e não fiquem armazenadas em servidores. Com isso, a privacidade dos usuários tende a ficar mais protegida contra vazamentos de dados e conversas, por exemplo.
A criptografia de ponta-a-ponta já estava presente em aplicativos rivais aos do Facebook, como o Telegram. A gigante norte-americana anunciou a novidade como uma resposta aos vazamentos de dados e ao escândalo da Cambridge Analytica em 2016.
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O governo do Reino Unido tem sido cético em relação aos planos da criptomoeda do Facebook. O país já solicitou à empresa que criasse “backdoors” (uma forma de burlar a criptografia de ponta a ponta) que permitiriam às agências de inteligência obter acesso às plataformas de mensagens, sob a alegação de questões de segurança nacional. O suposto tratado permitiria a criação desse mecanismo, mas estipula que os governos dos EUA e do Reino Unido não poderão investigar os cidadãos do outro país.
A quebra dessa criptografia pode representar um grande risco para o sucesso da Libra. A criptomoeda foi anunciada pelo Facebook como uma forma de transferir dinheiro de forma segura e privada. Segundo a empresa, nenhum dado financeiro dos usuários ficará armazenado, porém, caso esse “backdoor” possa se expandir para a Libra, os governos britânico e norte-americano poderão ver todas as transações de quem utilizar a criptomoeda.
Na prática, será como se ambas nações pudessem quebrar o sigilo financeiro de qualquer cidadão sem precisar de mandato judicial. Um risco enorme.
As notícias do acordo entre os EUA e o Reino Unido certamente aumentarão a discussão sobre a eficácia da “criptografia de ponta a ponta” quando implementada por grandes empresas. Atualmente, o Facebook está sendo investigado por várias nações e estados por violações da privacidade, o que pode dificultar a garantia de que a criptografia conceda uma verdadeira privacidade dos dados e resistência à censura.
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