Sejamos sinceros. Quantas tecnologias nós utilizamos todos os dias e não fazemos a menor ideia como elas funcionam tecnicamente? Como um e-mail sai da minha caixa de entrada e chega até outra? Como eu aperto alguns botões no meu celular e, de repente, tem um carro com um motorista que eu nunca vi na vida me esperando na porta de casa? Às vezes, me pergunto até mesmo como funciona a cafeteira.
Apenas quem dedica muitas e muitas horas, dias, semanas e anos para entender uma tecnologia a fundo pode realmente compreendê-la. E isso não quer dizer que esta pessoa será capaz de explicá-la a alguém que não tenha dedicado o tempo suficiente para absorver os detalhes técnicos do funcionamento de determinada coisa.
Entender uma tecnologia é muito difícil. Explicá-la é mais difícil ainda.
Esse mesmo raciocínio se aplica ao Bitcoin. Essa tecnologia que ainda sequer completou uma década de vida envolve vários campos do conhecimento e aspectos sociais e, por isso, é extremamente difícil de ser compreendida. Quanto mais lemos, mais dúvidas temos. Talvez ninguém na Terra seja capaz de entender cada minúcia relacionada ao Bitcoin e à Blockchain.
Por que é tão difícil entender o Bitcoin? O desenvolver Jameson Loop explica bem essa questão. Segundo ele, porque o Bitcoin coloca na mesma cesta questões relacionadas à:
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- teoria dos jogos
- criptografia
- redes computacionais, transmissão de dados
- economia e teoria monetária (o que ainda não ajuda)
O Bitcoin não é apenas tecnologia, ele é uma profunda mudança de paradigma cultural e social. O Bitcoin é um protocolo vivo que emerge de uma grande mistura de ideias, filosofias, culturas e políticas depois de colocadas à prova de fogo.
E quem é capaz de explicar as tecnicidades do Bitcoin? Pouca gente. E por que precisamos entender cada fucking termo técnico sobre o Bitcoin? Na verdade, não precisamos, nós apenas queremos entender. Há uma diferença substancial entre precisar e querer.
Eu não preciso entender a fundo o que é e como funciona o SegWit, por exemplo. Eu e a maioria dos usuários normais apenas precisamos saber que ele permite enviar transações com Bitcoin de maneira mais rápida e barata.
Precisamos simplificar as explicações no mundo do Bitcoin. Eu já vi dezenas de diferentes explicações sobre o que é Bitcoin. Tem gente que começa falando sobre o cypherpunks, passa pelo Satoshi Nakamoto, pela crise financeira de 2008, vai até o Silk Road para então dizer, erroneamente, que é uma moeda. Essa história fica ainda mais difícil de ser digerida quando adicionam termos e conceitos pomposos retirados do dicionário de “economiquês”. Um novo usuário se perde nas primeiras linhas da explicação.
Nós precisamos fazer uma pessoa entender o que é Bitcoin sem precisar que ela perca o tempo dela lendo o artigo técnico que originou a tecnologia ou passe dias e dias lendo posts em inglês no Medium para acreditar que é possível enviar dinheiro de um ponto A a um ponto B sem precisar ligar para o gerente do seu banco.
Em algum momento do futuro, chegaremos a um estágio no qual as pessoas utilizarão uma tecnologia descentralizada e não ficarão se perguntando ou querendo saber como aquilo funciona. Talvez ainda estejamos bastante longe deste ponto na história, mas isso é apenas uma questão de tempo.
O primeiro passo para entendermos o que é Bitcoin é admitirmos que não entendemos o que é, não importa quanto tempo já dedicamos ao estudo da tecnologia. A cada dia ela se desenvolve, se modifica e novos conceitos e ideias surgem.
O Bitcoin segue um caminho próprio de evolução que é muito difícil de acompanhar. É preciso ser fluente em várias ciências para ser realmente um especialista de Bitcoin. A pessoa precisa entender de psicologia, ciência da computação, segurança da informação, engenharia de dados e redes descentralizadas, matemática, economia e até mesmo aspectos legais e regulatórios. Eu não conheço ninguém que domine tudo isso. Por isso, afirmo: não existem especialistas em Bitcoin.
Saber usar Bitcoin, ou seja, entender como enviar e receber um pagamento e também como armazenar de maneira segura (por mais que já estejamos falando de algo tecnicamente complexo) já é uma grande vitória na absorção desta tecnologia em sua vida. Se conseguirmos ensinar mais pessoas a fazer isso, chegaremos longe.
Você pode alcançar o “Nirvana do Bitcoin” aceitando que ele está em seu próprio caminho e que isso não está sob nosso controle. Não fique frustrado se a sua visão sobre o Bitcoin não for compatível com a de outros usuários. O Bitcoin irá naturalmente convergir para um denominador comum que será consensualmente aceito pela humanidade E isso é benéfico (ou ao menos não é prejudicial) para a grande maioria dos participantes.