As DAOs – Decentralized Autonomous Organization – foram criadas para estruturar organizações financeiras que pudessem funcionar de uma forma inovadora, justamente para poder atender a um mercado totalmente inovador, que é o dos criptoativos.
No entanto, essa maneira de enxergar as organizações já rompeu com a barreira que separava, ainda que fosse apenas de forma imaginária, o que é o mercado tradicional e o mercado de criptoativos e hoje já podemos observar outras e inovadoras aplicações para o conceito.
Talvez, a melhor forma de compreendermos o quanto uma DAO é realmente inovadora de diferentes pontos de vista seja nos fazermos a seguinte pergunta: como é que uma grande empresa funciona?
Bem, é fácil responder. Existem diferentes níveis na organização, cada uma com suas metas, objetivos e funções. De certa forma, existem também os planejadores e os executores. Certo? Mas imagine, agora, como é o processo de tomada de decisão nessa grande empresa.
Imagine quantas pessoas se envolvem, cada uma com uma visão, função e de um nível organizacional diferente. Imagine como é a cartilha de regras para isso e o que pode acontecer quando algo sai de forma não planejada. Parece algo que tem tudo para dar errado, certo?
Confira nossas sugestões de Pre-Sales para investir agora
Agora, imagine essa empresa com pessoas que não se conhecem, que nunca se viram e que nem mesmo o mesmo idioma falam. Seria impossível conceber que o processo de tomada de decisão nesse lugar fosse como um tranquilo passeio ao fim da tarde.
E é aí, justamente, que uma DAO revoluciona essa forma de pensarmos o processo de tomada de decisões.
Em uma DAO é possível sim que pessoas que não se conhecem e tampouco já tenham conversado na vida possam tomar decisões acertadas para a organização. E, mais do que isso: decisões muito rentáveis, por meio de regras claras e programadas.
O que é DAO?
Uma DAO pode ser compreendida como uma organização que é representada por meio de regras que foram previamente codificadas e acordadas por meio da utilização de contratos inteligentes e, portanto, são organizações inovadoras, totalmente baseadas em blockchain.
As DAOs são, por definição, organizações absolutamente transparentes e elevam o conceito de democracia, dado que não existem níveis hierárquicos em uma DAO e todas as decisões tomadas em uma são necessariamente descentralizadas, tal qual a própria blockchain o é.
Não há, em uma DAO, qualquer interferência de um governo central no processo de tomada de decisão, pois tudo o que nela acontece é decidido por meio de processos de votação simples.
Essa estrutura de uma DAO permite ter uma organização realmente autônoma, com ação eficiente e livre de procedimentos burocráticos ou de obstáculos internos baseados em hierarquia.
Por meio de uma DAO é possível que pessoas de qualquer lugar do mundo possam trabalhar juntas em um projeto, qualquer que seja o seu objetivo final e tudo isso acontece de maneira segura, transparente e confiável.
De que maneira funciona uma DAO?
O funcionamento de uma DAO é totalmente baseado em um contrato inteligente, que é uma funcionalidade de algumas blockchains que permite que alguns processos possam ser totalmente automatizados.
Uma DAO tem, necessariamente, um contrato inteligente que é o documento autoexecutável que define todas as regras da organização e que é, ainda, diretamente responsável pela gestão financeira do grupo.
Assim, uma vez que o smart contract esteja devidamente ativo, ninguém mais pode fazer qualquer alteração em suas regras, exceto se houver, previamente, uma votação entre todos os membros da DAO que assim determine que deve acontecer.
Caso qualquer pessoa tente fazer alguma alteração conforme a sua própria vontade e que não esteja nas regras e lógica do código do contrato inteligente, a ação será interrompida e a alteração será bloqueada.
Assim, ninguém poderá fazer qualquer interferência na forma de gestão da DAO, nem sumir com todo o dinheiro do grupo, apenas porque o código do documento está aberto.
É justamente por conta disso tudo que uma DAO não precisa de qualquer autoridade que possa distribuir ordens ou mesmo funções.
Uma DAO é, por definição, uma organização totalmente autônoma que preza por processos de autogestão, totalmente controlados por meio dos votos, que têm pesos iguais para cada pessoa que assim tem o poder de votar.
Quais são as diferenças entre uma DAO e uma organização tradicional?
Entre as principais diferenças entre uma DAO e uma organização tradicional, o que temos de mais importante e relevante trata essencialmente da forma como o processo decisório se dá em uma e em outra estrutura organizacional.
