Há exatamente um ano, El Salvador se tornou o primeiro país do mundo a tornar o Bitcoin (BTC) moeda legal. O país, que já adotava o dólar, aprovou a Ley Bitcoin em julho de 2021, mas ela entrou em vigor no dia 7 de setembro daquele ano.
Desde então, o país ganhou destaque no mundo pela sua iniciativa e coragem. Ao mesmo tempo, enfrentou críticas de órgãos como o Fundo Monetário Internacional (FMI), que criticou a iniciativa. E também inspirou outros países, como a República Centro-Africana, que adotou o BTC como moeda em abril deste ano.
Mas o sonho do presidente Nayib Bukele, de olhos de laser, de os salvadorenhos comprando pupusas – um prato típico de El Salvador – com carteiras digitais parece não estar dando certo. Além dos atrasos em projetos como os Bitcoin Bonds, a adoção do BTC pelos salvadorenhos segue em ritmo lento.
Ley Bitcoin um ano depois
Na pior das hipóteses, o experimento nacional salvadorenho com o BTC está sendo chamado de fracasso total. Já na melhor das hipóteses, de acordo com o ex-chefe do banco central de El Salvador, Carlos Acevedo, “ninguém mais fala sobre BTC aqui. Está meio que esquecido”
Quando anunciou a Ley Bitcoin, o governo de Bukele também criou iniciativas para popularizar o uso do BTC. Nesse sentido, a principal delas foi criar a Chivo, a carteira “oficial” de BTC do governo, que permite aos cidadãos gastarem tanto BTC quanto dólar – que também é moeda legal no país.
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Nesse sentido, o governo salvadorenho distribuiu US$ 30 (R$ 151) em BTC através da Chivo para cada cidadão que fizesse o download da carteira. Ao mesmo tempo, o governo gastou mais de US$ 100 milhões em fundos públicos para comprar BTC e compor suas reservas.
Pouco tempo depois, Bukele anunciou sua intenção de captar US$ 1 bilhão em títulos de dívida lastreados em BTC, os famosos Bitcoin Bonds. Metade desse dinheiro iria para a compra direta de BTC, enquanto a outra metade financiaria a construção da Bitcoin City.
Contudo, a queda do preço do BTC desde o início do ano fez o valor de seu investimento cair mais da metade. No início de 2022, vários analistas especularam até se El Salvador poderia dar um calote em sua dívida por causa desse prejuízo, possibilidade que o governo negou veementemente.
A suspeita veio porque a dívida nacional do país aumentou. E os banqueiros globais que poderiam ajudar El Salvador não o fizeram. O Fundo Monetário Internacional negou no pedido do país de um empréstimo de US$ 1,3 bilhão, utilizando o risco do investimento em BTC como justificativa.
Qual era o objetivo disso, afinal?
El Salvador gastou uma grande parte do seu dinheiro com o bônus de US$ 30 em BTC dado a todos os cidadãos que baixaram o aplicativo da Chivo. Mas de acordo com uma pesquisa do Bureau Nacional de Pesquisa Econômica dos EUA, os resultados não foram positivos:
- Mais da 50% dos lares salvadorenhos baixou o aplicativo desde então, a maioria no primeiro mês depois da aprovação da Lei Bitcoin;
- Contudo, 20% não gastaram seu bônus. Outros 60% gastaram os fundos doados, mas nunca mais fizeram outra transação usando o aplicativo.
O pequeno grupo de salvadorenhos que usa ativamente o Chivo é predominantemente jovem, educado e “bancarizado”, o que significa que eles têm contas bancárias tradicionais.
Não é exatamente o público-alvo de Bukele: durante seus discursos, o presidente disse que fazer do BTC uma moeda legal ajudaria os salvadorenhos “sem banco” (cerca de 70% das famílias) a obter acesso à segurança do banco digital sem ter que abrir uma conta bancária tradicional.
Além disso, a carteira foi lançada com uma série de falhas e problemas de uso, muitos dos quais permitiram até a clonagem de dados dos cidadãos. Isso rendeu muitas críticas ao governo por causa do seu amadorismo.
Hoje, o principal ecossistema de BTC do país ainda é a Bitcoin Beach, localizada em El Zonte. Lá a adoção segue um ritmo mais orgânico e educacional, focado em beneficiar a comunidade. A Lei Bitcoin contribuiu para aumentar o interesse pelo ecossistema, que tem recebido cada vez mais turistas.
Em suma, um ano após a adoção do BTC como moeda, El Salvador ainda enfrenta muitos desafios para consolidar uma adoção plena. Por outro lado, o país realizou avanços que podem contribuir para pavimentar uma maior adoção nos próximos anos.
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