Como pratos sujos podem explicar o funcionamento e o potencial de confiança na Blockchain?
Leo, Júlio, Maria e Elsa são quatro estudantes que moram na mesma república em Florianópolis. Como em quase toda república espalhada pelo Brasil, é uma guerra na hora de saber quem vai lavar os pratos sujos de Miojo. Os estudantes tentaram implantar um sistema de revezamento, mas foi um fracasso fenomenal: Júlio é o maior malandro, Leo distraído, Maria coincidentemente nunca está em casa na sua vez de lavar os pratos. Elsa é maior cri-cri e toda vez que tem visita pra jantar na vez dela lavar a louça ela argumenta que ficou em desvantagem, que trabalhou mais que os outros e quer descontar o trabalho extra na outra semana. No fim ninguém entra em acordo e é a senhoria que tem que decidir com mão de ferro quem vai lavar os pratos.
Pra resolver a este problema a senhoria teve uma ideia simples, porém genial: ela inventou de dar fichinhas coloridas a cada um dos estudantes (cada estudante com sua cor) e construiu um longo tubo transparente e indestrutível que ela chumbou ao chão da sala (tá bom, a ideia não era tão simples assim, mas vai seguindo o raciocínio).
Quando um estudante termina de lavar os pratos ele deposita uma fichinha no tubo pra ficar registrado que ele cumpriu com sua parte no revezamento. Pra evitar trapaças só é possível colocar uma fichinha no tubo se três dos quatro estudantes estiverem presentes, pois na tampa do tubo tem quatro cadeados onde cada estudante tem a chave para um deles.
Cada fichinha só pode ser colocada no tubo com o consentimento de pelo menos mais dois estudantes, que só permitem que isso aconteça depois de checarem que a pessoa realmente lavou os pratos e deixou a cozinha limpa. Como o tubo é inviolável e indestrutível, cada fichinha vale como registro eterno de que aquela louça foi lavada naquele dia. E basta uma olhadinha no tubo pra saber quem é o próximo a ter que lavar os pratos. É o tubo da verdade!
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Infelizmente, o sistema só funciona se todos forem honestos. Se dois dos estudantes resolverem agir de má fé e se recusarem a abrir seus cadeados pro cara que acabou de lavar os pratos, o sistema deixa de funcionar. Agora, esse risco seria diminuído se morassem nessa república 1000 estudantes em vez de 4, pois as chances de que 50% estivessem agindo de má fé cairiam consideravelmente.
Mas claro, um tubo com 1000 cadeados na sala seria impraticável. Onde a galera vai dormir no carnaval? E se a gente pudesse usar a tecnologia pra utilizar este mesmo princípio no mundo virtual?
Bom, essa tecnologia existe e se chama blockchain. O blockchain nada mais é que um grande arquivão, consultável e transparente como nosso tubo, onde a gente pode “empilhar” registros da mesma maneira que os estudantes de Floripa empilhavam fichinhas. A estes registros nós damos o nome de blocos. E à essa cadeia de blocos damos o nome de…. blockchain! Tchãrã!
Assim como acontecia com as fichinhas no tubo, uma vez um registro é adicionado ao blockchain ele não pode ser retirado nunca mais, passa a ser verdade eterna e absoluta! (claro que no Brasil eventualmente vai aparecer algum juiz querendo apagar registro de blockchain por ordem judicial, quem viver verá!)
Naturalmente isso aqui é uma simplificação e a realidade tecnológica do blockchain é muito mais complexa, envolve criptografia, resolução de problemas matemáticos complicados, redundância da cadeia, etc. Mas conceitualmente o funcionamento do blockchain é semelhante ao do nosso tubão, que, trabalhando na base do consenso permite aos estudantes eliminar a necessidade de se confiar às cegas uns nos outros ou de depender de uma autoridade central. Pense por exemplo na principal aplicação do blockchain hoje em dia, que é viabilizar a existência de criptomoedas como o Bitcoin. Nessas moedas, cada operação fica registrada no blockchain, eliminando assim a necessidade de uma instituição financeira central validando cada transação.
Bitcoins e moedas virtuais não são as únicas aplicações do blockchain. Sua natureza transparente e descentralizada, somadas à sua capacidade de prover informação irrefutável e irreversível permitem diversas aplicações como por exemplo gerenciamento de propriedade (pense se a escritura de sua casa ficasse registrada em uma blockchain?, ?seria o fim dos cartórios!), confirmação de identidade/documentos, validação de votos, enfim, qualquer lugar onde você precisa de um registro confiável de informações.
Blockchain, o maior legado do Bitcoin.
O sistema bancário atual não foi desenhado para o mundo digital. Embora os canais tenham sido em parte digitalizados, a forma como os registros das transações foram modelados é voltada para o mundo analógico. Os dados precisam estar super protegidos, em ambientes próprios e centralizados, que exigem altos investimentos e uma cara manutenção, além de estarem susceptíveis a ladrões e hackers.
E o Bitcoin tem se mostrado a solução para isso.
O Bitcoin é uma criptomoeda e um sistema de pagamento online baseado em protocolo de código aberto que é independente de qualquer autoridade central. Um bitcoin pode ser transferido por um computador ou smartphone sem recurso a uma instituição financeira intermediária. O conceito foi introduzido em 2008 num white paper publicado por um grupo ou alguém com o pseudônimo de Satoshi Nakamoto que o criou e o chamou de sistema eletrônico de pagamento peer to peer (p2p).
Uma Block chain ou blockchain é um livro-razão público de todas as transações bitcoin ou de criptomoedas, até então realizadas. Está constantemente crescendo à medida que novos blocos completos são adicionados a ela por um novo conjunto de registros. Os blocos são adicionados à blockchain de modo linear e cronológico. Cada nó conectado à rede bitcoin tem a tarefa de validar e repassar transações? ?obtém uma cópia da blockchain após o ingresso na rede bitcoin. A blockchain possui informação completa sobre endereços e saldos diretamente do bloco gênese primeiro bloco criado até o bloco mais recentemente concluído.
A blockchain é vista como a principal inovação tecnológica do bitcoin visto que é a prova de todas as transações da história da rede. Seu projeto original tem servido de inspiração para o surgimento de novas criptomoedas semelhantes ao bitcoin e de bancos de dados distribuídos e anônimos.
Realmente a tecnologia Blockchain mudará nossas vidas drasticamente.