Diante disso, o que temos em uma DAO é uma estrutura totalmente descentralizada, regida por um contrato que é comum a todos os seus participantes, com regras específicas, sobretudo.
Todos têm livre acesso ao código desse contrato e podem revisá-lo a qualquer momento, pois todos desfrutam dos mesmos direitos e dos mesmos deveres, por assim dizer. Portanto, não há qualquer nível hierárquico em uma DAO, que funciona de maneira desburocratizada.
Já uma organização tradicional tem uma estrutura bastante verticalizada, em que há uma diretoria que determina quais são as metas e objetivos e outros níveis de gestão que determinam a forma de conseguir chegar a esses resultados esperados.
Assim, enquanto uma DAO funciona de maneira em que o papel de decisão é comum a todos, uma organização tradicional acaba por ter uma figura que concentra todo o poder de decidir a respeito dos caminhos que a organização seguirá.
Por dentro da história: como surgiram as DAOs?
A primeira DAO que surgiu recebeu o nome de “The DAO”, que tinha por objetivo inaugurar um novo modelo de negócios bastante inovador, que funcionasse de forma completamente descentralizada e que fosse acessível para qualquer tipo de empresa.
Essa primeira DAO foi instalada na blockchain Ethereum e não tinha um modelo de gestão ou mesmo uma estrutura de gestão que pudesse ser tomada como convencional. Tanto que todos os seus smart contracts eram open source. Ou seja: qualquer um poderia observá-los.
A The DAO não tinha uma sede e tampouco qualquer ligação com uma país específico e, por conta disso, foram muitos os questionamentos a respeito da forma como as economias estatais poderiam lidar com esse inovador modelo de negócios, que nasceu em junho de 2016.
O nascimento da The DAO foi bastante inusitado, pois foi criado a partir de um financiamento coletivo que, em apenas um mês, arrecadou mais de 150 milhões de dólares para a composição do seu fundo. Esse foi o maior financiamento coletivo da história.
No entanto, a primeira DAO existente, que foi um símbolo de glória e de celebração da descentralização como futuro da economia, acabou de forma rápida e realmente terrível.
Um ataque hacker comprometeu 50 milhões de dólares do fundo. Isso fez com que a organização estivesse envolvida em uma grande discussão sobre o futuro das DAOs.
Ainda assim, com o passar do tempo novas DAOs surgiram e, hoje, elas são bastante promissoras no mercado criptográfico, apesar do seu passado bastante obscuro e sombrio.
Quais são as vantagens de uma DAO?
Dentre as vantagens de se filiar a uma DAO podemos citar que o próprio conceito de DAO é empolgante, sobretudo quando observamos como a organização busca por uma forma de resolver tudo o que as organizações tradicionais criaram de ruim para os processos de gestão.
Dessa maneira, uma DAO, quando estruturada da forma correta e com um código realmente impecável, oportuniza que cada investidor possa, da sua própria forma, interagir com a companhia, que é moldada, necessariamente, para cada tipo de investidor.
Como não há uma estrutura hierárquica, qualquer ideia pode ser apresentada ao grupo por qualquer pessoa, independente de quanto ela tenha investido, sobretudo porque há um código determinando quais são as regras que cada investidor tem de seguir.
Essas regras podem ser consultadas e estudadas antes mesmo que a pessoa se junte à organização. Assim, todos sabem desde o princípio quais são as regras que devem ser seguidas em uma votação, não deixando qualquer tipo de espaço para discussões a respeito da atuação.
Assim, também cabe a cada investidor, de forma muito particular, decidir em que irá votar e como irá votar, dado que a DAO exige sempre que uma determinada quantia seja paga para que seja possível dar um voto.
Por conta disso, ninguém da DAO irá investir seus recursos para votar em soluções que não sejam eficientes para a gestão da organização, dado que é realmente preciso gastar dinheiro para poder expressar uma vontade ante à DAO.
Essa metodologia de gestão faz com que a DAO seja uma forma bastante perspicaz de fazer com que uma organização seja mais bem gerida, sobretudo por conta da sua forma democrática de se autorregular e por conta da publicidade de todas as suas ações.
Quais são as desvantagens de uma DAO?
Por óbvio, uma DAO não está imune a críticas, tal como qualquer outra coisa que se relacione com o mercado de criptoativos e com criptomoedas, especificamente.
Como as DAOs são tecnologias ainda muito recentes e, em até certa medida, revolucionárias, é natural que muito se questione ainda a respeito da sua forma de atuação mercadológica e, sobretudo, em sua forma de gestão.
