O título do livro já começa com uma boa sacada: uma pergunta que instiga a atenção do leitor. Uma simples palavra poderia responder a pergunta que dá título a esse texto: “destruiu”. No entanto, você não veio aqui ler um texto de uma frase, certo?
Em termos de conteúdo, O que o Governo fez… é uma leitura muito agradável. Suas 105 páginas podem ser lidas em um manhã de folga. As reflexões trazidas por Rothbard há mais de 50 anos (o livro foi publicado em 1963) ainda podem ser aplicadas ao mundo atual – na verdade, servem mais hoje do que em sua época. Países como Venezuela, Zimbábue e o próprio Brasil já descobriram o que o governo fez com o dinheiro, cujas consequências não foram nada agradáveis.
O problema do livro é justamente o que falta. Seu tamanho o faz parecer incompleto. E a morte prematura de Rothbard o impediu de fazer uma edição mais completa. Se estivesse vivo hoje, Rothbard certamente teria muito o que falar a respeito do Bitcoin – afinal, a criação de Satoshi Nakamoto merece um capítulo completo em qualquer livro descente sobre economia.
O economista americano Murray Rothbard respondeu a essa pergunta de forma bem mais completa. O resultado foi o livro “O Que o Governo Fez com o Nosso Dinheiro“, livreto escrito por Rothbard no qual ele fala exatamente sobre a atuação do estado no campo monetário.
O livro (cuja edição brasileira tem prefácio e posfácio de Fernando Ulrich) está mais para um pequeno tratado. Com pouco mais de 100 páginas, ele é dividido em três partes. Na primeira – “O Dinheiro em uma Sociedade Livre” – Rothbard traz um apanhado a respeito das origens do dinheiro. Aqui, ele desmistifica a noção, aceita por muitos economistas mainstream, de que o dinheiro é uma criação do estado, apontando como o dinheiro surgiu da necessidade do ser humano de encontrar um meio de troca que fosse universalmente aceito.
Nessa parte, Rothbard também discorre a respeito da cunhagem privada de moedas – e da sua eficiência perante a alternativa estatal – e também sobre moedas paralelas. Ao contrário de Friedrich von Hayek, que defendia a concorrência de várias moedas criadas pelo mercado, Rothbard foca no ouro e na prata e afirma que ambos podem coexistir em uma economia sem a necessidade de interferência governamental.
Já na segunda parte do livro – “A Interferência do Governo na Moeda” – Rothbard, como o próprio nome diz, critica a interferência do estado no arranjo voluntário da produção do dinheiro. Temas como inflação, adulteração de moedas metálicas via cunhagem, moedas fiduciárias, bancos centrais e o fim do padrão-ouro, ocorrido em 1971, são discutidos com o característico estilo ácido de Rothbard. Tais medidas, afirma o autor, selarão o “Colapso Econômico do Ocidente”, título da parte final do livro.
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Na terceira e última parte, Rothbard discorre sobre as crises financeiras ocorridas no século XX e correlaciona a manipulação – e consequente destruição – da qualidade do dinheiro a ocorrência dessas crises.
Uma das frases de Rothbard nessa parte serve como uma luva para o sistema financeiro atual, marcado por invenções heterodoxas como juros negativos, políticas de “estímulo” via impressão de dinheiro e socorro de grandes empresas e bancos.