Depois de outubro de 2008, quando Satoshi Nakamoto escreveu o artigo histórico “Bitcoin: um sistema de dinheiro eletrônico ponto a ponto“, os métodos de armazenamento de dados e de transações, especialmente no universo financeiro, não são mais os mesmos. O Bitcoin e a Blockchain deixaram de ser apenas um assunto inovador e tornaram-se tecnologias cada vez mais presentes em nossas vidas. O mercado financeiro está agitado frente às inovações e o receio à mudança é confirmado pela negação de diversos reguladores financeiros espalhados pelo mundo.
Bernd Bernanke, ex-chefe do Sistema de Reserva Federal dos EUA, por exemplo, assumiu em 2013 a hipótese de que o Bitcoin e outras criptomoedas não teriam sucesso e em 2015 completou afirmando que as moedas digitais são uma ameaça ao órgão regulador. Jamie Dimon, presidente do banco JP Morgan, foi ainda mais radical chamando o Bitcoin de “fraude” e concluindo que todos que investem na moeda digital são “tolos“.
O maior problema é que alguns reguladores perceberam que talvez não tenham lugar para eles nesse novo sistema financeiro. Podemos dizer que a confiança provida pelas criptomoedas e pela Blockchain poderá estimular o desenvolvimento das economias nacionais. Como tem acontecido, por exemplo, no Japão, em que a aceitação do Bitcoin como meio de pagamento já atraiu bilhões de dólares em investimentos.
Alguns dos maiores bancos do mundo estão trabalhando na introdução da tecnologia Blockchain em seus negócios. Em agosto, Bangkok Bank, BBVA, BNP Paribas, HSBC, ING, Intesa Sanpaolo, Mizuho, RBS, Scotiabank, SEB e US Bank anunciaram publicamente trabalhos sobre a criação de uma plataforma de Blockchain para financiamento comercial. Entre outras coisas, a tecnologia deve otimizar o intercâmbio de dados entre os bancos em uma Blockchain centralizada.Sistemas de pagamentos também identificaram benefícios em criar suas próprias regras utilizando a tecnologia Blockchain. A Mastercard começou a oferecer aos seus clientes a oportunidade de realizar transações com moeda fiduciária usando a tecnologia.
O progresso da implementação da Blockchain por sistemas de pagamentos e por bancos é inevitável. Ao mesmo tempo, a capacidade de realizar transações financeiras através da Blockchain pressupõe a ausência de intermediários e consequentemente a existência desses sistemas de pagamentos, e dos bancos a longo prazo, está sob ameaça. Vitalik Buterin, fundador da plataforma Ethereum, comentou sobre as desvantagens de aplicações baseadas em Blockchains centralizadas, especialmente o baixo nível de segurança e o desenvolvimento técnico deficiente. No entanto, em alguns anos, a Blockchain descentralizada, como a inicialmente desenvolvida para o Bitcoin, irá impor forte concorrência para sistemas de pagamentos como Mastercard e Visa.
O mercado já possui projetos que, num futuro muito próximo, poderão fornecer uma solução realmente benéfica para o setor financeiro. O mais notório é a startup suíça Tezos, que arrecadou US$230 milhões em sua oferta inicial e que, infelizmente, depois de um conflito entre os fundadores e uma ação judicial levada a cabo por investidores colocou o projeto em dúvida. Ou então o promissor projeto de blockchain NEO, conhecido como o “Ethereum chinês“, que porém, provocou dúvidas e preocupações dos investidores após os banimentos anunciados pela China.
CREDITS é uma nova plataforma em desenvolvimento que tem como objetivo tornar-se concorrente do Ethereum e de outras empresas que oferecem plataformas de contratos inteligentes. A companhia lançará sua oferta inicial de moeda (ICO, na sigla em inglês) em janeiro de 2018.
Os principais indicadores da eficiência de um sistema de pagamentos são a velocidade das transações, baixo custo e confiabilidade do armazenamento de dados e, apesar do sucesso indiscutível ??dos sistemas eletrônicos atuais, as plataformas de Blockchain já estão começando a pressioná-los. Se o sistema de pagamento da Visa for capaz de processar 65 mil transações por segundo, então, por exemplo, a plataforma CREDITS promete realizar até 1 milhão de transações por segundo. Até agora, esta proposta é a maior já apresentada: a NEO promete processar cerca de 1 mil transações por segundo e o Ripple, especializado em pagamentos entre bancos, promete processar 100 mil transações por segundo.
Além disso, a velocidade de processamento de uma única transação na Visa é, na melhor das hipóteses, 1,4 segundos. A plataforma Ripple leva uma média de 5 segundos por transação. O MVP (produto mínimo viável) desenvolvido pela equipe CREDITS mostra resultados de até 3 segundos por transação, tempo que deverá cair conforme o crescimento no número de nós do sistema.
Quanto aos custos, a Visa não cobra comissões ou pagamentos de usuários finais, porém os bancos cobram e sem padrões claros estabelecidos. Todos nós somos impactados por taxas ao transferir fundos entre bancos que, em alguns casos, podem atingir até 10%. Comparada às taxas dos bancos, as transferências de fundos através de plataformas de Blockchain são muito mais baratas.
Os principais sistemas de pagamento, incluindo a Visa, fornecem segurança de dados, além de usar tecnologias avançadas de criptografia, porém essa capacidade é inferior à da tecnologia blockchain. Os projetos de blockchain estão experimentando algoritmos de realização de consenso, combinando diferentes abordagens tentando abandonar a versão original do Proof of Work. O projeto CREDITS, entre outras coisas, usa codificação homomórfica.
Os projetos de Blockchain no setor financeiro estão lutando pela liderança, proporcionando aos usuários velocidades rápidas de processamento de transações, e também um escopo para sua aplicação. O projeto NEO anunciou uma transição bem sucedida para o sistema de contrato inteligente NEO 2.0, além do Ethereum, que já apresentou uma série de testes de contratos inteligentes bem-sucedidos. Os desenvolvedores do CREDITS foram ainda mais longe e anunciaram sua intenção em disponibilizar a plataforma para o desenvolvimento da Internet das coisas (IoT, na sigla em inglês).