No entanto, muitas dessas críticas ainda esbarram em um certo elitismo, que é bastante taxativo ao falar que as massas não são capazes, ainda, de tomar decisões que afetam uma economia de maneira realmente importante.
Isso porque uma DAO não tem qualquer filtro de regulação de perfil para aceitar um novo investidor. Basta que a pessoa ou a instituição decida comprar ativos emitidos pela DAO para fazer, então, parte dela. Tal qual uma empresa de capital aberto na bolsa de valores, portanto.
Dessa forma, alguns perfis mais conservadores afirmam que a entrada de “qualquer pessoa” em uma DAO pode fazer com que a organização tenha desafios importantes em relação aos processos decisórios, em que todos têm o mesmo peso em uma votação.
Além disso, problemas de segurança ainda são uma preocupação bastante comum para quem analisa o mercado financeiro, dado que o código de uma DAO não pode ser interrompido, mesmo que ela esteja sob ataque.
Assim, se um hacker conhecer bem as regras de uma DAO e ainda assim conseguir, de alguma forma, burlá-las, poderá fazer saques sem que qualquer pessoa possa interrompê-lo, o que coloca o código das DAOs sempre na mira de críticos.
Por fim, ainda em relação às desvantagens, temos também a questão relacionada à ausência de regulação jurídica sobre as DAOs, o que impede, muitas vezes, que investidores judicializem questões.
Conheça algumas DAOs
Agora que você já conhece vantagens e desvantagens das DAOs, é hora também de conhecer algumas das mais influentes no mercado atual!
Dash
A Dash chegou ao mercado como uma criptomoeda que conta com recursos bastante robustos em relação às tecnologias que asseguram a privacidade dos seus investidores. Além disso, a Dash também é uma DAO.
Sua blockchain foi criada a partir de uma bifurcação do Bitcoin, como um projeto criado por Evan Duffield em janeiro de 2014, apenas cinco anos após a criação da primeira criptomoeda da história.
A princípio, a Dash recebeu o nome de XCoin e, depois, recebeu o nome de DarkCoin, para ficar apenas como “Dash” posteriormente.
O projeto Dash utiliza um mecanismo de consenso duplo de PoW e de PoS, o que a torna um projeto bastante seguro e bastante promissor para o mercado de criptoativos.
Digix Global
A Digix Global é uma das mais importantes DAOs que já existiram e foi um dos primeiros ICOs do mercado financeiro criptográfico – que é tal como um IPO, quando uma empresa tradicional abre seu capital para investimentos em uma bolsa de valores.
Em seu ICO, a Digix Global levantou mais de 5,5 milhões de dólares e, com o aumento no valor do Ether, seus cofres aumentaram voluptuosamente, fazendo com que tivessem mais fundos do que aquilo que poderia ser utilizado de fato pelo projeto.
Ainda em 2019 ocorreu uma votação para saber se esses valores deveriam ser liquidados e divididos entre os investidores ou mantidos na organização. Seus investidores votaram na continuação do fundo, no entanto.
BitShares
A BitShares é uma plataforma de investimentos gerida por uma DAO que conta com a sua própria criptomoeda, chamada de BTS. Por meio da BitShares os seus investidores podem fazer diferentes negociações de forma ilimitada.
Por conter todos os recursos esperados de uma exchange como qualquer outra, a BitShares acabou se tornando uma excelente opção para quem buscava investir por meio de uma plataforma mais descentralizada.
Atualmente, é uma das principais exchanges do mercado de criptoativos.
Quais os tipos de DAOs existentes?
Atualmente, contamos com algumas categorias de DAOs no mercado e cada uma, embora tenha a mesma função, de fato, apresenta um modelo de gestão diferenciado.
A DAO Social é muito mais focada na colaboração dos seus investidores e se aglutina em uma grande rede social, por meio da qual se oferece uma estrutura mais democrática em que é absolutamente impensada qualquer forma de censura aos seus investidores.
Já a DAO Grant tem por objetivo a arrecadação de dinheiro para um fim realmente coletivo e leva a noção de comunidade realmente a sério.
Para manter uma DAO Grant, usuários podem emprestar fundos entre si e até mesmo fazer aplicações de forma coletiva e descentralizada em outras formas de investimentos igualmente descentralizados.
Por sua vez, a DAO Collector é um tipo de organização descentralizada com um foco mais artístico e voltada para uma comunidade mais criativa.
