Durante a conferência Money2020, realizada em Las Vegas, representantes da Fundação Bill e Melinda Gates e da Omidyar Network comentaram sobre o potencial da tecnologia Blockchain para expansão do acesso a serviços financeiros pela população mais pobre espalhada pelo mundo. Ambas organizações são destaque entre as organizações filantrópicas focadas na promoção da inclusão social financeira.
Enquanto as organizações demonstraram interesse no potencial da tecnologia para apoiar a sua missão filantrópica, o entusiasmo da Fundação Bill Gates não foi tão marcante.
Kosta Peric, vice-diretor de serviços financeiros para necessitados da Fundação Gates, minimizou os aspectos do software recentemente divulgado por sua organização, denominado Mojaloop. O software de código aberto é projetado para tornar as redes financeiras interoperáveis, tudo a serviço de ajudar as pessoas desbancarizadas pelo mundo.
O Mojaloop faz uso do protocolo Interlocker da Ripple, porém “não é exatamente uma Blockchain. Apenas a utiliza como inspiração em alguns aspectos“, disse Peric.
Peric não mostrou muita empolgação sobre a utilidade do Bitcoin e outras blockchains para a realização da inclusão financeira. Especificamente, ele acredita que não são adequados para sistemas de pagamentos domésticos.
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Um dos motivos é o desempenho, afinal nenhuma blockchain pode corresponder às mil ou mais transações por segundo de sistemas de pagamento doméstico em tempo real, disse Peric. Além disso, as blockchains não fazem sentido para este caso de uso porque “os dados de pagamento de um país acaba sendo espalhado por todo o mundo“.
Peric amenizou seus comentários ao acrescentar que as blockchains públicas podem fazer sentido para remessas internacionais.
De acordo com Arjuna Costa, sócio da Omidyar Network, movimentação de dinheiro não é a única maneira que a Blockchain pode ser útil para a inclusão financeira. “Além dos pagamentos, há muito potencial que ainda não aprovamos“, disse ele, descrevendo dois casos de uso que ajudariam as pessoas pobres a ter acesso ao capital, embora indiretamente.
Um dos casos mencionados por Costa é o uso da blockchain para o registro de propriedades, que garantiria às pessoas títulos das suas propriedades. O outro é de utilização da tecnologia para analisar fluxos de pagamentos (incluindo recibos e faturas) para pequenas empresas, o que ajudaria as instituições financeiras a avaliar sua capacidade de crédito e, portanto, disponibilizar à essas empresas. “O potencial da tecnologia é muito alto“, disse Costa.
A pessoa mais entusiasmada sobre a blockchain, durante a sessão, foi a moderadora Christine Duhaime, fundadora do Instituto de Finanças Digitais, fintech focada em soluções políticas e econômicas com sede em Vancouver, Canadá.
“O Bitcoin é uma das minhas tecnologias favoritas“, disse Duhaime, que também é advogada especializada em leis contra o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo.
Para ilustrar seu apreço à moeda digital, Duhaime citou o trabalho da Code to Inspire, uma organização que ensina mulheres e meninas afegãs a escreverem código de programação, como encontrar trabalho on-line e como usar Bitcoin. A organização possibilita maior autonomia e privacidade financeira em um país em que os serviços financeiros não estão disponíveis ou quando estão não são totalmente seguros.
Duhaime chegou até mesmo a elogiar as ofertas iniciais de moedas, embora reconheça os riscos que envolvem a metodologia de angariação de fundos. Ela acredita que a iniciativa poderia expandir o acesso ao capital. “Essa iniciativa permite o acesso ao capital por todos. Poderia ser um fazendeiro ou poderia ser um bilionário, não importa. Você ignora os mercados, ignora a infraestrutura, você obtém acesso ao capital“, disse Duhaime.