O preço da Ether (ETH) voltou a cair nesta segunda-feira (15) e agora registra a maior desvalorização do Top 10 nos últimos sete dias. Neste período, a ETH perdeu quase 40% de seu valor e está muito perto de cair abaixo de US$ 1.000.
Naturalmente, a conjuntura de mercado afetou o preço da criptomoeda, mas também há outras questões. Entre elas estão um token lastreado na criptomoeda e a grande alavancagem de empresas, como o caso da Three Arrows Capital (conhecida como 3AC).
O token em questão chama-se staked Ether (stETH) e apresentou uma grande volatilidade nos últimos dias, por isso os investidores começaram a utilizá-lo como métrica para medir o estresse do mercado.
O problema é que muitas empresas começaram a vender este token, causando distorções no mercado. Foi o caso desde a Celsius até a 3AC e mesmo a Alameda Research, empresa criada pelo fundador da FTX Sam Bankman-Fried.
Sobre o stETH
O stETH é um token emitido pelo protocolo de finanças descentralizadas Lido Finance. Este token tem como objetivo fornecer liquidez aos investidores que deixam seus ETH presos na Beacon Chain.
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A rede, por sua vez, é parte da migração da ETH para o modelo de Prova de Participação (PoS).
De maneira geral, os investidores travam suas ETH na Beacon Chain por um período de tempo, para ajudar a validar as transações. Em troca, eles recebem recompensas pela validação, as quais são pagas em ETH.
Enquanto as ETH ficam travadas, os investidores não podem negociá-las diretamente. Portanto, eles podem pegar stETH na Lido como uma “representação” das ETH e, assim, continuar negociando.
Cada stETH deve, em tese, ser negociado a um valor próximo de um ETH. Dessa forma, o stETH funciona como um token embrulhado de ETH dentro do Lido.
Só que esta paridade entre os dois tokens começou a se perder nos últimos dias, de acordo com a Dune Analytics. Isso porque as vendas de stETH pressionaram o preço do token, que caiu em relação a ETH.
Na segunda-feira (13), antes da correção da ETH se intensificar, o disparou entre a ETH e o stETH atingiu 8%. Um recorde de diferença.
A especulação, segundo apontam os analistas, estaria na queda de preços. Conforme a ETH perde valor, os investidores que operam nas DeFi começam a tomar prejuízos. Mas quanto maior for a queda, maiores são as perdas.
No início, os prejuízos não são contabilizados, já que os investidores não liquidam suas posições. Mas se as quedas aumentam, eles são obrigados a vender stETH para financiar retiradas e atender às chamadas de margem.
Risco de concentração
Por causa de seu token, o Lido domina o ecossistema Ethereum. De acordo com dados, cerca de 33% de todos os depósitos de stETH estão no Lido. Essa concentração faz do protocolo um risco em vários sentidos.
Ainda em maio, o banco Goldman Sachs escreveu um alerta sobre esses riscos. Conforme explicou o banco, essa concentração de depósitos “pode teoricamente aumentar o risco sistêmico” devido à integração do Lido com o mercado.
Um desses riscos envolve justamente um protocolo que enfrentou problemas esta semana: o Celsius, que congelou seus saques esta semana. A medida despertou suspeitas a respeito da solvência da empresa e do protocolo.
O Celsius admitiu que, devido a “condições extremas de mercado”, detém 409.260 stETH. Na cotação atual, isso corresponde a R$ 2,2 bilhões. O total é confirmado pelo APE Board, um gerenciador de portfólio criado pela Nansen.
Johnny Louey e Andy Hoo, analistas do Huobi Research Institute, o braço de pesquisa da exchange Huobi, afirmam que o Celsius sofreu uma perda de quase US$ 71 milhões em outro protocolo, chamado Stakehound. O motivo foi uma falha grotesca de segurança: o Stakehound simplesmente perdeu as chaves das carteiras do Celsius.
Preocupados, os usuários do Celsius iniciaram uma rápida onda de saques que chegou a uma taxa de cerca de 50 mil ETH por semana. O protocolo imediatamente foi buscar liquidez e, ao mesmo tempo, bloqueou os saques.
“O que o Celsius pode fazer é vender seu stETH para comprar ETH no mercado e satisfazer as solicitações de clientes”, disse Noelle Acheson, chefe de insights da Genesis.
Risco 3AC
O stETH começou a se descolar do preço da ETH no mês passado, quando a rede Terra e sua stablecoin UST entraram em colapso.
Desde então, o preço do token sempre negociou abaixo do valor da ETH. Em circunstâncias normais, o desconto era de 2% a 3%, mas chegou a subir para 5% em 12 de maio, quando a UST perdeu sua paridade com o dólar.
Descolamento do stETH em relação à ETH. Fonte: CoinMarketCap (par stETH/ETH).
Até a terça-feira, o valor de mercado de Steth caiu 60% desde o início de maio. De US$ 10 bilhões, agora este valor é de apenas US$ 4 bilhões.
Nesse sentido, a 3AC, uma empresa de investimento com sede em Cingapura, retirou quase US$ 400 milhões em stETH e ETH do protocolo Curve em maio. A empresa também foi uma das maiores investidoras da blockchain Terra.
Três flechas capital, geralmente abreviadas como 3ac, “chamou a atenção da comunidade na cadeia nas últimas semanas com a forma como eles estão gerenciando sua posição Steth”, disse Thurman.
Dados de Nansen mostram que uma carteira cuja propriedade é atribuída à 3AC retirou 80 mil stETH do protocolo de empréstimo AAVE na terça-feira.
Em seguida, a carteira converteu 38.900 stETH (cerca de R$ 229 milhões) em duas transações a uma taxa de desconto de 5,6 a 5,9% frente a ETH.
Representantes do 3AC não comentaram sobre as retiradas, mas boatos apontam que a empresa também pode estar em dificuldades. E caso a 3AC continue a vender stETH, o movimento pode desencadear uma desvalorização ainda mais forte na ETH.
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