O preço do ouro atingiu seu patamar mais alto desde abril, chegando perto de bater o recorde histórico de US$ 3.499 a onça. A valorização de mais de 5% em apenas dez dias, chegando a US$ 3.480, tem um catalisador principal: uma mudança significativa na curva de juros dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos. E, de acordo com analistas, esse mesmo movimento pode ser um vento propício para a alta do Bitcoin.
O fenômeno por trás da alta é o que o mercado chama de “curva de alta” (steepening). Ela ocorre quando os rendimentos dos títulos de curto prazo caem mais rapidamente do que os de longo prazo. Recentemente, o rendimento do título de 2 anos despencou 33 pontos-base, para 3,62%, enquanto o de 10 anos teve uma queda mais moderada, de 14 pontos-base, ficando em 4,23%. Isso ampliou consideravelmente a diferença (spread) entre eles para 61 pontos-base, o maior nível desde janeiro de 2022.
Para ativos que não oferecem rendimento, como ouro e Bitcoin, essa dinâmica é extremamente positiva. Durante o ciclo de alta de juros do Fed, por exemplo, muitos gestores de patrimônio evitavam o ouro devido aos altos custos de carregamento. Agora, com os juros de curto prazo em queda, esse obstáculo diminui.
Alta do Bitcoin é possível
O Bitcoin, frequentemente comparado ao ouro digital, se beneficia da mesma lógica. Sem gerar juros ou dividendos, seu apelo como reserva de valor aumenta quando as alternativas de renda fixa perdem atratividade. A queda no rendimento de 2 anos é, portanto, um desenvolvimento otimista para a criptomoeda.
Enquanto os juros de curto prazo caem, a relativa resiliência dos rendimentos de longo prazo conta outra parte da história. Eles sinalizam que os investidores ainda estão preocupados com a inflação futura e os riscos fiscais. Os break-evens de inflação (que refletem as expectativas de inflação do mercado) permanecem em torno de 2,45%, indicando que os compradores de títulos exigem proteção contra a perda do poder de compra.
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Este é um ambiente clássico que historicamente apoia o ouro como hedge contra a inflação e uma salvaguarda contra a desconfiança na política monetária. O Bitcoin, por sua natureza descentralizada, também é muitas vezes procurado por investidores com esse mesmo receio.
Se o cenário é favorável para ouro e Bitcoin, o mesmo não se pode dizer das ações. Historicamente, períodos de curva de juros em alta prolongada tendem a ser desfavoráveis para o mercado acionário, que enfrenta o dilema de um possível recrudescimento inflacionário no futuro.
Assim, o Bitcoin se encontra em uma posição intrigante: sua correlação com tecnologia pode ligá-lo ao Nasdaq, mas suas características de reserva de valor o alinham com o ouro. O movimento atual dos títulos do Tesouro parece estar acionando justamente esse segundo interruptor, criando um raro cenário onde duas classes de ativos aparentemente distintas podem brilhar juntas.