A crise de confiança no modelo tradicional de organizações e instituições centralizadas
Com o advento da digitalização da sociedade e da Economia da Web [1], apesar do comércio online e dos pagamentos eletrônicos quase que exclusivamente com a intermediação de instituições financeiras, surgiu a demanda por “dinheiro digital”.
E aqui, não estamos falando de moedas eletrônicas (que são representação de moedas fiat, emitidas por um Banco Central) ou do uso do cartão de crédito na loja online, mas sim daquele “ativo digital” que traz segurança, privacidade, transparência (das transações) e velocidade às transações na internet [2].
Paralelamente ao nascimento das criptomoedas e dos novos modelos de negócio da economia compartilhada que transformaram a “reputação” dos indivíduos em um atributo útil e gerenciável, uma crise de confiança se instalou nos validadores de confiança tradicionais.
Os inúmeros escândalos envolvendo governos, instituições financeiras e grandes corporações motivou a sociedade à buscar soluções para os inúmeros problemas ocasionados pelo padrão centralizado de transferência de dados e transações comerciais. Para quem quiser entender melhor essa crise de confiança, sugiro assistir ao documentário norte-americano “Na rota do dinheiro sujo” que mostra esquemas de corrupção nas corporações estadunidenses.
Nos últimos 20 anos, a economia se afastou progressivamente do modelo tradicional de organizações e instituições centralizadas, onde grandes operadores, muitas vezes com uma posição dominante, eram responsáveis por prestar serviço a um grupo de consumidores passivos [3].
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À medida em que a participação de intermediários para garantir transações entre indivíduos deixou de atender as necessidades de um mundo globalizado e interconectado, era questão de tempo até que a inteligência humana elaborasse alguma solução para atender aos novos desejos sociais.
Blockchain e seu papel de gatekeeper
É neste contexto que a arquitetura blockchain, que há poucos anos parecia indelevelmente ligada às criptomoedas como o Bitcoin, surge para assumir um novo papel: o de facilitador (para o alcance dos novos “valores” sociais como segurança, privacidade, transparência e velocidade) e de gatekeeper (guardião, em português) na “Era da Confiança” [4].
Ao permitir a execução de aplicativos de maneira segura, garantindo a interação direta entre desconhecidos, ou individuos que não confiam entre si, em uma rede distribuída e sem a necessidade de um intermediário ou validador de confiança, as infraestruturas blockchain eliminam incertezas e introduzem uma nova maneira de conferir confiança às interações humanas.
In Blockchain we trust
A expressão In Blockchain we trust, muito utilizada ultimamente e que significa na blockchain nós confiamos, tem sua razão de ser porque nela, as transações entre indivíduos e a transfêrencia de valores é garantida por meio de algoritmos, isto é, pela matemática e pela criptografia.
Ora, há aqui um empoderamento das pessoas. Essa mudança na titularidade de quem confere confiança às relações negociais retira parcela de poder antes destinada aos intermediários e validadores de confiança, transferindo-a às pessoas que efetivamente participam de determinada transação.
Neste quadro, como novo guardião da confiança, é que blockchain tem o potencial de reinventar todas as categorias de mercados (monetários, pagamentos, serviços financeiros), possibilitar a reconfiguração de inúmeras indústrias e, apesar da descrença dos mais céticos, impactar todas as áreas do conhecimento humano [5].
Referências
[1] Revoredo, Tatiana. In: A digitalização da sociedade: economia da web no Brasil. Jota, 2017.
[2] Revoredo, Tatiana. In: Reflexões sobre regulação de novas tecnologias. Jota, 2018.
[3] De Filippi, Primavera. In: “What Blockchain Means for the Sharing Economy”, Harvard Business Review, 2017.
[4] Eric Piscini, Gys Hyman, Wendy Henry. In: Blockchain: Trust economy–Tech Trends, DELOITTE Insights, 2017.
[5] Swan, Melanie. In: Blockchain – Blueprint for a new economy. O´Reilly Media, 2015.
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