Recentemente, um episódio bastante inusitado ocorreu na Rússia: um avião que levava 10 toneladas em ouro, diamantes e outras pedras preciosas perdeu parte de sua carga no ar. Cerca de 360 milhões de dólares caíram nas terras geladas da Sibéria.
O avião decolou do aeroporto da cidade de Yakutsk e ía em direção a mina de Kupol. Mal tinha percorrido 30 quilômetros quando apresentou problemas no compartimento de carga: o ouro e as pedras começaram a cair do céu a medida que a aeronave ganhava altitude. Após perceberem os metais caindo, a tripulação fez um pouso de emergência na cidade de Magan, localizada a 26 quilômetros do aeroporto de partida.
Quando a notícia da queda da carga se espalhou, imediatamente teve início uma corrida ao ouro nas terras geladas da Sibéria. O estado de atenção foi tamanho que a polícia acabou encarregada de agilizar as buscas pelo material, de forma a prevenir saques.
E o acontecimento acaba remetendo à uma das grandes vantagens do uso do Bitcoin: a transferência de valores.
Portabilidade e divisibilidade
Transportar riqueza sempre foi um problema histórico para a humanidade. Do gado ao ouro, bens sempre tiveram que lidar com problemas envolvendo a sua logística de transporte.
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Embora o gado já tenha sido usado como dinheiro, transportar um rebanho de vacas para ser trocado por alguma coisa não era viável. Os riscos de acidentes e perdas de cabeças do rebanho eram enormes, sem falar nas eventuais fugas de animais.
Com o advento dos metais, o processo de transporte obteve várias melhoras, mas ainda não era prático levar uma sacola cheia de moedas de ouro ou prata para serem trocadas por algum bem – especialmente se fossem bens de maior valor, como uma casa ou fazenda. Se os metais estivessem em formato de barras, então, surgia um segundo problema: a divisibilidade. Dividir uma barra de ouro em “centavos” era praticamente impossível. O ouro possuía o grande atributo de ser valioso e confiável como reserva, mas sua praticidade sempre foi extremamente limitada.
Sistema bancário de reservas fracionadas
Foi para facilitar esse sistema que surgiram o sistema bancário e as cédulas de depósitos. Os bancos ficavam encarregados por fazer a custódia dos valores de seus cliente, e davam, a estes, recibos que representavam a quantidade armazenada nas contas. Dessa forma, o cliente poderia sacar os valores em qualquer outra agência bancária, bastando levar os comprovantes de depósitos.
Conforme o tempo e a experiencia mostraram, a praticidade de transacionar com os recibos era muito maior do que a de ir até a agência, sacar o ouro e entregar ao novo portador. Em vez de entregar a titularidade do metal, bastava entregar o recibo ao novo portador, que poderia então (caso desejasse) restituir o seu valor em ouro.
Os recibos, portanto, se tornaram a moeda corrente, enquanto o ouro e a prata se tornaram os metais que fornecia o lastro para esses recibos.
Entretanto, os bancos começaram a perceber que nem todos os clientes sacavam o ouro das agências. Isso forneceu um estímulo para que estes começassem a emitir mais recibos do que a quantidade do metal que realmente possuíam em seus cofres. Essa foi a origem do sistema bancário de reservas fracionadas, modelo que perdura até hoje.
Hoje não temos mais o padrão-ouro. Os bancos não possuem ouro guardado em seus cofres para restituir as cédulas de papel. De fato, os bancos sequer são obrigados por lei a fazerem essa restituição.
Além disso, os bancos nem mesmo possuem a quantidade de dinheiro total que os nossos saldos bancários mostram. Caso haja uma corrida bancária e todos os clientes resolvam sacar seu dinheiro no banco, existem duas alternativas: ou a agência irá a falência, ou o banco central será obrigado a emitir mais dinheiro e resgatar aquela instituição – o que pode resultar em uma desastrosa inflação de preços.
Riscos e desvantagens do ouro e do sistema bancário
O episódio do avião na Sibéria mostra mais uma das grandes vantagens que o Bitcoin possui tanto em relação ao ouro, quanto ao sistema financeiro atual: a praticidade.
Como o exemplo russo mostrou, transportar metais e pedras preciosas demanda um enorme trabalho logístico. É necessário fretar um avião (ou trem), providenciar um forte esquema de segurança, pagar um seguro para a carga, conseguir as barras e pedras e garantir que o transporte não apresente falhas.
E, em caso de um acidente, as chances de perda parcial ou total da carga são enormes. Afinal, mesmo que seja 10% de perda, trata-se de um alto valor quando falamos de uma carga avaliada em quase meio bilhão de dólares perdida.
No caso do sistema financeiro, os custos também são elevados. Uma transferência internacional pode chegar a cobrar mais de 10% do valor total em taxas – isso sem falar nos impostos, que variam de acordo com cada país. E além da cobrança, há uma perda no tempo, visto que podem ser necessários até 3 dias úteis até que o dinheiro esteja disponível.
Portanto, de um lado temos uma forma de transporte cara, ineficiente e sujeita a riscos de perda e roubo. Do outro, temos altas taxas de transferência e demora no recebimento do dinheiro. Sobra a terceira alternativa: o Bitcoin.
Segurança e praticidade
Nesses dois quesitos, a criptomoeda supera com folga tanto o uso de metais preciosos quanto o uso do sistema bancário para o transporte e transferência de riquezas.
Para começar, a criptomoeda não possui fins de semana nem feriados, tampouco horário comercial. Bitcoins podem ser transferidos de qualquer lugar do mundo, a qualquer horário, em qualquer valor. Sem precisar de aviões ou de nenhum contato com gerentes de banco.
As taxas de transação são mais um ponto em que o Bitcoin se supera. Com a chegada de melhorias como o SegWit e a Lightning Network, a tendência é que os preços de transações caiam ainda mais. E não importa se o valor transferido é de 100 dólares ou 100 milhões de dólares: a taxa é a mesma. O tempo também conta a favor do Bitcoin, pois uma transferência realizada do Brasil para o Japão – ou para qualquer outro país – leva no máximo 10 minutos, o que se trata de uma enorme redução comparada aos 3 dias do sistema bancário, ou as horas que um avião levaria para chegar ao seu destino.
Por fim, o armazenamento e segurança. Bitcoins podem ser guardados em objetos extremamente simples: um smartphone, pen drive ou até mesmo um pedaço de papel podem servir como carteiras e armazenar milhares de dólares. Adeus contêineres, cofres de banco ou galpões de hangares.
Conclusão
Uma carga de quase 400 milhões de dólares não é um prejuízo desprezível. Infelizmente, esse é o risco de ter que usar meios de terceiros para transportar riqueza. O Bitcoin surgiu para, entre outras coisas, facilitar esse processo.
Resta ver se os russos irão aprender com o incidente e mudar a suas politicas em relação a criptomoedas para, assim esperamos, uma visão e leis mais positivas.