Um dos temas que me levou a aprofundar mais o meu conhecimento em criptomoedas foi a possibilidade que esses ativos trouxeram para as pessoas que estão à margem de qualquer sistema bancário tradicional. Para essas pessoas, mais do que qualquer coisa, o acesso a crédito significa uma forma de melhorar de vida através do empreendedorismo.
E, infelizmente, esse direito vem sendo sistematicamente negado para muitos. Dados do Banco Mundial colocam em dois bilhões a quantidade de pessoas em todo o mundo que não possuem acesso a serviços bancários. Na Índia, segundo país mais populoso do mundo, a taxa de pessoas sem acesso a bancos chega a impressionantes 800 milhões de pessoas, ou 65% da população. A falta de serviços bancários não traz apenas dificuldades para criar negócios ou ter acesso a crédito, mas também para proteger o próprio dinheiro. Como o episódio que ocorreu na própria Índia há mais de um ano.
Na ocasião, o primeiro-ministro do país decidiu, de maneira unilateral, tornar inválidas as notas de 500 e 1000 rúpias, as mais valiosas do país, as quais deveriam ser trocadas por notas de menor valor – e tal serviço só poderia ser feito em bancos. A medida, anunciada para supostamente combater a corrupção e a lavagem de dinheiro, acabou representando o fim da poupança de milhões de pessoas, que viram o seu dinheiro perder valor literalmente da noite para o dia.
Serviços descentralizados de finanças
Várias alternativas já foram tentadas para fornecer serviços de crédito para quem não possui conta bancária. O Lending Club é uma dessas iniciativas: o site fornece empréstimos em dólar a taxas competitivas, sem a necessidade de nenhum banco intermediando a transação, uma vez que os empréstimos são feitos diretamente entre o emprestador e o tomador.
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Para populações mais pobres, existem alternativas ainda mais acessíveis. Um grande exemplo é o Kiva. Com o lema “Loans that change lives” (empréstimos que salvam vidas), a plataforma tem o foco em microempréstimos. Geralmente solicitados por pessoas que desejam fazer algum curso ou comprar um pequeno equipamento de trabalho. Os empréstimos não rendem juros e podem ser pagos em várias parcelas. Tratam-se, portanto, de plataformas descentralizadas, as quais eliminam custos com intermediários e processos, tornando os fundos mais acessíveis para empreendedores do mundo inteiro. O mesmo espírito das criptomoedas.
Empréstimos em criptomoedas
No entanto, nenhuma dessas plataformas possibilitam operações envolvendo moedas digitais. Não é possível utilizá-las para emprestar bitcoins e receber juros em cima da moeda digital.
O BTCJam foi um dos primeiros sites que surgiu com a proposta de criar uma rede de empréstimos em Bitcoin. No entanto, várias denúncias e falhas no site (como a demora para liberar cadastros ou fundos) abalaram a confiança na ferramenta, abrindo a oportunidade para o aparecimento de concorrentes. E um deles é a BitBond.
Surgido na Alemanha, o BitBond se intitula uma plataforma de “empréstimos e investimentos sem fronteiras”. Assim como o Kiva, o foco da Bitbond são os microempréstimos (é possível solicitar empréstimos a partir de 0.01 BTC). E assim como o Lending Club, é possível receber juros em cima do valor emprestado, fazendo o capital crescer.
Portanto, o BitBond procura reunir o melhor de dois mundos: fornecer o acesso a crédito para pequenos empreendedores, e fornecer aos emprestadores uma oportunidade de ampliarem o seu capital através dos juros recebidos. E tudo isso feito de forma totalmente privada, resguardando a identidade de ambas as partes, o que é uma ótima proteção para pessoas que vivem em países com regimes políticos autoritários.
Juros, prazos e análise de crédito
Para não incorrer em golpes, o BitBond faz uma análise de crédito baseada em dois pontos. O primeiro é a busca pelo perfil de negociação através de outros sites (eBay, Mercado Libre, PayPal). Nesse caso, o usuário cadastra seu perfil e vincula o perfil desses sites ao perfil BitBond. A empresa analisa as avaliações em cada local, e faz um perfil de risco para o investidor cadastrado.
O segundo ponto da análise consiste na coleta de informações financeiras. Nesse caso, o usuário precisará fornecer informações sobre o seu trabalho e enviar para o perfil uma foto do comprovante de rendimentos, o qual irá atestar que a pessoa consegue arcar com os valores do empréstimo solicitado.
Os prazos dos empréstimos variam de seis semanas até 36 meses, e as taxas são calculadas em função do prazo acordado e da classificação de risco do tomador do empréstimo. A BitBond também cobra taxas, que podem variar de 1% (empréstimo de seis semanas) até 2,5% (36 meses).
O site também cobra uma taxa por atraso caso o tomador não pague o valor em dia. Essa taxa equivale a 5% a mais sobre o valor da taxa de juros original.
Riscos
Como toda plataforma P2P, os riscos são essencialmente os do tomador de empréstimo não honrar com o seu pagamento. A BitBond oferece meios para auxiliar quem fez o empréstimo a tomar as medidas legais cabíveis. A própria plataforma entra em contato com o tomador para lembrá-lo do atraso no pagamento. Se o atraso persistir por 90 dias, é decretada situação de calote e a identidade do tomador é revelada, para que as medidas judiciais sejam tomadas.
Além disso, a plataforma automaticamente negativa a classificação do tomador inadimplente, impedindo que o mesmo possa tomar novos empréstimos.
Conclusão
Plataformas como a BitBond fazem com que o mercado de acesso ao crédito seja cada vez mais acessível para os milhões de pessoas que não conseguem crescer economicamente devido a essa restrição.
Com plataformas P2P focadas em empréstimos de criptomoedas, esse acesso ganha ainda mais segurança, transparência e proteção, tornando os investidores praticamente imunes a confiscos, saques arbitrários e outras medidas do tipo, além de fornecer segurança e proteção jurídica tanto para emprestadores quanto para tomadores.
Tais plataformas apenas escancaram a beleza de um mercado livre atuando em prol de quem realmente ele beneficia: os cidadãos mais pobres.