Esse tipo de DAO permite que artistas criem NFTs e possam estabelecer propriedade sobre as suas artes.
Por fim, a DAO Service tem por objetivo viabilizar que usuários possam, de forma coletiva, criar outras DAOs, com outros objetivos. Talvez seja esse o tipo de DAO mais incomum do mercado.
Como toda DAO tem um token próprio, cada investidor pode apoiar qualquer tipo de DAO que desejar, engajando ou não em suas dinâmicas de votação e busca de consenso democrático.
De que forma é feita a votação em uma DAO?
A princípio, pelo menos, não existe qualquer regramento que possa determinar a forma correta de se fazer uma votação em uma DAO, porque a maneira como cada DAO se organiza depende, necessariamente, do seu contrato inicial que, conforme dissemos, é público.
No entanto, de forma geral, a forma como se dá um processo de votação em uma DAO acontece sempre de forma autônoma e é protegido por senhas criptografadas.
Dessa forma, é impossível saber como cada investidor votou, o que torna todas as decisões realmente anônimas.
Em uma votação todos os investidores têm um peso igual em seus votos. No entanto, cada voto é representado por um token, de posse de um investidor. Quanto mais tokens da DAO um investidor tiver, maior será o seu número de votos.
Ainda que qualquer usuário de uma DAO possa fazer propostas para a organização, é sempre a comunidade que irá definir quais são as regras de funcionamento desse coletivo.
Assim, pode ser definido que apenas quem tiver uma quantidade pré-determinada de tokens poderá votar, pode ser definido um quórum mínimo para validar uma votação e, até mesmo, pode ser definido um prazo para votação e implementação do que foi decidido coletivamente.
Por conta disso, é fundamental que antes de fazer a aquisição de um token de uma DAO o contrato da organização seja cuidadosamente lido e realmente compreendido pelo investidor, que passará a ter algumas obrigações com o grupo caso o contrato assim determine.
Seriam as DAOs o futuro das organizações globais?
Conforme afirmamos anteriormente, as DAOs são formas de organizações que apresentam uma oportunidade realmente interessante para o mercado, sobretudo para a transformação das empresas como as conhecemos hoje.
Em organizações que atuam em setores de alto impacto social, é possível já reconhecer algumas influências positivas do conceito de DAO na formação e na transformação de alguns processos de gestão.
As DAOs, além de fomentarem práticas mais inovadoras para o mercado, também são excelentes quando se trata de fazer o levantamento de fundos para financiamento de algumas iniciativas bastante específicas e algumas empresas já vêm adotando essa ideia.
A Ribon, uma socialtech brasileira, anunciou no mês de março que passará a adotar o modelo de uma DAO ainda em 2022. Se essa ação for realmente próspera e engajar seus colaboradores, todos na startup de impacto social passarão a ser recompensados em cripto.
Essa ação proposta pela Ribon também poderá ter impactos em outras empresas focadas nesse mesmo setor, que poderão, ao longo do tempo, adotar essa mesma metodologia de trabalho, focando na transformação dos seus processos decisórios e tornando-os coletivos.
Além disso, a empresa passará a ter o seu próprio token, que poderá ser explorado financeiramente pelo mercado, tal como outras criptomoedas. Dessa forma, abre-se também uma porta bastante interessante para investidores focados no terceiro setor.
Quanto mais valorizado for o ecossistema da empresa no mercado, mais valioso se tornará o seu capital, beneficiando não, apenas, as instituições que podem ser atendidas pela organização, mas, ainda, seus próprios colaboradores, que passarão a ter mais capital.
Esse tipo de transformação visa, portanto, envolver mais pessoas, ainda que não estejam ligadas à empresa formalmente e pode ser um caminho que começa a ser trilhado também para outras organizações, que possam vir a se transformar em DAOs futuramente.
Concluindo…
As DAOs são formas de organizações descentralizadas, que têm por objetivo unir usuários e investidores de serviços criptográficos em qualquer lugar do mundo em que estejam.
Toda DAO tem um token próprio, por meio do qual o seu capital é subdividido entre seus participantes, de forma totalmente proporcional ao que cada um investe, especificamente.
Suas formas de votação são sempre pautadas pelo contrato que a DAO fixa e, dessa forma, são sempre previsíveis e, sobretudo, públicas.
Leia também: Blockchain: saiba o que é e como funciona essa tecnologia
Leia também: O que é Ethereum? Guia para iniciantes
Leia também: O que é DeFi? Conheça a definição e seus casos de uso