A Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto), entidade que reúne grandes players do setor de criptoativos no país, tornou pública uma severa crise interna de governança. O ápice do conflito ocorreu quando a própria diretoria da associação moveu um processo judicial contra quatro de seus conselheiros, acusando-os de conspirar para destituir o presidente Bernardo Srur. A informação foi divulgada com exclusividade pelo Valor Econômico.
Do outro lado, os conselheiros processados – o advogado Daniel de Paiva Gomes; André Portilho, do BTG Pactual; Maria Isabel Sica, da Ripple; e Renata Mancini, da Ripio – obtiveram uma liminar da Justiça determinando a convocação de uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE) para que os associados possam votar pela recondução ou substituição de Srur. Eles alegam que o presidente tenta protelar a assembleia até após o dia 16 de dezembro. Segundo eles, a data coincide com prazo que determina a recondução automática ao cargo para um novo mandato de três anos.
Em resposta, Bernardo Srur afirmou ao Valor que acatará a decisão judicial e marcará a AGE exatamente para o dia 16 de dezembro. Ele defende que o processo contra os conselheiros não é um ataque pessoal, mas uma medida para anular um pedido de assembleia que, em sua visão, não seguiu os ritos estatutários da entidade.
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Tratamento diferenciado para exchanges na ABCripto
A renúncia do vice-presidente Thiago Severo, em meados do ano, marcou o início da crise. Severo deixou o cargo após se desentender repetidamente com Srur.
Fontes ouvidas pelo Valor afirmaram que o conflito atual na ABCripto representa o ápice de uma série de queixas sobre a falta de transparência na gestão. Os pontos de discórdia incluem a forma como a diretoria tratou os pedidos de ingresso de grandes exchanges internacionais.
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A reportagem citou especificamente os casos da Binance e da Bitpanda. De acordo com as fontes, o presidente Srur aprovou a entrada da Bitpanda após o conselho reprovar o pedido, utilizando para isso uma prerrogativa da diretoria.
Entretanto, os conselheiros apontam que o atual estatuto da associação é extremamente centralizador. De acordo com a reportagem, o documento que rege o funcionamento da associação foi elaborado em um período em que o Mercado Bitcoin (MB) tinha posição predominante na entidade. Bernardo Srur atuou como Diretor de Riscos e Compliance da MB entre 2018 e 2021, de acordo com seu perfil no LinkedIn.
Presidente nega acusações
Os conselheiros também questionam a falta de acesso a documentos e alegam que a associação estaria irregular perante a Receita Federal desde maio.
Questionado pelo Valor sobre uma suposta irregularidade da associação perante a Receita Federal, Bernardo Srur negou. Ele ainda afirmou ter disponibilizado os documentos financeiros. Porém, os conselheiros contestam as condições de acesso, que incluíam um termo de confidencialidade de cinco anos – cláusula que consideram abusiva e sem amparo na LGPD.
Em meio à crise, Bernardo Srur evitou confirmar se irá se candidatar à reeleição no dia 16, declarando ao Valor que “não tem pretensões políticas” e que seu objetivo é apenas “o melhor para a associação”. Ele afirmou que a governança trabalha para executar a assembleia e garantir uma transição tranquila, “seja lá quem forem os administradores futuros”.

